Apuração prossegue
Investigação de CPI apura como grupo cultural usou empresas de terceiros para burlar Lei Rouanet
O músico Fábio Conchal Rabello, proprietário da empresa Rabello Entretenimentos, e o empresário Fábio Luiz Ralston Salles, dono da Pacatu, Cultura, Educação e Aviação Ltda, confirmaram ter trabalhado com o Grupo Bellini Cultural durante depoimento nesta terça-feira (14) na CPI da Lei Rouanet. Ambos se disseram amigos de longa data dos proprietários do Grupo e foram presos durante a operação Boca Livre, desencadeada pela Polícia Federal para investigar desvio de recursos da Lei Rouanet, e praticamente cederam o CNPJ da empresa para que fossem administrados por pessoas ligadas ao mesmo grupo.
“Está claro que o grupo Bellini se utilizou de diferentes empresas para captar e produzir vários projetos culturais com recursos obtidos através da Lei Rouanet”, avaliou o deputado Izalci Lucas (DF). Primeiro a depor, Fábio relatou que em 2015 foi convidado por Bruno Amorim (filho de Antonio Bellini) para montar uma empresa que facilitaria a captação de recursos de seus próprios projetos. “Quem gerenciava era o Bruno junto com a equipe dele na Bellini”, disse Rabello. Explicou ainda que assinava cheques em branco para a Bellini, que seriam repassados para fornecedores ou pagamento de qualquer serviço.
Ele relata que aprovou dois projetos – o “Celebração Musical”, em abril de 2015, com captação de R$ 536 mil. “Foi um show musical no Teatro Net, com a Orquestra Villas-Lobo, sob regência de Adriano Macedo, que trouxe entre 14 a 18 músicos numa apresentação para 650 crianças, muitas delas, cadeirantes”, relatou Rabello. Na época o cachê para a produção musical foi de R$ 12 mil.
No processo, ao qual o deputado Izalci teve acesso, outro projeto – “Música para Todos”, captou quase R$ 1,4 milhão com apresentação previstas em São Paulo, Florianópolis e Itabira (MG). Embora tenha sido proposto pela Rabello Entretenimentos, tem Kátia Piauy como responsável técnica e entre os principais patrocinadores estão as empresas Roldão, Cristália e Notre Dame Intermédica. Fábio Rabello disse desconhecer esses valores, além de alegar nunca ter participado de apresentações em Florianópolis ou em Itabira.
O relator da CPI, deputado Domingos Sávio (MG), disse que a comissão vai rastrear quem se envolveu no evento “Celebração Musical”, considerando a incoerência dos números. “Você assinou recibo em branco? ”, questionou Domingos Sávio. Diante da resposta positiva de Rabello, ele o alertou sobre o risco de estar envolvido com um grupo processado por desvio de recursos. Outro dado conflitante é o pagamento de comissão financeira, o equivalente a 3% sobre o valor do projeto, o que Fábio Rabello nega. “Só recebi o pagamento pelo trabalho de direção musical”, reiterou.
O empresário Fábio Luiz Ralston Salles, autônomo, captador de recursos, depôs na CPI, mesmo protegido por um habeas corpus preventivo. Ele disse conhecer Antonio Bellini há mais de 30 anos. Segundo ele, entre 2002 e 2012 conseguiu financiar dois projetos: um livro na Caixa Econômica Federal e um show patrocinado pela Dow Química. “O percentual legal repassado ao captador é de 10%”, disse ele.
Fábio Luiz se disse surpreso e envergonhado de ter sido preso e estar prestando depoimento na Câmara. Segundo ele, em 2012 Antonio Bellini propôs usar a Pacatu Cultura como proponente de projetos culturais, recebendo 2% de comissão sobre o valor do projeto. “Ele usaria toda a estrutura administrativo-financeira do grupo Bellini e eu não teria preocupação”, disse Fábio Ralston. A empresa de Ralston apresentou 11 projetos de captação, dos quais oito conseguiram captar recursos. “Confiei, pois não acompanhava os projetos”, admitiu.
REQUERIMENTOS APROVADOS
A CPI aprovou mais cinco requerimentos de convite e de convocação para depoimento na comissão, todos de autoria do deputado Domingos Sávio. Entre os convidados estão os maestros Solielson Goethe e João Carlos Martins. Mesmo tendo sido citados em projetos arquivados pelo proponente, o relator da CPI quer ouvi-los sobre o projeto “Orquestra Filarmônica de São Paulo em turnê”, proposto pela empresa Rannavi Projeto Cultural Ltda. Ela teve aprovados R$ 5,4 milhões para a execução do projeto cultural.
A Rannavi Projeto Cultural Ltda também teve aprovada a captação de quase R$ 20 milhões para o projeto “ João Carlos Martins In Concert”, com o maestro João Carlos Martins regendo a Orquestra Bachiana Filarmônica. Seriam 17 apresentações em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Porto Alegre, Salvador, Curitiba e Fortaleza, com a participação de orquestras e maestros locais atuando como convidados.
Também foi aprovado o convite para Claúdio Júnior, administrador da empresa LS Music Produções Artísticas Ltda que organizaria 15 shows do artista Luan Santana. Valor autorizado: R$ 4,2 milhões. Em outubro do ano passado, a empresa também teve a prestação de contas do projeto de shows da cantora Claudia Leitte rejeitada.
(reportagem: Ana Maria Mejia/foto: Alexssandro Loyola)
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