Os cinco núcleos do governo Bolsonaro, por Marcus Pestana
Todo projeto governamental, para alcançar o sucesso, depende de três fatores básicos internos: ideias claras a partir de um diagnóstico preciso da realidade (planejamento estratégico de qualidade); consistência orçamentária (padrão de financiamento compatível); e capacidade gerencial (liderança, coordenação, recursos humanos, estruturas adequadas, processos eficientes). Também fatores externos interferem: ambiente institucional, base parlamentar, apoio da sociedade, cenário internacional.
Temos grandes desafios a serem enfrentados. Estamos todos cansados dos efeitos negativos da grande recessão recente, das consequências nocivas da corrupção endêmica, da frustração permanente em relação ao crescimento econômico e da perda de motivação e horizonte das novas gerações.
Torcemos pelo êxito do novo governo, independentemente de alinhamentos políticos. Haverá enorme resistência às mudanças necessárias. Se o nível de ambição em relação à profundidade das reformas for muito rebaixado ou mesmo a agenda de transformações for abandonada, por déficit de liderança, convicção ou apoio, poderemos assistir ao agravamento da crise.
No Congresso Nacional, teremos inédita fragmentação, com a presença – sem precedente em qualquer país democrático – de 30 partidos políticos. As eleições para as presidências da Câmara e do Senado serão decisivas.
Inicialmente, conviverão três grandes blocos não homogêneos no Parlamento brasileiro. A base de apoio ao governo Bolsonaro, o centro democrático, que deverá ter uma posição de independência e cooperação, dependendo do tema em pauta, e a oposição radical de esquerda, onde haverá disputa pela liderança entre Ciro Gomes e o PT de Fernando Haddad.
No âmbito interno do governo eleito, ainda é impossível prever o grau de unidade e eficiência que será alcançado. O presidente da República não tem nenhuma experiência executiva ou gerencial, já que sua história política se deu em 30 anos de vida parlamentar. A equipe está segmentada em cinco núcleos: o núcleo familiar, que tem exagerado no seu protagonismo e criado problemas graves mesmo antes da posse; o núcleo militar, composto por experientes e preparados oficiais; o núcleo econômico liberal, liderado por Paulo Guedes; o núcleo da Lava Jato, capitaneado pelo ex-juiz federal Sergio Moro; e por último, mas não menos importante, o núcleo dos fundamentalistas conservadores, no qual se destacam os futuros ministros da Educação, das Relações Exteriores e dos Direitos Humanos.
Lembro-me bem que o meu Flamengo – que divide com o Cruzeiro minhas paixões futebolísticas –, em 1995, contratou Romário e Edmundo, que vieram se somar à estrela de Sávio no rubro-negro para formar “o melhor ataque do mundo”. Não deu certo.
Se os cinco núcleos do governo Bolsonaro vão formar um bom time e produzir muitas vitórias, só o tempo dirá.
*Por Marcus Pestana, deputado federal por Minas Gerais
Artigo publicado no Jornal O Tempo
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