Bomba-relógio


Diante de números pífios da economia, governo admite fracasso no cumprimento da meta de superávit

Dizer que a economia brasileira vai muito bem virou praxe entre os membros do governo, especialmente para as autoridades da área. Há tempos, o ministro Guido Mantega é enfático em repetir a falácia. No entanto, Emanuel_Abiackel(2)diante dos números recentes, o titular da Fazenda precisou admitir que o país não cumprirá a meta de superávit primário deste ano, de 2,3% do Produto Interno Bruto (PIB), para pagar os juros da dívida pública. Para o mercado interno, a nação pode perder credibilidade com os resultados.

Mantega pediu para que estados e municípios economizem até dezembro R$ 19,5 bilhões dos R$ 65,9 bilhões que ainda faltam para alcançar a meta. O superávit acumulado em nove meses – 1,3% do PIB – é o mais baixo dos últimos 15 anos. O governo federal havia se comprometido a compensar até R$ 10 bilhões da parcela não cumprida pelos demais entes da federação, mas os resultados de janeiro a setembro mostraram que tais recursos não serão suficientes para fechar a conta, pois o setor público terá de economizar R$ 110,9 bilhões, em meio ao excesso de gastos e queda da arrecadação.

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Os deputados Paulo Abi Ackel (MG) Emanuel Fernandes (SP) veem o cenário com preocupação e afirmam que o governo perdeu oportunidades e camuflou a realidade.   “É uma situação preocupante. Há um excesso de publicidade otimista no governo, mas os números não acompanham essa propaganda irreal”, destaca o mineiro. Segundo ele, paira sobre a economia uma “nuvem escura”, pois ninguém sabe ao certo qual a situação verdadeira do país.

“O Brasil teve uma oportunidade fantástica no início do governo Dilma de promover o crescimento ao adotar medidas estruturantes. Como isso não aconteceu, o país agora paga o preço e as análises econômicas internacionais respeitadas no mundo inteiro baixaram o nível de satisfação com a economia brasileira. Muitos investimentos que poderiam vir para o Brasil estão indo para outras nações.

De fato, o quadro é tão desalentador que o Brasil pode ser o primeiro dos Brics a perder o grau de investimento, como mostra avaliação do jornal britânico “Financial Times” com o título “As chances do Brasil de um downgrade”. A publicação diz que “muito possivelmente” o país pode ser o primeiro entre os grandes emergentes a perder o título. Se a economia nacional não crescer rapidamente e a situação fiscal continuar em deterioração, dizem os economistas, o downgrade poderia vir no início de 2014. Ao perder o título “grau de investimento”, o Brasil iria retroceder em termos de credibilidade internacional perante investidores.

“Lamento profundamente que o Brasil não esteja pegando a onda de crescimento na qual surfam os outros países emergentes do Brics. Estamos perdendo na corrida do desenvolvimento”, destaca Abi-Ackel.

Para EmanuelMantega vinha, em nome do governo, tentando camuflar o grave problema que o ex-presidente Lula deixou para a economia: o desequilíbrio das contas públicas. “Ele tentou esconder até onde deu, mas agora que as agências de avaliação de risco estão mostrando a verdade, ele está finalmente admitindo, apesar de que já vínhamos alertando há anos”, disse.

O deputado avalia que a situação não é boa devido a atitudes tomadas pelo próprio governo. “Aumentou-se muito o credito para as famílias, que estão devendo demais, e o governo não consegue atingir o superávit fiscal prometido, mesmo usando uma maquiagem nas contas. Isso compromete o futuro e poderemos ter dificuldades nos próximos três ou quatro anos. A farra fiscal está produzindo seus resultados agora. Este superávit pequeno vai forçar a deterioração da credibilidade do Brasil”, explica.

Para se ter uma ideia do rombo nas contas, o déficit de R$ 9 bilhões é o maior para meses de setembro desde que o país começou a aferir com seriedade o desempenho das contas do governo. No ano, o superávit já caiu pela metade na comparação com o mesmo período de 2012, para R$ 45 bilhões. Ninguém crê que, em apenas três meses, o governo consiga poupar os R$ 66 bilhões necessários para cumprir a meta de 2,3% do PIB anunciada em maio.

Na contramão – As despesas em geral subiram 13,5% no ano, bem acima do previsto, superior à alta das receitas e muito além do pibinho. As desonerações fiscais também estão maiores do que se estimava: há apenas seis meses, dizia-se que a conta ficaria em R$ 70 bilhões, mas já se sabe que está beirando R$ 80 bilhões. A questão é: que resultado produziram, além de benefícios localizados e pontuais?

Em termos nominais, os investimentos cresceram somente 2,9% neste ano; se descontada a inflação, diminuíram. Enquanto as chamadas despesas primárias cresceram R$ 79 bilhões no ano até agora, os investimentos aumentaram apenas R$ 1,3 bilhões.

(Reportagem: Djan Moreno/ Foto: Alexssandro Loyola/ Áudio: Elyvio Blower)

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7 novembro, 2013 Últimas notícias Sem commentários »

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