O legado da Lava Jato, por Fábio Sousa
Como em todo caso investigativo e jurídico, a Lava Jato não é perfeita. Em que pese alguns questionamentos que podem ser feitos, é inegável que seus acertos são bem maiores do que seus erros e mais inegável ainda o seu legado para a nação.
Fora os processos e as condenações de corruptos e corruptores, que pela primeira vez levou ao banco dos réus poderosos empresários e políticos, e a recuperação de recursos desviados somados e acordos firmados, que já ultrapassam R$ 11,5 bilhões até fevereiro deste ano, o que mais chama atenção é o que a operação está causando na forma de se fazer política e também do trato com erário e com a coisa pública.
A política brasileira jamais será a mesma. Os financiamentos de campanha mudaram e mudarão significativamente. Não falo apenas da mudança da lei em que se proibiu financiamento privado. Falo também no combate ao caixa dois, pois para um empresário hoje doar em caixa dois para uma campanha pensará duas, três vezes antes. O detentor de mandato também, ao negociar sua influência em troca de recursos.
Juntamente com a operação surgiu uma população mais participativa, disposta a cobrar posicionamentos de seus representantes e governantes. Seja nas ruas através de protestos, seja nas redes sociais, inflamam uns aos outros a ficarem vigilantes e a criticarem.
À classe política cabe a reflexão e a tomada de posicionamento. A política brasileira mudou. E essa mudança – Deus abençoe! – veio para ficar. Contentar-se com o salário, que já e muito, e trabalhar. O alerta serve também aos poucos eleitores que ainda insistem em velhas práticas na hora de barganhar o voto.
Devemos apoiar o processo de limpeza em que o país vive, buscando a diferenciação entre o joio e o trigo, não permitindo a generalização burra, mas a observação inteligente. Devemos permitir e honrar o estado de direito, onde todos têm acesso à ampla defesa, em qual o Judiciário tem a liberdade de trabalhar, claro resguardado o direito à livre expressão.
O legado da Lava Jato veio para ficar. A política brasileira mudou. A consciência eleitoral e política finalmente brota na sociedade, e quem sabe o anseio popular venha finalmente brotar na consciência política – Deus abençoe que sim!
*Artigo do deputado Fábio Sousa, historiador, teólogo e gestor público. Publicado no jornal “O Popular”
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