Mara Gabrilli critica desembargadora e exalta Débora Seabra, 1ª professora com síndrome de Down do país
O Dia Internacional da Síndrome de Down (21/3) foi criado em 2011 pelas Nações Unidas para dar voz e visibilidade às pessoas que nasceram com a trissomia do cromossomo 21, e para defender o seu direito à inclusão em todas as esferas da sociedade.
A síndrome de Down é a desordem genética mais comum do mundo, que atinge 1 criança para cada 700 nascimentos, independentemente de raça, país, religião ou condição econômica da família.
E, infelizmente, neste ano nos deparamos com uma atitude extremamente preconceituosa e ultrajante vindo de uma desembargadora do Rio de Janeiro. Senti-me indignada com a desembargadora, que publicou em rede social de magistrados ofensa à potiguar Débora Seabra, que leciona há mais de 10 anos e viaja o Brasil realizando palestras sobre o combate ao preconceito, simplesmente porque ela tem, entre suas inúmeras características, a síndrome de Down.
Débora é a primeira professora com síndrome de Down do país. E esse fato, diferentemente da fala que a desembargadora praticou quase que de forma institucional, é motivo de orgulho para mim e tenho certeza que para milhões de brasileiros.
Todos sabemos que a grande força motriz para cada ser humano é ouvir “você pode”. E milhões de famílias cada vez mais acreditam no imenso potencial que seus filhos com deficiência têm e podem desenvolver. E também acreditam no imenso valor que os ambientes inclusivos têm para as crianças com e sem deficiência. Conviver com a diversidade humana amplia a nossa visão de mundo e todo mundo ganha.
A desembargadora cometeu em sua fala ao menos um crime: o de ter praticado “discriminação de pessoa em razão de sua deficiência” (artigo 88, parágrafo 2º, da Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, relatada por mim na Câmara e há dois anos em vigor em todo o país.
Um dos temas sugeridos para o Dia Internacional da Síndrome de Down em 2018 é justamente a consciência de que as pessoas com a trissomia do 21 contribuem para a comunidade. E a Débora vem mostrando com sua postura que é muito maior do que o crime cometido pela magistrada.
Débora respondeu com muita dignidade às ofensas da desembargadora afirmando que é professora auxiliar e que ensina muitas coisas às crianças. A principal é que elas sejam educadas e tenham respeito com as outras pessoas. Que aceitem as diferenças de cada um e ajudem a quem precisa mais.
Depois dessa lição maravilhosa da educadora Débora Seabra, deixo registrada aqui apenas uma pergunta à desembargadora: Vossa excelência, como membro do Poder Judiciário do nosso país, cumprirá o que seu cargo lhe exige e é de sua responsabilidade? Em outras palavras: é cumpridora das Leis de nosso país e saberá fazer com que sejam cumpridas?
Por fim, concluo que com tanta oportunidade que a vida lhe concedeu para chegar a tal patamar, ainda assim lhe faltou aprender o básico: respeito às diferenças e à dignidade humana.
Faltou-lhe em sua vida uma professora como Débora Seabra.
Aliás, talvez falte uma Débora para muita gente em nosso país.
(*) Deputada federal (PSDB-SP), publicitária, psicóloga, foi secretária da Pessoa com Deficiência da capital paulista e vereadora por São Paulo. Em 1997, após sofrer um acidente de carro que a deixou tetraplégica, fundou uma ONG para apoiar o paradesporto, fomentar pesquisas cientificas e promover a inclusão social em comunidades carentes. O artigo intitulado “Faltam Déboras Seabras para muita gente no Brasil” foi publicado no site do “Estadão” em 21/3.
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