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Revelações envolvendo marqueteiro comprometem cada vez mais campanha de Dilma
As investigações em curso aproximam cada vez mais a campanha petista do esquema de propina da Petrobras. Apesar de o Planalto e a defesa do marqueteiro João Santana negarem a relação, a força-tarefa responsável pela Lava Jato pensa diferente e apura se o operador Zwi Skornicki, preso nesta semana, depositou US$ 4,5 milhões na conta de Santana na Suíça a pedido do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto. Além disso, nesta sexta-feira (26) veio à tona a informação de que Santava recebeu R$ 4 milhões da Odebrecht durante a campanha presidencial de 2014. Na ocasião, o marqueteiro respondia pela campanha de Dilma. A empreiteira é investigada no escândalo do petrolão.
O 1º vice-líder do PSDB na Câmara, deputado Daniel Coelho (PE), afirmou que a alegação de Santana de que não recebeu dinheiro do petrolão não vem mostrando respaldo nos fatos. Assim como o operador Zwi, o marqueteiro também foi preso nesta semana pela Lava Jato. Ele negou ontem, ao depor, que o dinheiro recebido em uma conta na Suíça tenha relação com campanhas políticas no Brasil. A PF pediu hoje a prorrogação dessa prisão temporária.
Destacados nesta sexta-feira (26) no site da revista “Época”, os documentos obtidos pela PF revelam que a Odebrecht pagou os R$ 4 milhões para o marqueteiro entre outubro e novembro de 2014 no Brasil. Santana e sua esposa, Mônica Moura, que também está presa, admitem apenas que receberam dinheiro de caixa dois no exterior, em campanhas eleitorais na Venezuela e Angola, mas não admitiram nenhuma transação no Brasil. Santana afirma não saber a origem de US$ 7,5 milhões depositados fora do país.
Para Daniel Coelho, as evidências são tantas que até mesmo a defesa apresentada por Santana já admite caixa dois. Curiosamente, o marqueteiro chegou a dizer à PF que fez trabalhos para o PT de graça porque isso lhe dava prazer. “Essa estratégia de admitir o caixa dois, mas dizer que não foi da campanha de Dilma, já demonstra, inclusive, o desespero na defesa do João Santana. Ele não consegue negar o caixa dois porque tem dinheiro no exterior de forma irregular. Todos os elementos se fecham”, avalia.
O 1º vice-líder afirma que as provas contra Santana reforçam a ação contra a chapa de Dilma e Temer em curso no TSE, pois reúnem ainda mais elementos comprobatórios de que a campanha petista foi alimentada com recursos de origem ilícita, o que poderá resultar na cassação de ambos. O PSDB pediu, na terça-feira, ao TSE para anexar provas da Operação Acarajé – que resultou na prisão de Santana e Mônica Moura – à ação do partido contra a chapa encabeçada pelo Partido dos Trabalhadores.
“Isso só fortalece. O marqueteiro é a maior despesa da campanha. Ele pode negar, é um direito que tem, mas a investigação que está sendo feita apresentou muitos elementos, tanto é que ele está preso”, aponta Daniel.
No dia em que a prisão do casal foi decretada, o líder tucano na Câmara, deputado Antonio Imbassahy (BA), afirmou que a Operação Acarajé apontava a conexão entre o dinheiro sujo do petrolão e a campanha presidencial de Dilma em 2014. Da tribuna, cobrou explicações da chefe do Executivo.
Para os procuradores da Lava Jato, os US$ 4,5 milhões depositados por Zwi Skornicki na conta de Santana na Suíça teria saído da plataforma P-52 da estatal ou de sondas do pré-sal contratadas do estaleiro Keppel Fels, representado pelo operador.
Em sua conta no Twitter, o deputado Otavio Leite (RJ) compartilhou arte elaborada pelo jornal “O Globo” que demonstra o caminho da propina e alertou para as contradições do depoimento de Santana com a realidade já demonstrada pelos investigadores. “As mentiras contadas por anos vão caindo por terra”, disse, ao lembrar que no dia 13 de março o país será tomado por manifestações contra a presidente Dilma.
PANAMÁ TAMBÉM INVESTIGA
Como destacou Imbassahy no Facebook, com a prisão do marqueteiro, agora é a vez do Panamá em pedir investigação. O advogado e embaixador na OEA (Organização dos Estados Americanos), Guilhermo Cochez, pediu que a Justiça Eleitoral e as autoridades fazendárias daquele país investiguem quem pagou João Santana, que fez campanha lá em 2014. “O Panamá também é a sede da empresa de João Santana, em cuja conta a Lava Jato encontrou US$ 7,5 milhões (R$ 30 milhões, em valores desta segunda) provenientes do petrolão”, apontou o tucano.
(Reportagem: Djan Moreno/ foto: Alexssandro Loyola)
Está difícil tapar o sol com peneira