TAM: Uma Tragédia, 10 Anos Depois, por Yeda Crusius
O que aconteceu com o voo 3054 da TAM, há 10 anos, não foi “acidente” porque a tragédia era previsível. O Brasil vivia o limiar de um caos aéreo. Grandes companhias haviam quebrado, em crescente concentração no setor. Primeiro a Vasp e a Transbrasil desapareceram. Quando a Varig encerrou atividades, em 2006, Gol e TAM dominavam o mercado, sem estar preparadas para a responsabilidade. Isso aconteceu apesar de toda a luta que por 3 anos e meio a Frente Parlamentar Mista em Defesa da Varig, que presidi, travou, justamente às vésperas da solução, pois estourou o escândalo do Mensalão em 2005 e o governo paralisou, nessa e em outras inciativas também.
Da tribuna, o deputado Júlio Redecker, líder da Minoria, denunciou o quanto estava perigoso viajar. Consciente dos riscos, ele havia participado de plantões nos aeroportos para recolher vinte mil assinaturas para a instalação da CPI do Apagão na Câmara. Uma semana depois do alerta, em 17 de julho de 2007, Júlio estava na lista de pessoas a bordo do Airbus da TAM, que saiu de Porto Alegre com destino a São Paulo e derrapou na pista molhada e curta de Congonhas. Naquele dia morreram 199 pessoas, noventa e oito gaúchas.
Morreram com ele sete representantes do grupo “Tricoteiras dos Precatórios”, aposentadas e pensionistas do Rio Grande que tricotavam na praça em frente ao Piratini, em protesto pelo não-pagamento de precatórios de governos anteriores – que coube a mim recomeçar a quitar fazendo aprovar e promulgar uma lei para isso. Levavam uma manta de 200 m com elas.
Era meu primeiro ano à frente do Governo do RS. Chamei todo o governo, e em especial o IGP-Instituto Geral de Perícias, para agir imediatamente, para ajudar no trabalho de identificação, em parceria com o de São Paulo, para abreviar a angústia das famílias. Em reunião com o então ministro da Defesa, Nelson Jobim, e parentes das vítimas, exigimos uma reparação, que jamais chegou, e que priorizasse a solução para o setor em crise.
O relatório final, divulgado mais de dois anos depois, em outubro de 2009, não apontou responsáveis pela tragédia,. Não há punidos. Por isso, a cada 17 de julho é preciso lembrar todas as 199 vidas que tiveram ali abortados projetos e sonhos, e suas famílias, que sofrem sua falta e cobram por Justiça. É o que buscamos todos.
* Yeda Crusius é economista e deputada federal pelo PSDB/RS em seu quarto mandato. Já ocupou os cargos de Ministra do Planejamento e Governadora do RS.
Deixe uma resposta