Política: representação social e centro decisório, por Marcus Pestana
Vivemos um evidente esgotamento do atual modelo de organização do sistema político brasileiro. Isso não é um fenômeno novo. Quando era do Conselho de Administração dos Correios, no final da década de 90, anualmente tinha acesso à pesquisa nacional que media a credibilidade das instituições brasileiras. Era uma lista de 40 instituições. Em primeiro lugar, disparados na frente, vinham os próprios Correios (na era pré-mensalão) e o Corpo de Bombeiros. Logo após, as igrejas, o Poder Judiciário, a imprensa etc. Nos dois últimos lugares, sempre, Congresso Nacional e partidos políticos.
Esse distanciamento crescente entre a sociedade e sua representação política não é também característica peculiar brasileira. Em todo o mundo, a democracia moderna, em seu formato clássico, encontra dificuldades de canalizar as expectativas dos mais variados segmentos sociais e de vocalizar a diversidade presente no tecido social contemporâneo.
Mas, em nosso caso, o problema ganha contornos dramáticos. Há muito o Brasil precisa acelerar suas reformas e se alinhar ao mundo contemporâneo. Construímos ao longo dos anos um verdadeiro imbróglio fiscal. Não reformamos a Previdência. Não flexibilizamos o mercado de trabalho diante de uma economia dinâmica. Cristalizamos um sistema tributário anacrônico, irracional e injusto. Descuidamos do que era essencial: a revolução educacional e o desenvolvimento tecnológico. Começamos a comer poeira de países como Coreia do Sul, Taiwan, Singapura e China. Até na América Latina assistimos a Chile, Peru e Colômbia modernizarem antes suas instituições.
O Brasil tem pressa. E as respostas só poderão emergir de nosso problemático sistema político: caro, distante da população, pulverizado partidariamente, inconsistente ideologicamente e acuado pela Lava Jato. É preciso superar os traumas do impeachment e as fragilidades do governo, aparar arestas, apaziguar os espíritos e tomar as decisões inadiáveis para que o Brasil não perca definitivamente o “bonde da história”.
No recesso, diante de realidade tão conturbada, fui a São João del Rei buscar inspiração no velho mestre Tancredo, visitando seu memorial e seu túmulo. Na crise de 1963, ele disse: “Que os ódios se retraiam, que as ambições se refreiem, para que possamos ter a mente tranquila e o pensamento limpo para buscar aquelas soluções que dizem respeito aos fundamentais interesses da pátria”. “Pátria”, esta palavra tão esquecida em nossos tempos. Em 1985, já eleito presidente, afirmou: “Venho em nome da conciliação. Não podemos, neste fim de século e de milênio, quando, crescendo em seu poder, o homem cresce em suas ambições e em suas angústias, permanecer divididos dentro de nossas fronteiras”.
Que o espírito de Minas, tão bem encarnado por Tancredo e também tão ausente hoje em dia, pavimente nossa capacidade de negociar e criar consensos em torno da agenda de retomada do desenvolvimento.
*Artigo publicado no jornal O Tempo em 16 de janeiro de 2017.
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