Ex-diretor da J&F promete entregar à CPMI documentos de delação premiada


Izalci acredita que algo pode estar por trás da recusa de continuação da delação de Saud

A CPMI da JBS realizou audiência pública nesta terça-feira (31) para ouvir o ex-diretor de Relações Institucionais da J&F Ricardo Saud. Apesar de ter invocado o direito constitucional de ficar calado, Saud respondeu a questões pontuais levantadas pelos parlamentares.

Um dos requerentes da oitiva, o deputado Izalci Lucas (DF) defendeu que a CPMI sugira ao Supremo Tribunal Federal e à PGR que o acordo de delação premiada de Saud tenha continuidade. O executivo disse que tem todo o interesse de falar o que sabe sobre as negociatas do grupo J&F tão logo a continuidade de seu acordo prevaleça.

Em setembro, o então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, decidiu rescindir o acordo de delação de Saud e de Joesley Batista e oferecer denúncia contra eles por obstrução de Justiça, além de ter solicitado a conversão da prisão temporária de ambos em preventiva. Os pedidos foram aceitos pelo relator da Lava Jato no STF, ministro Edson Fachin. Atualmente, Ricardo Saud está preso no Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília, e Joesley Saud está na sede da superintendência da Polícia Federal em São Paulo, na Lapa.

A decisão da Procuradoria de rescindir o acordo ainda precisa ser homologada pelo ministro Edson Fachin. A rescisão do acordo dos delatores foi tomada após investigação aberta por decisão de Janot para apurar a omissão de informações no acordo de colaboração premiada firmado por três dos sete delatores da JBS após a descoberta de novas gravações.

Para Izalci, é importante que a verdade venha à tona. O tucano avalia que, entre a delação de Saud e a de Joesley Batista, é possível que Saud tenha muito mais a revelar e mais segurança em suas colocações.

O deputado acredita que algo pode estar por trás da recusa de continuação da delação de Saud. “Será que alguém não quer essas provas e está atrapalhando essa delação?”, questionou. “Tanto a concessão da delação, como o vazamento, parecem muito açodados, pois aconteceram muito rapidamente, de forma combinada”, supõe o tucano. Izalci pediu que a CPI mantenha a convocação a Saud para que ele volte ao colegiado, caso o ministro Fachin permita a continuidade do acordo de delação.

Saud disse ter apresentado mais de 30 anexos à PGR e possuir cópia de tudo. Ele ainda afirmou que repassará o material aos parlamentares. Mas permaneceu em silêncio durante praticamente toda a oitiva com os deputados e senadores. “A primeira vez que sentei para falar a verdade, fui preso. Imagina se eu continuar falando”, disse.

Questionado por Izalci e pelo deputado Paulo Pimenta (PT-RS), Saud admitiu que seus advogados também prestam serviços para os irmãos Batista e a J&F, o que levantou suspeições entre os membros da CPMI, já que as informações negociadas pelo executivo com o Ministério Público poderiam ter um efeito devastador para Joesley e Wesley Batista.

REQUERIMENTOS APROVADOS

Ainda nesta terça-feira, a CPI Mista aprovou requerimentos apresentados pelos parlamentares. Entre eles, o de convocação do empresário Victor Garcia Sandri, amigo do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega. “O Victor foi intermediário do Mantega, teve participação na CPI do Carf, é uma figura já conhecida. Está clara a participação dele no BNDES e em outros esquemas que existiam no Executivo. É importante a participação dele para esclarecer o destino dos recursos desviados, pois se sabe que houve muito recurso enviado ao exterior”, relatou Izalci.

Foi aprovada também a convocação do procurador Eduardo Pelella como testemunha. Os parlamentares ainda acataram sugestão de realizar audiência pública para debater as delações premiadas. Serão convidados, entre outros, o ministro Gilmar Mendes, o juiz Sergio Moro e o procurador Deltan Dallagnol. 

O deputado Miguel Haddad (SP) demonstrou preocupação com a grande quantidade de depoimentos ainda não realizados. “Se não definirmos um cronograma e uma agenda, não terminaremos o trabalho que começamos. Estou insistindo nisso porque o tempo é exíguo e estamos aqui para dar uma resposta à sociedade, para fazer um trabalho sério”.

(Reportagem: Djan Moreno/ Foto: Geraldo Magela/Agência Senado)

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31 outubro, 2017 Últimas notícias Sem commentários »

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