Empoderar as pessoas com deficiência intelectual é a melhor maneira de praticar inclusão, por Mara Gabrilli
Débora, Bia e Didi são exemplos bem-sucedidos da inclusão da pessoa com síndrome de Down. Suas vidas, contudo, não representam a realidade da maioria dos 2,6 milhões de pessoas com deficiência intelectual do nosso país, que ainda sofrem com a falta de acesso ao mercado de trabalho, com as barreiras de educação, da comunicação e ainda com o preconceito – a pior de todas essas.
E por falar nisso, neste ano nos deparamos com uma atitude extremamente preconceituosa e ultrajante vindo de uma desembargadora do Rio de Janeiro. Senti-me indignada com a desembargadora que publicou em rede social de magistrados uma ofensa à educadora Débora Seabra, que leciona há mais de 10 anos e viaja o Brasil realizando palestras sobre o combate ao preconceito. Ela é a primeira professora com síndrome de Down do país.
Débora respondeu com muita dignidade às ofensas da desembargadora afirmando que é professora auxiliar e que ensina muitas coisas às crianças. A principal é que elas sejam educadas e tenham respeito com as outras pessoas. Que aceitem as diferenças de cada um e ajudem a quem precisa mais.
Infelizmente, o direito ao trabalho, à afetividade, ao voto, à sexualidade, entre muitos outros, é frequentemente negado às pessoas com deficiência intelectual. Não por acaso, na Lei Brasileira de Inclusão Site externo, relatada por mim na Câmara e em vigor há dois anos em todo o país, aprovamos mudanças neste cenário, incorporando ao texto o direito de votar e ser votado, à saúde sexual e reprodutiva, ao matrimônio, entre outros.
A ideia da LBI é provocar na Justiça um novo olhar para a questão da interdição e das reais capacidades da pessoa com deficiência intelectual. Agora, o juiz terá de levar em consideração o desenvolvimento e amadurecimento de quem é curatelado. Essa decisão, claro, terá de ser analisada caso a caso e exigirá conhecimento tanto da Justiça quanto da família envolvida.
Aliás, para a maioria das mães e pais de pessoas com deficiência intelectual há um sentimento em comum: medo do futuro. O que meu filho fará quando eu não estiver mais aqui para orientá-lo? É a pergunta que ecoa entre as famílias.
Fato é que hoje já podemos assistir, ainda de forma incipiente, a inclusão das pessoas com deficiência intelectual na sociedade. No último Dia das Mães, por exemplo, a marca Johnson’s Brasil resolveu apostar em um bebê com deficiência para estrelar uma campanha nacional. Lucca Berzins foi o primeiro bebê com síndrome de Down a protagonizar um comercial em rede nacional.
Essas pessoas, que há poucas décadas tinham a expectativa de vida muito curta, agora lutam para perpetuar sua maturidade exercendo, entre outros, o direito ao matrimônio e a liberdade de escolha. E por mais medo e despreparo da sociedade, não podemos vetá-las de construir sua autonomia e decidir por elas mesmas seu futuro.
Assegurar a independência e promover a autonomia de uma pessoa com deficiência é, muitas vezes, um ato de amor. Como alguém que perdeu o movimento de braços e pernas, posso dizer o quão grata sou à minha família por ter me dado a oportunidade de produzir e realizar. Um direito que deveria ser regra a todos nossos filhos.
No mês de março, em que celebramos o Dia Internacional da Síndrome de Down (21), vamos permitir que as pessoas com deficiência intelectual busquem sua própria felicidade.
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