Ninguém sabia de nada?
Tucanos criticam depoimento à CPI de diretor da Petrobras que alegou desconhecer corrupção
Deputados do PSDB que participaram da audiência da CPI da Petrobras nesta terça-feira (7) defenderam que a comissão realize oitivas com depoentes que possam realmente contribuir para as investigações. Ouvido na audiência de hoje, o atual diretor de Gás e Energia da Petrobras, Hugo Rapsold Junior, pouco contribuiu para as investigações ao negar ter conhecimento de irregularidades na estatal antes da Operação Lava Jato. Convidado para falar sobre o Gasene, alegou não ter havido superfaturamento no gasoduto e que não houve constituição de empresa “laranja” para a realização do projeto.
Na avaliação dos parlamentares, mais uma vez pairou sobre a CPI o ar de que “ninguém nunca sabia de nada”. A área de atuação de Rapsold abrange a construção do Gasene, gasoduto de 1.400 km de extensão, interligando Rio de Janeiro, Espírito Santo e a Bahia. Auditoria do TCU apontou um superfaturamento de 1.800% em um dos seus trechos. Há ainda denúncias da criação de uma “sociedade de propósito específico”, laranja, constituída unicamente para fazer parceria com a Petrobras nesse projeto. O custo final da obra ficou em R$ 6,3 bilhões.
No depoimento de Repsold, o deputado Antonio Imbassahy (BA), 1º vice-presidente do colegiado, fez questão de mencionar o gasoduto da Bolívia, que no ano passado teve seu contrato repactuado, fazendo com que o Brasil pagasse R$ 434 milhões não previstos anteriormente. O diretor se negou a responder sobre o tema e o tucano concluiu que “a decisão do governo brasileiro foi equivocada”.
Já o deputado Bruno Covas (SP) fez uma série de questionamentos referentes ao Gasene. Repsold respondeu a todas as indagações garantindo não ter havido irregularidades. O depoente disse ao deputado não saber a quem a corrupção atendia. O tucano lembrou declaração recente de Repsold, na qual comparou a corrupção com um câncer. Questionado por Covas se as causas dessa “doença” seriam internas ou externas, disse apenas que “isso diz respeito a pessoas que tem que responder por seus atos”.
O deputado Izalci (DF), por sua vez, afirmou que o diretor se mostrou muito bem treinado para encarar os deputados. O tucano questionou se o diretor chegou a estudar se os aditivos nas obras da Petrobras eram realmente necessários, pois “em nove gasodutos o valor das propinas chegou a US$ 19 milhões”. O depoente garantiu que a maior parte dos aditivos diziam respeito a tentativa de recuperar o tempo por causa dos atrasos causados por problemas técnicos. Voltou a insistir que o projeto do Gasene foi concluído com 20% acima do valor inicialmente previsto, o que é considerado “normal”.
Diante das respostas superficiais e meramente técnicas, o tucano afirmou que não havia justificativa para o colegiado estar ouvindo Repsold. “Precisamos de fato trazer para essa CPI pessoas que possam contribuir”, afirmou.
O deputado Otavio Leite (RJ) completou dizendo que a reunião estava “mais para um seminário do que para uma audiência de CPI”. O deputado do Rio de Janeiro lembrou dos transtornos com as obras paralisadas no Comperj, que deixaram milhares de trabalhadores desempregados . “É realmente algo que nos chama muito atenção. É muito grave e quem tomou essas iniciativas associadas ao mau planejamento e a corrupção tem que pagar”, alertou. O tucano defendeu ainda que os parlamentares faça o quanto antes uma visita ao complexo para apurar in loco as irregularidades. A CPI aprovou há duas semanas requerimento de sua autoria nesse sentido.
Por sua vez, o deputado Delegado Waldir (GO) levantou dúvidas sobre as afirmações de Repsold. “O senhor está há 30 anos na Petrobras e diz que não sabe de nada que acontecia lá? Faz cara de poste. Uma cara de pau como se ninguém estivesse vendo que a Polícia Federal está investigando e como se o juiz Sérgio Moro não estivesse desvendando tudo”, disse o tucano, ao propor que os membros do colegiado participem das audiências com um simbólico “nariz de palhaço”. “Afinal, vocês [depoentes] vem aqui e acham que somos palhaços.”
Vaccari na quinta – Antes mesmo de Repsold começar a depor, parlamentares do PT voltaram a protestar contra a oitiva do tesoureiro do partido, João Vaccari Neto, agendada pelo 1º vice-presidente da CPI, deputado Antonio Imbassahy (BA), para a quinta-feira (9). Os petistas, porém, contestam a data e, para ganharem tempo, tentaram a adiar para o dia 23 o depoimento. Mas a data foi mantida pelo presidente Hugo Motta (PMDB-PB).
(Reportagem: Djan Moreno/ Foto: Lúcio Bernardo Junior – Agência Câmara/ Áudio: Hélio Ricardo)
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