Delas, por Elas, para Elas – Análise do Instituto Teotonio Vilela
Desigualdades são uma chaga no Brasil. De todos os tipos: sociais, econômicas, culturais, de gênero. Nenhuma delas se justifica, mas a discriminação contra as mulheres é particularmente perversa por atingir aquelas que hoje são maioria em quase todos os quesitos e, sobretudo, porque é a elas que cabe cuidar do que será o futuro do país.
Mulheres são maioria na população brasileira, no eleitorado, nos bancos escolares de ensino médio e superior. A proporção de adultos com curso superior completo também é mais alta entre mulheres que entre homens – entre as mais jovens, a distância entre os dois gêneros é ainda mais larga e ascendente.
Mulheres assumem cada vez mais responsabilidades. Segundo o IBGE, mais que dobrou o número de famílias chefiadas por elas, para 29 milhões em 2015. Elas dedicam tempo 73% maior para cuidar da casa e dos familiares do que os homens, de acordo com a pesquisa Estatísticas de gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil, divulgada ontem.
Se são fortes no lar, as mulheres não têm o mesmo poder no mundo do trabalho. O rendimento médio delas é 23% menor que o dos homens. A presença feminina nos níveis hierárquicos mais altos das empresas também é diminuta, e em queda: somente 38% dos cargos gerenciais no país são ocupados por mulheres, taxa que caiu 1,2 ponto em relação a 2012. O percentual diminui também à medida que avança a idade. Entre mulheres negras, a disparidade é ainda maior.
Agora, uma pesquisa acadêmica também concluiu que com a discriminação da mão de obra feminina perdem todos, e não apenas elas. Salários menores pagos a mulheres redundam em menor crescimento e geração de riqueza. A renda per capita deixa de subir 1,5% a cada 10% de aumento na diferença entre a remuneração de homens e mulheres, registra a Folha de S.Paulo.
Na política, a desvantagem não é menor. Elas ocupam apenas 10,5% das vagas na Câmara dos Deputados. Com isso, o Brasil figura apenas na 152ª posição numa lista de 190 países em que o quesito foi avaliado pela União Interparlamentar, e que é liderada por Ruanda. No Senado brasileiro, as mulheres somam 16% do total.
Políticas públicas podem ajudar a enfrentar a situação geral de desigualdade, e não apenas a de gênero. Atribuir a titularidade das casas entregues em programas habitacionais às mulheres é uma delas. Os benefícios do Bolsa Família também saem em nome delas. Ambas permitem dar maior segurança às mães de família.
Ontem o Congresso aprovou projetos que punem com mais vigor a violência contra mulheres, com penas maiores para violação da intimidade, como exposição de votos e vídeos íntimos sem o consentimento feminino, e casos de estupro coletivo. São passos apenas incrementais para encarar uma situação em que 135 mulheres sofrem este tipo de abuso a cada dia no país, de acordo com o Fórum Brasileiro da Segurança Pública.
Hoje se comemora o Dia Internacional da Mulher. Só 24 horas é pouco. Tratar a população feminina com o devido reconhecimento que elas merecem é agenda urgente da sociedade, não apenas no Brasil, mas no mundo todo. E não por mera concessão ou liberalidade masculina, mas por direito, por respeito, por justiça.
(fonte: ITV)
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