Fascismo à brasileira, por Fábio Sousa
Há certo tempo uma palavra tornou-se usual nos debates políticos. Para adjetivar quem não concorda com seus posicionamentos e, o que é mais estarrecedor, como uma forma de questionamento a decisões jurídicas desfavoráveis, um grupo considerável da esquerda brasileira tem usado o termo fascismo para caracterizar seus oponentes. Ou de forma equivocada, sem vínculo com a História, ou de má fé.
O fascismo tem sua origem na Itália de Mussolini. Após vencer as eleições em 1922, ele estabeleceu essa filosofia como governo. Pregava um estado forte e autoritário, que promovia mobilizações em massa, propagando a confiança em seu partido pra uma revolução que atendesse a “classe trabalhadora”. Pregava também a veneração ao Estado e a devoção a um líder forte.
Também ensinava que para buscar seus objetivos era necessário desarmar a população, mas os apoiadores do governo para alcançar o alvo em “prol da população” poderiam utilizar da violência.
Com objetivos nacionalistas, defendeu também a criação de uma estrutura econômica regulada para transformar as relações sociais. O estado tutelaria a população em todas suas escolhas.
O historiador americano Stanley Payne, uma das maiores autoridades em “fascismo histórico”, definiu-o como “organização de uma nova estrutura econômica nacional integrada, altamente regulada” e com uma “tendência específica em direção a um estilo autoritário, carismático e pessoal de comando”, de preferência através de eleições.
Mussolini se dizia de direita, inclusive um dos seus grandes adversários na 2º Guerra foi a União Soviética. Mas seus atos tinham tendências à esquerda totalitária e ficavam sempre oscilando entres os dois aspectos.
Mas no Brasil atual muitos usam a expressão de forma extremamente equivocada, sem conhecimento histórico ou filosófico. A ponto de certo grupo político alcunhar a expressão ao juiz Sérgio Moro por suas decisões, quase que plenamente confirmadas pelos tribunais superiores. Moro em nada se assemelha ao fascismo, pelo contrário.
Sempre defendi e sempre defenderei a liberdade de expressão. Mas jamais poderíamos permitir que tamanha má fé e falta de capacidade intelectual possam ser usadas para falsear ações plenamente corretas. Até porque sabemos que o intuito não é reflexivo. É apenas uma tentativa de impor em adversários um conceito amplamente rejeitado devido ao seu fracasso social.
Não é a toa que George Orwell escreveu certa vez que a palavra fascismo “é quase totalmente sem sentido”. Usada apenas para adjetivar quem está contra. Há uma frase atribuída a Churchill que se revela extremamente atual: “Os fascistas do futuro chamarão a si mesmos de antifascistas.”
*Fábio Sousa, deputado federal, historiador, teólogo e gestor público. Artigo publicado no jornal “O Popular” desta segunda-feira (14).
Deixe uma resposta