Quem vai ganhar?, por Miguel Haddad
A real possibilidade de vitória deste ou daquele candidato à Presidência da República somente poderá ser cogitada após a definição do quadro eleitoral, o que deverá ocorrer depois da Copa.
Desde já, no entanto, com a realização das eleições, é possível nomear um ganhador: a Democracia Brasileira. E essa será uma grande vitória. Afinal, nosso País atravessa, já há alguns anos, uma das maiores crises da nossa história. A sua força desagregadora, que tem levado a população ao desalento, é potencializada pela conjugação de duas instabilidades paralelas, na política e na economia.
Como diz o professor da American University, Matthew M. Taylor – autor de vários estudos sobre democracia e corrupção no Brasil, que viveu aqui de 2006 a 2011 –, “se pensarmos sobre os últimos cinco anos, o Brasil enfrentou a pior recessão em um século e uma crise política que consumiu o mandato de uma presidente e dois anos do mandato de Michel Temer. O escândalo de corrupção poupou poucos políticos e criou uma mobilização social que está entre as maiores do século no mundo. É uma pressão enorme sobre a democracia”.
Mas, segundo ele, “institucionalmente, grande parte das instituições parecem estar funcionando da forma que foram desenhadas para funcionar. Ninguém tem dúvida de que a eleição vai acontecer e que não vai haver nenhuma intervenção para mudar o regime político. A democracia está se demonstrando muito resiliente”.
Não é uma vitória pequena. Pelo contrário. É a demonstração do verdadeiro valor do regime democrático, que não vem, como muitos creem, da certeza de que sempre se vota da maneira certa. Afinal, todos nós estamos sujeitos a errar ao fazer nossas escolhas. Nada foge a essa regra.
O que faz da Democracia um regime funcional é que o governante tem um prazo limitado no poder e, se sua condução não é satisfatória, ele pode ser substituído. É a possibilidade de alternância do poder que torna o regime democrático, apesar de todos os seus defeitos, superior aos demais.
Resta saber se a lição dos erros na escolha de salvadores da pátria do passado, que nos levaram às dificuldades do presente, nos faça, desta vez, seguir o caminho da sensatez. Teríamos com isso uma dupla vitória.
(*) Miguel Haddad é deputado federal pelo PSDB-SP.
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