Quantidade alarmante de analfabetos funcionais reforça necessidade de priorizar educação
A educação precisa voltar a ser considerada uma prioridade no Brasil. É o que avaliam deputados do PSDB diante do número de analfabetos funcionais no país. Três em cada dez jovens e adultos de 15 a 64 anos têm muita dificuldade de entender e se expressar por meio de letras e números em situações cotidianas, como fazer contas de uma pequena compra ou identificar as principais informações em um cartaz de vacinação. O dado equivale a mais de 38 milhões de pessoas – 29% da população.
A taxa de brasileiros nessa situação está estagnada há dez anos, como mostram os dados do Indicador do Alfabetismo Funcional (Inaf) 2018. O estudo foi realizado pelo Ibope Inteligência e desenvolvido pela ONG Ação Educativa e pelo Instituto Paulo Montenegro. O Inaf aplica um teste específico, com questões que envolvem a leitura e interpretação de textos do cotidiano.
Na faixa de 29% de brasileiros classificados nos níveis mais baixos de proficiência e escrita, há 8% são considerados analfabetos absolutos – aqueles que não conseguem ler palavras e frases. Os outros 21% estão no nível considerado rudimentar. Esses não conseguem localizar informações em um calendário, por exemplo.
Para o deputado Pedro Cunha Lima (PB), há uma inversão de valores no país. Segundo ele, os governantes não investem na primeira infância, nas creches e nos cuidados em geral com as crianças, o que afeta o aprendizado para toda a vida. “Temos um modelo federativo que coloca toda a responsabilidade dos cuidados no começo da vida, sobretudo nos municípios. Falta um presidente que assuma essa responsabilidade e perceba a urgência desse cenário”, aponta.
Na avaliação do tucano, os investimentos não podem ser protelados, pois a quantidade de pessoas na condição de analfabetos funcionais é alarmante. “Só com o investimento na base é que se consegue construir uma solução real para esse desafio”, defende.
Além de estar formando mal as crianças e jovens (12% dos jovens de 15 a 24 anos estão no grupo dos analfabetos funcionais), os investimentos na alfabetização de adultos caiu nos últimos anos. Roberto Catelli Júnior, da Ação Educativa, ouvido pelo jornal “O Estado de S.Paulo”, lembrou, por exemplo, que o Plano Educação de 2014 prevê erradicar o analfabetismo absoluto até 2024. Mas o programa chegou a ter 1 milhão de atendidos e hoje soma apenas 250 mil.
Assim como Pedro, Lobbe Neto (SP) também integra a Comissão de Educação. Na opinião dele, o ensino voltado para jovens e adultos não pode ser abandonado, como aconteceu nos últimos anos. “Com governos como esses que tivemos com muito populismo, marketing e falta de ética, o resultado é realmente esse: nesses últimos anos houve muito discurso, pouco resultado”, lamentou, ao fazer menção às gestões petistas de Lula e Dilma.
O tucano afirma que a educação precisa ser pensada como um todo. Ao mesmo tempo em que se prioriza a educação nos primeiros anos de vida, é preciso fazer um trabalho de excelência no Ensino de Jovens e Adultos (EJA) “para que esses possam reingressar nos estudos e serem capacitados, inclusive, para uma colocação no mercado de trabalho”. Para ele, o país possui boas leis, mas que acabam não sendo cumpridas, como a de sua autoria que obriga cada escola a ter uma biblioteca ou sala de leitura.
Também na defesa por mais investimentos e atenção para a educação, o deputado Floriano Pesaro (SP) acredita que o país não alcançará o pleno desenvolvimento enquanto mantiver a educação em segundo plano. “Esta é a verdadeira tragédia brasileira. Ou nós, todos, governo e sociedade, enfrentamos o problema da educação, ou seremos sempre um país pobre”, alertou ao comentar a reportagem do “Estadão” sobre os dados preocupantes.
Desde 2001, ano em que começou o Inaf, o total de brasileiros de 15 a 64 anos que chegaram ao ensino médio aumentou de 24% para 40%, e ao ensino superior, de 8% para 17%. Apesar de a população ter mais anos de estudo, o índice daqueles plenamente capazes de se comunicar pela linguagem escrita segue igual, com só 12% no nível proficiente (o mais alto). Entre os que terminaram o ensino médio, 13% são analfabetos funcionais e, dos que têm ensino superior, 4%.
(Reportagem: Djan Moreno/fotos: Alexssandro Loyola/ Áudio: Hélio Ricardo)
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