Os desafios de um tempo novo, por Yeda Crusius


Não foi apenas porque o século mudou, estamos no XXI, embora nas telas de cinema ainda apareça em filme dessa gigantesca indústria que é a cinematográfica:  20h Century Fox. Agora em processo de venda, e em 14 de dezembro de 2017, The Walt Disney Company anunciou a sua pretensão de adquirir a Fox por 52,4 bilhões de dólares, na pendência da aprovação do Departamento de Justiça dos Estados Unidos. Pode ser que após a venda o nome mude, e seja 21th Century Fox. Será uma nova época, um novo dono, mas a cultura e a história são raízes sobre as quais se assentará essa nova administração, esse tempo novo.

Da mesma forma, discute-se a necessária adaptação de instituições que foram pedras fundamentais na condução do processo histórico de desenvolvimento, nos tempos em que a propriedade era ou do estado, ou de pessoas do setor privado, ou de outro tipo de organização social coletiva regulada pelo estado, como cooperativas ou as modernas OSCIPs. Se as condições materiais do mundo mudam, o próprio mundo mudou de forma drástica na era da internet e da livre circulação de pessoas, de bens e de capitais. Mudou também a capacidade do que conhecíamos como Estado de fornecer os serviços públicos fundamentais para a igualdade, a liberdade e a segurança de todos. O Estado produtor, ou mesmo o Estado do Bem Estar Social, não se sustentam com toda essa exigência ao mesmo tempo de liberdade e de qualidade de vida que as modernas tecnologias permitem – como no caso da saúde. Os direitos se multiplicaram, e os deveres não foram concebidos no mesmo compasso para honrar os primeiros.

Mudança de propriedade, mudança de regulamentos. Privatização. Parcerias Público Privadas. Capital financeiro, livre. Imprensa, livre. Desigualdade social. Concentração de renda. Pobreza. Terrorismo. Guerra. Tentativas de toda sorte para poder fazer crescer os serviços para atender os cidadãos de forma universal e qualificada. Processo de decisão sobre esses temas. Democracia em xeque. Segurança ou liberdade? Há alternativas? Enquanto uma categoria de servidores públicas fica sem seus salários pela crise fiscal, e outras não sob o mesmo governo, fermentam e se abrem os conflitos.

Um temporal destrói o tradicional Ginásio da Brigada, na Ipiranga, símbolo de uma corporação que ajudou a escrever a história do Rio Grande do Sul, e até hoje presente com credibilidade no cumprimento da função de combate ao crime e de prevenção à violência. Situada numa zona valorizadíssima da cidade, parte de um orçamento que não consegue cumprir seus pagamentos básicos como salários, como reconstruir? Alienando para que os resultados da venda revertam para o orçamento da Secretaria de Segurança Pública, deficitária em serviços e em efetivo? Não há para tudo. Com déficit, se coloca aqui tira de outro setor, como hospitais ou escolas. Quem tem a responsabilidade de gerenciar o fruto do trabalho que se arrecada em impostos, insuficiente, é o Governo Estadual.

No meu tempo de governadora, sendo o Colégio Tiradentes de Porto Alegre o primeiro colocado nos exames como o ENEM, decidi: fizemos mais 6 colégios em todo o estado, e desde que criados pontuam no ENEM! A regionalização da qualidade se fez. Só com recursos públicos? Criando CCs? Não. Gestão. Não tirei de outro setor. Compus parcerias! As comunidades locais disputaram os novos colégios da Brigada. O setor privado montou laboratórios, a prefeitura e o estado cederam professores, o equipamento físico era o da BM local. A disputa pelas vagas é intensa. Há vestibular. Há disciplina e responsabilidade. A qualidade está no gestor com parcerias: a BM. As avaliações nacionais confirmam.

Então. Precisamos de quadras de esporte. Precisamos de locais públicos para solenidades. Precisamos de Esporte. Precisamos de inclusão de jovens nos tempos novos. Precisamos de qualidade. Que tal o setor privado e parceiros no setor de esportes e com responsabilidade social pela inclusão não dizerem PRESENTE! É como se está fazendo com hospitais prestes a fecharem as portas, com tudo dentro para serem usados. É como se está fazendo com o setor de saneamento, chamando PPPs. O Estado sozinho não aguenta levantar sozinho o que o temporal – seja o do clima seja o da ação dos homens irresponsáveis fiscalmente, derrubou. Vamos lá?

* Yeda Crusius é presidente Nacional do PSDB-Mulher, deputada federal no quarto mandato pelo Rio Grande do Sul, ex-governadora e ex-ministra do Planejamento.

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31 janeiro, 2018 Artigosblog Sem commentários »

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