A verdade vai aparecer
Tucanos criticam depoimento de Vaccari e defendem acareação de petista com Pedro Barusco
Deputados do PSDB repudiaram o depoimento do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, na CPI da Petrobras e defenderam uma acareação entre ele e o ex-gerente de Serviços da Petrobras Pedro Barusco. O petista depôs no colegiado nesta quinta-feira (9). Como previsto, negou que tenha recebido propina de contratos da estatal e afirmou que todas as doações para o seu partido foram legais. Os parlamentares do PSDB consideraram as declarações de Vaccari mentirosas e, para comprovar que o tesoureiro faltou com a verdade, sugeriram a acareação.
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Vaccari é réu em processo resultante de denúncia do Ministério Público por formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e corrupção. Em depoimento à comissão de inquérito, Barusco havia confessado que ele, Vaccari e o ex-diretor de Serviços Renato Duque receberam propinas relativas a cerca de 90 contratos da Petrobras. Segundo Barusco, Vaccari teria recebido, em nome do PT, algo em torno de US$ 150 milhões e 200 milhões. O petista negou todas as acusações, disse que todos os delatores da Operação Lava Jato mentiram a seu respeito e se declarou inocente.
Um dos sub-relatores do colegiado, o deputado Bruno Covas (SP) destacou as diferenças entre as falas de Vaccari e Barusco. “Ficou bem claro que dizem algo bem diferente um do outro. Não temos como defender outra coisa que não seja uma acareação entre os dois. Alguém está mentindo e esperamos que essa acareação mostre quem é. Tudo indica que alguém recebia e distribuía recursos ilegais e está ficando bem claro para nós que essa pessoa era o Vaccari”, disse. O tucano levantou anda a possibilidade de acareação com o doleiro Alberto Youssef, que disse ter pago R$ 400 mil a uma cunhada de Vaccari.
Diversos deputados do PSDB acompanharam a oitiva, questionaram Vaccari e apontaram os fortes indícios que levaram ao seu indiciamento. O 1º vice-presidente da CPI, deputado Antonio Imbassahy (BA) lembrou-se da nomeação de Vaccari para o conselho de Itaipu Binacional e alertou para a confiança depositada por Lula e Dilma no companheiro. Diante da forma como Vaccari negou a todas as acusações contra ele, o deputado Izalci (DF) fez uma série de indagações. Entre elas, perguntou se os tesoureiros do PT, antes de assumir o cargo, se submetem ao juramento de nunca falar a verdade.
Já o deputado Otavio Leite (RJ) lembrou que o tesoureiro se encontrava em restaurantes de diferentes hotéis com Barusco e Duque para tratar da divisão de propinas. Vaccari disse “não lembrar” de ter encontrado os antigos amigos nesses locais. O tucano ressaltou que a CPI já pediu as gravações desses locais. “É indispensável que se remeta o quanto antes possível para essa CPI as informações do processo no Paraná, pois são dados fundamentais para comprovar a engrenagem desse esquema criminoso instalado na Petrobras”, defendeu.
“Maior corrupto do país” – O deputado Delegado Waldir (GO) foi veemente em suas colocações. O tucano foi mais um a defender a acareação entre Vaccari e Barusco. Em sua fala, criticou a ação criminosa desenvolvida na Petrobras e destacou que milhões de brasileiros saíram prejudicados. Ele chamou o tesoureiro do PT de “maior corrupto e ladrão da história do país” e disse que o PT “patrocina a corrupção”.
“O partido que está no governo prioriza a propina, enquanto muitos estão morrendo nos hospitais. O que me preocupa não são os ratinhos que foram colocados aqui hoje, mas aqueles colocados pelo partido do governo para corroer os cofres públicos e os recursos que deveriam ser da educação e de tantas outras áreas”, afirmou ao citar o episódio ocorrido pouco antes do depoimento do tesoureiro, quando um funcionário da Câmara teria soltado ratos contra o petista.
“Não deve, mas teme?” – Também defendendo a acareação entre Vaccari e Barusco, Mariana Carvalho (RO) sugeriu que seja usado um aparelho detector de mentiras na audiência e afirmou que espera, nessa oportunidade, saber quem realmente está falando a verdade, “pois é o que todo o povo brasileiro espera”. A parlamentar se disse surpresa com a declaração do petista de que não tem intimidade com Lula e Dilma. “Ocupa cargo tão importante e de tão alta confiança e não tem acesso as principais lideranças da sigla? Isso causa bastante estranheza”, rebateu a tucana. Em seguida, Vaccari afirmou que tem orgulho de seus mais de 30 anos de militância no PT. A parlamentar reagiu, colocando em dúvida a declaração: “Me surpreende ainda mais que o senhor não seja amigo deles”.
O deputado Rocha (AC) alertou a Vaccari que Marcos Valério, assim como ele, teve toda a proteção de companheiros petistas durante o escândalo do mensalão, mas acabou sendo abandonado pelo partido e preso em seguida. O parlamentar destacou ainda que “quem não deve não teme” e disse não entender por que o depoente se declara, com tanta convicção, ser inocente, mas foi à CPI acompanhado de um advogado criminalista, além de ter acionado o Supremo Tribunal Federal (STF) pedindo para depor sem a obrigação de dizer a verdade.
Em referência ao habeas corpus concedido pelo Supremo para que Vaccari pudesse responder apenas o que quisesse na comissão, o deputado Vitor Lippi (SP) disse que isso é algo digno de indignação. “Como brasileiro lamento muito a forma como aconteceu essa oitiva. Os jornais colocaram em sua primeira página que o senhor Vaccari foi autorizado a mentir. Isso é algo que desmoraliza essa comissão”, destacou, ao reforçar que tudo leva a crer que a responsabilidade do petista sobre as irregularidades na Petrobras é muito grande.
(Reportagem: Djan Moreno/ Fotos: Alexssandro Loyola/ Áudio: Hélio Ricardo)
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