CPI da Petrobras
Líder do PSDB mostra histórico obscuro de tesoureiro do PT e “inovações” no mundo do crime
O líder do PSDB na Câmara, deputado Carlos Sampaio (SP), questionou nesta quinta-feira (9) o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, se foi o seu histórico de crimes, apontados pelo Ministério Público, que o condicionou a ocupar o cargo. O tucano enumerou as diversas acusações que pesam contra o petista e citou o que chamou de “inovações no mundo do crime” praticadas por ele. “O senhor tem tudo para ser preso e seu partido, para ser extinto”, alertou o tucano ao final de sua fala.
O teor do depoimento do tesoureiro na CPI da Petrobras causou revolta em parlamentares da oposição, que consideraram suas declarações mentirosas. Vaccari negou reiteradamente participação no esquema de corrupção na estatal petroleira. Mas depoimentos de outros acusados e delações premiadas feitas por diversos envolvidos na quadrilha que agia na estatal apontam o tesoureiro como agente do PT e recebedor de propinas em nome do partido.
Carlos Sampaio lembrou que Vaccari foi presidente do Bancoop (Cooperativa Habitacional dos Bancários) entre 2004 e 2010 e que nessa época se tornou réu, denunciado pelo Ministério Público, e acabou sendo processado por formação de quadrilha, falsidade ideológica, desvio de R$ 70 milhões e lavagem de dinheiro. Na época do mensalão, foi ainda suspeito de intermediar propina para deputados quando administrou informalmente a relação do PT com os fundos de pensão e corretoras.
Atualmente, como lembrou o líder tucano, Vaccari foi pego na Operação Lava Jato e novamente denunciado por formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e corrupção. Segundo a denúncia, seria o tesoureiro quem dava as contas do PT nas quais o dinheiro desviado no petrolão devia ser depositado.
Propinas milionárias – Em depoimento à comissão de inquérito, o ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco confessou que ele, Vaccari e o ex-diretor de Serviços Renato Duque receberam propinas relativas a cerca de 90 contratos da estatal. Segundo Barusco, Vaccari teria recebido, em nome do PT, algo em torno de US$ 150 milhões e US$ 200 milhões, oriundos de empresas privadas que possuíam contratos com a petroleira.
O parlamentar ressaltou que Vaccari se encontrava, ainda segundo Barusco, em três diferentes hotéis onde os dois e Duque tratavam de “contratos” e propinas. O tucano afirma que as inovações do tesoureiro petista começaram aí. Pois, Vaccari teria começado a cobrar uma “propina em excesso” – “uma inovação do seu mandato como tesoureiro do PT no mundo do crime”, destacou Sampaio.
Barusco havia dito ainda que estava com dificuldade para receber uma propina da empresa Chaim. Vaccari sugeriu ficar com a “dívida” dessa empresa já que teria mais facilidade de cobrar propina desta e propôs que ele cobrasse então de uma outra que teria “dívida” com ele, a MPE. É a inovação da “propina trocada”, disse Sampaio.
Segundo delação de Eduardo Leite, vice-presidente da Camargo Correa, sua empresa estava atrasada no pagamento de propina no valor de R$ 10 milhões. A proposta de Vaccari, mais uma “inovação genial”, conforme destacou o líder, foi para que a firma fizesse o “pagamento” em forma de doação legal para o partido.
Na delação do doleiro Alberto Youssef foi relatado que, algumas vezes, ao exigir a propina o petista pedia que alguém de moto levasse o dinheiro até a ele. “Era a propina delivery”, apontou o deputado. “Percebo que no mundo criminoso as inovações apresentadas foram importantíssimas”, completou Sampaio, ao questionar se o convite para se tornar tesoureiro do PT aconteceu devido esse histórico e currículo criminoso.
Após tentar desviar o foco das perguntas feitas pelo líder tucano, Vaccari disse que todas as empresas e pessoas que procurou para obter doações eram sérias. Mas Sampaio desmentiu o petista ao lembrar que Vaccari procurou o doleiro Alberto Youssef, uma figura conhecida em todo Brasil por inúmeras acusações que lhes são imputadas, inclusive por ter sido preso no escândalo do Banestado.
Sampaio contestou o modo como Vaccari tentou enrolar ao responder suas perguntas. O parlamentar mostrou estranheza com o fato, confirmado por Vaccari, de empreiteiros irem até a sede do PT oferecer doações. Parlamentares do Partido dos Trabalhadores se exaltaram diante das colocações do tucano, mas o líder lembrou a bancada petista de que todas as suas afirmações foram apenas reprodução de denúncias feitas pelo Ministério Público. “São várias atividades voltadas para o mundo do crime, segundo o MP”, ressaltou.
Diante das respostas de Vaccari completamente incoerentes com a realidade já demonstrada nas apurações da Operação Lava Jato, Sampaio se recusou a continuar ouvindo o depoimento do petista que disse ter se tornado tesoureiro da sigla simplesmente por sua militância.
(Reportagem: Djan Moreno/ Foto: Alexssandro Loyola/ Áudio: Hélio Ricardo)
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