Nas sombras do amanhã, por Paulo Abi-Ackel
O fato de Michel Temer pertencer ao PMDB do presidente do Senado, Renan Calheiros, e do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, não é suficiente para o êxito de sua missão pacificadora. Sua presença nas articulações políticas com os presidentes das Casas do Congresso, indispostos com a chefe do Executivo, é só um primeiro passo e introduz entre eles o tom de amenidade que falta à Presidente da República. Pode até resultar em razoável harmonia entre os dois Poderes, sem prejuízo da independência já assumida pelo Legislativo.
A questão está no apoio às medidas mais restritivas do ajuste fiscal proposto pelo Ministro da Fazenda Joaquim Levy. O Vice Presidente busca neutralizar os ânimos dos Presidentes do Legislativo de modo a encaminhar a recuperação da autoridade da Presidente da República, mas estes estão mais atentos às pesquisas de opinião do que aos interesses da Presidente.
Além da condenação popular do governo, exibida nas pesquisas, o ajuste é a princípio amargo para a população, pois acentuará desequilíbrios nos orçamentos domésticos e como qualquer plano de enxugamento de despesas não permitirá ao governo facilidades e concessões. Em suma o PMDB, na pessoa de seu mais alto representante, assumiu o encargo da condução política ciente de que aceitar o ajuste tal como concebido importará em arrostar a carga de impopularidade que cabe à Presidente Dilma Roussef e que amenizá-lo pode torná-lo inoperante, com a responsabilidade de impedi-lo. As dificuldades tornam-se mais claras quando se verifica que o PMDB não tem força parlamentar para conduzir o acordo sem o concurso de outras legendas e é nesta conquista das adesões que enfim reside a parte mais espinhosa da missão do Vice Presidente.
Ainda que disposto o Parlamento, pela ação suasória de Michel Temer, a colaborar no que lhe for possível para corrigir os danos causados à economia, não estão visíveis nem a aprovação de medidas contrarias aos direitos de trabalhadores e aposentados, nem o desvanecimento dos conflitos existentes nas relações dos Presidentes do Congresso com a Presidente Dilma.
Enquanto se criam expectativas e indagações, a economia continua em declínio e ao seu agravamento natural soma-se a eventualidade da perda do grau de investimento, ainda no radar das agências internacionais de avaliação de risco. Estas circunstâncias exigem rumos destinados a conjurar a crise. Não há atalhos nem tempo para tergiversações.
O número de participantes nas manifestações de 12 de abril foi em muito inferior ao de 15 de março, mas é ainda assim inquestionável que há inquietação no país e que o acréscimo de quaisquer ônus aos tropeços criados no primeiro mandato da Presidente pode aquecer ainda mais os ressentimentos com o governo.
Setores do PT alimentam a esperança de que no final deste período de restrições, quando afinal brotarem os frutos do ajuste fiscal, terá ainda a Presidente Dilma um período de benevolências. Na visão de economistas e empresários espera-se o contrário: a arrumação das contas do governo e a superação da saúde da economia serão bem mais longos do que supõem os desejos petistas.
A reação do governo resumiu-se na exposição midiática da Presidente Dilma, mas nem viagens, entrevistas, declarações, comparecimento a solenidades públicas alteraram os índices de rejeição ao governo. Se a Presidente Dilma estivesse a caminho do final de seu mandato haveria paciência para aguardá-lo com tolerância. Mas Dilma Roussef tem pela frente quase todo um quatriênio de exercício, sem dúvida povoado de todos os tipos de inquietação.
(*) Paulo Abi-Ackel é deputado federal pelo PSDB-MG.
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