Isso sim é golpe!
Lula admite culpa ao fugir da Lava Jato com nomeação para Casa Civil, avaliam deputados
A nomeação do ex-presidente Lula como ministro da Casa Civil repercutiu rapidamente no Congresso. Enquanto deputados petistas defenderam seu líder, que corre o risco de ser preso por conta da Operação Lava Jato, parlamentares do PSDB rechaçaram o que consideram uma clara tentativa de fugir da Justiça. Para os tucanos, a atitude representa confissão de culpa e tentativa de blindagem diante de investigações que podem levar o petista à cadeia. Ministros de Estado têm foro privilegiado e, portanto, não são investigados pela Justiça comum. É o Supremo Tribunal Federal que investiga e faz julgamentos.
O ex-presidente é alvo de investigações da Lava Jato e teve um pedido de prisão preventiva expedido pelo Ministério Público de São Paulo. Na última semana, promotores apresentaram denúncia contra Lula pelos crimes de lavagem de dinheiro e falsidade ideológica. Segundo o MP, a prisão de Lula seria necessária para impedir que o ex-presidente destruísse provas e agisse para evitar determinações judiciais. A decisão agora está nas mãos do juiz Sérgio Moro.
Para o líder do PSDB na Câmara, Antonio Imbassahy (BA), a nomeação é um tapa na cara da sociedade, que foi às ruas no último domingo pedir o fim do governo Dilma. “Em vez de se explicar e assumir a responsabilidade, o ex-presidente Lula preferiu fugir pela porta do fundo. Vai assumir um ministério para garantir foro privilegiado e escapar do juiz Sérgio Moro. É uma confissão de culpa e um tapa na cara da sociedade. A presidente Dilma, ao convidá-lo, torna-se cúmplice dele”, afirmou.
Antes mesmo da nomeação, líderes da Oposição na Câmara anunciaram, na terça-feira (15), ação popular em desfavor da presidente Dilma para impedir que Lula assuma o cargo. Com apoio de mais de 40 movimentos sociais, os parlamentares levarão a ação aos 26 estados brasileiros e ao Distrito Federal. Se o pedido for acolhido, Dilma responderá por crime de desobediência caso insista na estratégia de abrigar Lula na Esplanada. Os líderes alegam que a nomeação de Lula significa desvio de finalidade e fraude à lei.
O deputado Domingos Sávio (MG) considerou a nomeação de Lula para a Casa Civil um “verdadeiro deboche” e “uma agressão ao povo brasileiro”. O tucano lembrou que, como se fosse uma profecia, Lula afirmou em 1988 que “no Brasil pobre quando rouba vai preso, rico quando rouba vira ministro”. “É o que acaba de acontecer”, destacou Sávio. “Lula quer ser investigado pelo Supremo. Mas a justiça tem que ser para todos. O homem do tríplex, do sítio, do conluio com as empreiteiras pede refúgio no Planalto, o covil da quadrilha. O país não vai se curvar a isso e nós confiamos no Supremo”, destacou o deputado mineiro.
“É uma confissão de culpa!”, apontou o deputado Rocha (AC). “É um ato covarde. Ele tenta livrar a própria pele e deixa a família entregue ao juiz Sérgio Moro, que tomará as medidas previstas em lei”, alertou o tucano, em plenário, ao lembrar que além de Lula, esposa e filhos também estão sendo investigados. “O PT é uma fábrica de crises e hoje naufraga no mar de lama que criou. Já a presidente Dilma não cansa de armar presepadas”, condenou Rocha.
“A população se sente envergonhada diante de tamanho disparate. Essa situação é inadmissível. Em um país sério não se pode permitir que um cidadão comum se torne ministro apenas para fugir de suas responsabilidades, sejam elas criminais, sejam civis”, apontou o deputado Alexandre Baldy (GO).
A deputada Geovânia de Sá (SC) lembrou que as manifestações do dia 13 de março levaram mais de seis milhões de pessoas às ruas, indignadas com os malfeitos do governo. A resposta aos protestos, segunda a tucana, foi dada nesta quarta-feira pela presidente, de maneira contrária ao que foi cobrado pela sociedade. “Esse governo mais parece um Big Brother, onde a presidente ‘deu o anjo’ ao Lula para imuniza-lo, ‘livra-lo do paredão’. O sentimento em relação a isso é de vergonha e indignação”, lamentou. A tucana pediu que a presidente deixe definitivamente o cargo e pare de envergonhar as mulheres brasileiras.
“Isso sim é golpe!”, declarou Caio Narcio (MG). De acordo com o tucano, Lula assume não apenas o cargo, mas a confissão de culpa por seus erros. “Ele está tentando fugir das investigações do Sérgio Moro e, com isso, o Brasil ganha um novo presidente da República, um ministro que vai atuar como tal, fazendo com que a presidente Dilma lhe dê superpoderes para governar por ela. Parece que não entenderam nada do que as ruas disseram no domingo”, apontou o deputado.
O deputado Lobbe Neto (SP) afirmou que a Lava Jato subiu a rampa do Planalto duas vezes em apenas dois dias, primeiro com o ministro Aloizio Mercadante (Educação), apontado pelo senador Delcídio do Amaral como articulador da presidente na tentativa de barrar as investigações. “E agora com Lula, que terá um terceiro mandato, e sem votos. Onde estamos, na Venezuela ou na Bolívia? A presidente passa a ter um primeiro-ministro, que está sendo investigado e dizendo que vai estabilizar o a país, sendo que a nação se desestabilizou em sua gestão”.
Em seu Twitter, o deputado Betinho Gomes (PE) avaliou que a nomeação de Lula para a Casa Civil representa a renúncia branca de Dilma. “Passou a ser uma presidente laranja ou rainha da Inglaterra”, disse. Ainda no microblog, o deputado Samuel Moreira (SP) disse que Lula conseguiu o seu terceiro mandato, recebendo mais um presente. “Agora não é sítio e nem tríplex, é ‘casa’ mesmo”.
O deputado Luiz Carlos Hauly (PR) avalia que, definitivamente, Lula leva para o Planalto a crise ética. O tucano rechaçou a explicação dos governistas de que o ex-presidente assume a Casa Civil para ajudar a reorganizar o país. Segundo ele, se Lula quisesse “salvar” o país teria ido compor a equipe da Dilma em 2014, e não agora, quando faz isso apenas para salvar sua pele. “Ele poderia declinar do convite e encarar as consequências das investigações, mas levou lá para dentro a crise. Quem ama o Brasil não pode aceitar essa desfaçatez e desonra dos poderes”, criticou.
O secretário-geral do PSDB, Silvio Torres (SP), afirmou que o sentimento que toma a nação é a vergonha. “Esse é o primeiro sentimento: vergonha de ver as instituições brasileiras serem submetidas a uma tentativa de desmoralização, por todos os meios, sem exceção. É um escárnio. É o chefe da quadril
ha voltando ao local do crime. A população está envergonhada, assim como nós”, apontou.
O deputado Rodrigo de Castro (MG) também criticou a nomeação de Lula, oficializada na tarde desta quarta-feira. “Quando pensamos que o PT chegou ao fundo do poço, nos surpreendemos. Isso tudo mostra uma desconexão do PT e da presidente Dilma com a realidade. Mostra ainda que ela virou as costas para o povo brasileiro. Mas, uma coisa temos que reconhecer: eles mantiveram o padrão da Casa Civil, que já teve o José Dirceu e agora o Lula”.
Na avaliação do deputado João Gualberto (BA), o ex-presidente assume o ministério para se livrar da prisão. “Com foro privilegiado ele talvez não vá para o Parará”, discursou o parlamentar. Ele reitera que a principal motivação de Lula é salvar o governo do PT e o próprio projeto de poder iniciado em 2003, a qualquer custo. “Vai usar o fundo soberano para adotar medidas populistas e principalmente pressionar o Judiciário para barrar a sequência da operação Lava Jato”, alertou.
(Reportagem: Djan Moreno/ Áudio: Hélio Ricardo)
Deixe uma resposta