PSDB: cooptação ou convicção, por Marcus Pestana


O debate livre e aberto é elemento central na democracia. Longe do sectarismo e de preconceitos, é possível construir consensos progressivos a partir de posições diametralmente opostas.

Foi com certa surpresa que recebi o agressivo artigo do grande sociólogo e articulista Demétrio Magnoli, no GLOBO de 24 de agosto. Na verdade, o artigo simula um diálogo a partir de uma ótica unilateral e preconceituosa. Não tive a chance de responder às perguntas a mim dirigidas. O viés que contamina o artigo se encontra em frases do tipo “a frase melíflua de Pestana”, “Marcus Pestana, um dos capitães da facção de Aécio Neves”, “Que tal, Pestana, retornar ao ninho quente do PMDB?”.

Sou leitor cativo de Demétrio, que foi um dos poucos intelectuais que escapou do apagão de ideias na era de hegemonia petista. E pela admiração e respeito que tenho é que dedico a melhor forma de elogio: a crítica.

O articulista tenta me desqualificar como porta-voz de uma facção. Infelizmente tenho o péssimo hábito de ter ideias e atitudes próprias. E traça um perfil como se eu fosse um tradicional político carreirista, fisiológico e clientelista. Demétrio não deve se lembrar de que nascemos no mesmo berço: o movimento estudantil. Ele, como líder da famosa “Libelu”, quando sua militância era iluminada pelo trotskismo posadista; e eu patinando na ortodoxia marxista-lenista como presidente do DCE/UFJF. Vamos lá repor alguns pingos nos is.

FHC realmente une o PSDB, partido do qual sou fundador, saído exatamente do PMDB, quando era vereador e seu líder na Câmara Municipal de Juiz de Fora. Portanto, não há nenhum saudosismo buscando qualquer ninho quente, como o proposto. O que houve é um processo real, legítimo e profundo de divergência sobre a conjuntura brasileira. Mas o futuro nos unirá.

Fui o primeiro a usar o termo “presidencialismo de cooptação”, em artigo de 2012, avançando o conceito cunhado por Sérgio Abranches. Há muito, as bases do sistema político brasileiro foram corroídas e a governabilidade dificultada pela fragmentação partidária e pela cultura patrimonialista e clientelista.

A ala majoritária do PSDB reúne ministros, governadores, a maioria de nossos senadores, prefeitos importantes e metade da bancada na Câmara. Nosso apoio ao governo de transição se dá em torno de uma agenda de reformas e mudanças e da responsabilidade natural que temos como protagonistas do impeachment de Dilma. Não fomos cooptados. Nossa posição brota do interesse público e nacional, e não em função de verbas e cargos. Ou se imagina que a regulamentação da terceirização, a mudança do marco do pré-sal, a TLP, a reforma trabalhista, o teto de gastos, a Lei das Estatais e as privatizações caíram com a chuva ou vieram com o vento. Não. Foi uma construção política.

Não somos contra nenhuma autocrítica, prática salutar. Mas, a queremos bem feita. Erramos onde, como, quando, quem? No nosso ponto de vista, a propaganda de TV foi equivocada sim, na forma e no conteúdo. Mas isso é página virada.

Nossas referências não são Gustavos e Wellingtons, são Mário Covas, Franco Montoro, José Richa, Ulysses Guimarães, Teotônio Vilela, Tancredo Neves. E, principalmente, nossa história, nossas ideias e ações passadas. Em 2018 estaremos juntos. Mas, para isso, temos que ter alguma ponte para o futuro, por mais precária seja.

(*) Marcus Pestana é deputado federal (PSDB-MG). Artigo publicado no jornal “O Globo” em 06/09/17.

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6 setembro, 2017 Artigosblog Sem commentários »

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