Liberdade, liberdade abre suas asas sobre a Venezuela, por Marcus Pestana
A democracia é um valor universal. A liberdade é uma conquista contemporânea. Não pode ser relativizada. Não é meio, é fim em si mesmo. É inegociável. É patrimônio coletivo e princípio básico.
Impossível ficar insensível, impassível, diante das cenas dramáticas que diariamente recebemos pelas redes sociais e que brotam dos celulares da juventude venezuelana. Cenas às vezes inacreditáveis, que parecem vir das telas de cinema, dos filmes de ação mais violentos. Jovens que levantam alto, com coragem e amor ao país, a bandeira da liberdade, assassinados, fria e cruelmente, nas ruas e nas praças das principais cidades. Pessoas indefesas sendo fuziladas a céu aberto pelas forças da repressão e pelas milícias bolivarianas. Já são mais de cem mortos e milhares de feridos, frutos da violência criminosa contra as manifestações populares.
Líderes oposicionistas são presos ou cerceados em suas liberdades básicas. A imprensa é censurada. A liberdade de organização e expressão é substituída pela mais odiosa ditadura.
O regime ditatorial populista de Chaves e Maduro produziu o maior desastre econômico da história venezuelana. Desorganização do sistema, desabastecimento, hiperinflação, aumento da miséria e fome. Milhares de venezuelanos penetram as fronteiras do país por Roraima diante da desesperança e da falta de horizonte produzidas pelo chavismo. Relatos comoventes transbordam na televisão. Alguns refugiados dizem ter perdido 30 kg desde o começo da crise.
O fenômeno bolivariano na Venezuela é complexo e instigante. A ideologização da sociedade foi levada ao extremo, e o autoritarismo tem uma significativa base de massas, mobilizada não só pelas ideias, mas pelos privilégios comprados pelos petrodólares.
A última jogada de Maduro para se perpetuar no poder e consolidar uma ditadura aberta foram a convocação e a instalação de uma “Constituinte” paralela à Assembleia Nacional, erguida a partir do desrespeito ao voto universal e de uma matriz corporativa protofascista, visando fundar a “nova ordem bolivariana”.
Diante do absurdo quadro de desrespeito à democracia e aos direitos humanos, é de cair o queixo a postura da esquerda brasileira, particularmente a do PT. É inacreditável que a presidente do partido, senadora Gleisi Hoffmann, tenha deixado cair a máscara do autoritarismo e manifestado oficialmente que “Maduro é vítima” e que o PT “manifesta seu apoio e solidariedade” ao governo Maduro, que está exposto a uma “violenta ofensiva de direita”.
A liberdade, a paz, a democracia e os direitos humanos não são de direita ou de esquerda. São conquistas civilizatórias da humanidade. Mas o PT não entende isso e mancha-se com o sangue dos jovens assassinados nas ruas de Caracas.
(*) Marcus Pestana é deputado federal pelo PSDB-MG. Artigo publicado no jornal “O Tempo” em 21/8.
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