Reta final
Para tucanos, desfecho do processo de impeachment será o esperado pelos brasileiros: a saída de Dilma
O PT amarga o pior desgaste de sua história e cada vez mais parece estar consciente de que não é mais possível salvar o mandato de Dilma. Deputados tucanos avaliam que o partido e a presidente afastada sabem que o processo de impeachment será concluído com a saída definitiva dela do cargo e preveem um jogo de empurra sobre as responsabilidades quanto aos crimes que culminaram com o impedimento.
Levantamento publicado pelo “Correio Braziliense” nesta segunda-feira com os 81 senadores aponta uma perspectiva sombria para a afilhada política de Lula. Dos 57 parlamentares que declararam o voto, 39 se posicionaram pelo afastamento definitivo de Dilma e apenas 18 contrários. Para o impeachment ser aprovado, são necessários 54 votos. Dos 17 que não externaram como pretendem votar, 11 declararam o “sim” durante a primeira votação no Senado, em maio, e três não votaram. Dois senadores não foram localizados pelo jornal.
O deputado Pedro Cunha Lima (PB) afirma que o Brasil assiste apreensivo aos últimos capítulos de uma história que envergonha a nação, mas que também servirá como lição. “Haverá o afastamento definitivo por todos os desvios, desmandos e corrupção. A partir de agora é preciso que o país saia fortalecido para que outros governos peguem esse episódio como exemplo para mudar a forma de lidar com a coisa pública”, avalia.
A cúpula petista parece estar mais preocupada em ter uma sobrevida para 2018 do que em salvar Dilma. Recentemente Lula fez críticas à presidente afastada, que por sua vez, já alegou que cabe ao PT, e não a ela, explicar as denúncias de caixa dois em sua campanha.
“Eles se merecem. Possuem o mesmo estilo e vão terminar com esse trágico desfecho de jogar responsabilidades, já que ninguém tem a capacidade de assumi-las. É muito vergonhoso tudo o que o PT fez, mas todos que fazem parte do partido têm suas responsabilidades. O que queremos é enterrar essa etapa da nossa política”, aponta Cunha Lima.
Para o deputado Elizeu Dionizio (MS), não há mais o que se fazer. Ele destaca que, historicamente, o PT tem abandonado seus “companheiros” e fará o mesmo com Dilma. “Ela vai sentir na pele o que é ser traída, porque até agora só ela fez isso: traiu os brasileiros, os eleitores que confiaram nela, os partidos que se coligaram a favor da eleição dela. Agora provará do próprio veneno”, resumiu.
CANTILENA DO GOLPE
Os deputados avaliam que nem mesmo a defesa de Dilma consegue achar argumentos a favor dela. Na defesa final feita na comissão especial do Senado, feita pelo advogado da presidente afastada, ex-ministro José Eduardo Cardozo, ele cita a palavra “golpe” 89 vezes, repetindo a mesma cantilena de sempre. Segundo sustenta, as acusações contra Dilma são “meros pretextos retóricos” para tirá-la da Presidência, pois não há crime de responsabilidade nas “pedaladas fiscais”.
“A verdade é que já entenderam que todas as artimanhas que usaram não conseguiram mascarar a decepção e tristeza dos brasileiros. Esse impeachment é muito importante, mas é a ponta do iceberg. Muito mais ainda vai aparecer. Muitos ainda irão para a cadeia, especialmente os que estavam na cúpula do poder com o PT”, aponta Dionizio.
CALENDÁRIO
O julgamento final do processo de impeachment deve começar em 29 de agosto , com duração de cerca de uma semana, segundo a assessoria de imprensa do Supremo Tribunal Federal. Em nota divulgada no fim de semana, o STF afirmou que a data do início do julgamento foi acordada entre o presidente da Corte, Ricardo Lewandowski, e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). As datas das próximas etapas do processo são estimativas feitas pelos técnicos do órgão máximo do Poder Judiciário e do Senado.
Nesta terça-feira (2), o relator do processo de impeachment de Dilma na comissão especial do Senado, Antônio Anastasia (MG), apresentará seu parecer final, que será discutido no dia seguinte e votado na quinta (4). Se aprovado, o relatório será votado pelo plenário em 9 de agosto. Para que o processo prossiga, é preciso que 41 dos 81 senadores, votem a favor do parecer do tucano.
Em seguida, a acusação tem 48 horas para apresentar documento com um resumo dos argumentos em prol da condenação de Dilma (libelo acusatório) e o rol de testemunhas que participarão da fase final do processo. Depois, a defesa também tem dois dias para apresentar seus argumentos e suas testemunhas. Pela lei, Lewandowski deve esperar dez dias para marcar a data do julgamento final do caso.
(Reportagem: Djan Moreno/fotos: Alexssandro Loyola)
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