Cortar ainda mais – Análise do Instituto Teotonio Vilela
Bastou um ano para que o Banco Central promovesse uma baixa que pode fazer história na taxa básica de juros do país. Falta apenas mais um tiquinho para que a Selic desça a seu menor patamar em 60 anos e, melhor de tudo, permaneça por lá por bom tempo.
O juro estratosférico é uma das mais graves anomalias da economia brasileira. Torna a dívida pública uma carga ainda mais pesada, encarece o crédito, embota o investimento e esfria o consumo. Juro alto é necessário, e isso não se discute, em momento de inflação alta. Na baixa, torna-se dispensável. É o nosso caso presente.
Ontem o Copom (Comitê de Política Monetária) do BC determinou o nono corte consecutivo na Selic. O mergulho começou há exatamente 12 meses, quando a taxa ainda estava em impensáveis (vistos de hoje) 14,25% ao ano. Caiu agora praticamente à metade, 7,5%, e deve cair mais um naco na última reunião do ano, em dezembro.
O que mudou em tão pouco tempo para redução tão pronunciada quanto benigna? O fator mais relevante foi a queda acentuada da inflação, objetivo explícito da política de juros do BC brasileiro. O IPCA despencou de 7,9% em outubro do ano passado para os atuais 2,5%, sempre considerando o acumulado em 12 meses. Até onde as projeções alcançam, não deve escapar da meta de 4% anuais.
Safra agrícola recorde, barateando alimentos, uma política econômica mais austera e, também, a recessão, que fez as famílias quase parar de consumir, explicam a queda acentuada dos índices de preços nestes últimos meses – os IGPs, por exemplo, estão em deflação neste momento.
O mergulho atual da Selic tem tudo para ser em tudo diferente da aventura que caracterizou os cortes na taxa básica patrocinados pelo governo da ex-presidente Dilma Rousseff entre 2011 e 2013. Aquela rodada irresponsável de impulso monetário está na raiz da crise econômica monstruosa que veio a seguir e que só agora vai se dissipando.
A queda da Selic espraia efeitos benéficos a granel. A começar pelas contas públicas. Estimativas feitas pela IFI indicam que os cortes feitos até a reunião de setembro já haviam representado economia anual de R$ 80 bilhões com pagamento de juros da dívida pública. Neste sentido, se o corte de ontem tivesse sido só um pouquinho mais ousado, de um ponto, o governo já economizaria mais R$ 2,6 bilhões por ano, segundo a consultoria Tendências. Não é pouca coisa em tempos de aperto fiscal.
O juro real brasileiro situa-se hoje perto de 3% ao ano, o terceiro mais alto do mundo. Perto de outras economias, onde ele é próximo de zero, ainda está muito alto. Mas as deficiências que o Brasil continua carregando ainda impedem cortes mais ousados, para níveis realmente civilizados. Este, contudo, deve ser o objetivo, a fim de que a nossa economia se livre de vez desta aberração.
(fonte: ITV)
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