Carta de Formulação e Mobilização Política
A França aponta o caminho – Análise do Instituto Teotonio Vilela
A vitória de Emmanuel Macron na França tem muito a ensinar à política brasileira. Mais novo presidente da história francesa, ele elegeu-se a bordo de uma agenda de reformas, com viés liberal, e resistindo aos extremos populistas e estatizantes da plataforma de seus adversários. Oxalá, aponte caminho para o Brasil que irá às urnas em 2018.
Apesar da distância oceânica no nível de riqueza, França e Brasil têm muitas semelhanças. O país europeu convive com um gigantesco setor público que drena 57% da riqueza nacional, o mais caro entre as nações desenvolvidas. O corporativismo também é marcante na economia francesa. 9% da população local é composta por funcionários públicos.
O programa de governo de Macron começa pela redução deste Estado balofo. Inclui reforma trabalhista, manutenção de idade mínima para obtenção de aposentadoria, desburocratização de negócios privados e maior integração comercial com o resto do mundo. Desnecessário dizer, tudo muito similar ao que o Brasil precisa fazer.
Em termos mais objetivos, a plataforma de Macron contempla corte de 120 mil cargos públicos, uma gota perto dos quase 6 milhões de servidores que o Estado francês mantém. E também a redução de impostos e encargos sobre salários, além de prever a possibilidade de flexibilizar a jornada de 35 horas semanais de trabalho para estimular a geração de emprego e brecar os 10% de desemprego.
Emmanuel Macron foi eleito com 66% dos votos válidos defendendo abertamente ajuste nas contas públicas, cortes de gastos, enxugamento da máquina. Levará adiante uma reforma para moralizar a política. E temperou sua plataforma econômica liberal com a defesa de direitos e liberdades individuais, bem como medidas ambientais em favor de uma matriz energética mais limpa em toda a Europa.
Lá como cá, as reações são previsíveis. No primeiro dia após a vitória de Macron, já aconteceram os primeiros protestos antirreforma. Nenhuma surpresa: mobilizam-se os sindicatos, sempre eles, contrários ao que consideram “perda de direitos”. Qualquer semelhança com os congêneres brasileiros não é mera coincidência…
As reações são prova do êxito de Macron. Ele venceu porque teve lado. Foi direto e firme ao defender suas propostas. Venceu porque topou enfrentar o populismo, tanto de extrema direita quanto de extrema esquerda, cujos partidários preferiram ficar em casa a votar no domingo. Macron triunfou por resistir a políticas protecionistas e antiglobalização. Sagrou-se vitorioso sem prometer o inexequível, sem usar a mentira para conquistar votos.
Seu desafio agora é transformar o apoio que obteve nas urnas no domingo em suporte parlamentar, em eleição marcada para junho, e conquistar os reticentes que preferiram se abster ou votar branco e nulo anteontem (37% dos votos totais).
A vitória do candidato do En Marche! na França talvez ensine que uma agenda claramente liberal e reformista tem grandes chances de êxito em economias engessadas por corporativismos, direitos considerados arraigados e intocáveis e privilégios deploráveis em nações vergadas pelo peso do Estado. Um belo farol para o Brasil.
(fonte: ITV)
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