Carta de Formulação e Mobilização Política
Cortar para crescer – Análise do Instituto Teotonio Vilela
Uma das maiores anomalias da economia brasileira são os juros. A esquisitice foi agravada nos anos recentes pelos governos petistas, cuja irresponsabilidade praticamente obrigou o Comitê de Política Monetária (Copom) a lançar as taxas para a órbita da lua. Está na hora de começar a trazê-las de volta à Terra.
Hoje, depois de 42 meses em alta e/ou manutenção, a Selic deve ser finalmente reduzida pelo Copom. Nesta decolagem, a taxa básica dos juros praticamente dobrou, saindo de 7,25% desde a primeira elevação do atual ciclo, em abril de 2013, para os atuais 14,25% ao ano, patamar em que está estacionada há 15 meses.
O Brasil continua firme na liderança isolada do ranking mundial de juros reais. Paga-se hoje para remunerar o capital no país 8,7% ao ano além da inflação projetada. Mesmo se o Copom for fundo na tesourada, o que não parece o mais provável, ainda praticaríamos taxas duas vezes maiores que as do segundo colocado da lista, a Rússia. O juro médio nas 40 principais economias do mundo atualmente é negativo em 1,9%, de acordo com o portal Moneyou.
O juro alto foi o antídoto possível para evitar que os preços não explodissem de novo no país sob o olhar plácido e leniente da ex-presidente Dilma Rousseff e sua equipe de alquimistas. Foi o tempo em que reinou a furada teoria de que um pouquinho mais de inflação não dói. Não só doeu como ainda tem marcas visíveis na grave situação econômica do país.
As taxas estratosféricas são também a contraface do vale-tudo fiscal que imperou nas gestões petistas, a gastança que o governo Michel Temer ora tenta conter com a aprovação do teto para as despesas federais – e contra o qual os irresponsáveis de anteontem se digladiam… Quanto mais o petismo torrava dinheiro, mais o torniquete dos juros teve que ser apertado. Pagamos todos nós.
As consequências, como não poderia deixar de ser, são perversas. Nos últimos 12 meses, o país gastou nada menos que R$ 420 bilhões com pagamento de juros da dívida. Isso dá quase 7% do PIB. No entanto, não fosse a política monetária mais apertada, talvez o país tivesse mandado para o espaço sua mais relevante conquista econômica em décadas: a estabilidade da moeda.
O Copom poderá decidir-se hoje mais tranquilamente pela queda da Selic porque agora as condições se apresentam mais benignas para o controle da inflação. Os preços dos alimentos, que azucrinaram o bolso dos consumidores nestes últimos anos, e dos serviços estão cedendo, a ponto de setembro ter registrado o menorIPCA para o mês desde 1998.
O corte de juros é medida necessária, mas não suficiente, para repor a economia do país nos trilhos do crescimento. Mas, dada a destruição que a irresponsável gestão petista promoveu, é preciso ir devagar com o andor. A contrapartida obrigatória será conter os gastos públicos, para o que a aprovação do teto de despesas é imprescindível.
(fonte: ITV)
Deixe uma resposta