O direito à verdade, por Miguel Haddad
Numa tarde de domingo, em 2016, na cidade de Washington (EUA), um sujeito portando um fuzil AR-15 entrou na pizzaria Comet Ping Pong e começou a atirar nos clientes. Inacreditavelmente ninguém se feriu. Logo depois, ele foi desarmado pela polícia.
Ao ser indagado porque havia atirado naquelas pessoas, que estavam jogando pingue-pongue e comendo pizzas, o atirador respondeu que havia visto um post na Internet dizendo que a então candidata democrata à presidência dos Estados Unidos, Hilary Clinton, havia montado nesse restaurante uma rede de distribuição de drogas para crianças.
Hoje, milhares de pessoas, instituições, até o Efeito Estufa ou a circunferência da Terra, são vítimas das chamadas fake news – a notícia falsa espalhada pela Internet.
O velho boato, que, como se dizia antigamente, andava a cavalo, agora se espalha com a velocidade da luz. Não que antes fosse coisa de somenos. Quando fui prefeito, sabia que cada iniciativa que tomasse seria seguida de uma onda de boatos maledicentes.
O Parque da Cidade, que acaba de completar 14 anos de serviços a Jundiaí e região, ao ser inaugurado foi alvo de intensa boataria. Sem ter qualquer argumento para se opor à obra, os adversários espalharam que o parque estava sendo feito porque “o prefeito é dono do loteamento em frente”. Isso correu a cidade durante anos. Os proprietários do loteamento – uma família paulistana que investe tradicionalmente no ramo imobiliário – me disseram que alguns compradores chegaram a indagar se isso era verdade. Penso que ainda hoje há quem acredite nisso.
Felizmente nossa cidade cresceu, o tempo se encarregou de mostrar a verdade e hoje o disse que disse já não tem mais a força de antes.
Todavia, quando se pensava que estávamos vacinados contra essa prática nociva, eis que ela ressurge de forma ainda mais letal. Atualmente, a pessoa lê um post numa rede social, que parece ser verídico, – muitos citam “fontes”, inserem gráficos e adulteram fotos que parecem incrivelmente verdadeiras – e então compartilha. Um clique aparentemente inocente, mas que pode ter funestas consequências: hoje a fake news é mundialmente considerada uma das maiores ameaças à Democracia.
No Brasil, com as eleições se aproximando, será a grande inimiga da liberdade de escolha do cidadão. Cheque antes de compartilhar. E, se for mentira, denuncie.
Não deixe ninguém ameaçar o seu direito à verdade.
(*) Miguel Haddad é deputado federal pelo PSDB-SP. Artigo publicado no “Jornal de Jundiaí”.
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