Até quando?, por Rogério Marinho


De dois em dois anos o MEC avalia o ensino brasileiro por meio de testes de matemática e português aplicados a estudantes da rede municipal, estadual e particular do 5º e 9º anos do ensino fundamental e para alunos que estão finalizando o ensino médio. Infelizmente, não há o que comemorar. Os resultados, invariavelmente, mostram que ainda há muito a ser feito. Dada a exiguidade do espaço vou me limitar, neste artigo, aos dados de matemática.

Em matemática nos anos iniciais do ensino fundamental (5º ano), a média obtida foi de 219,3 pontos. Tal desempenho está mais de 30 pontos inferior à nota mínima esperada. A nota média esperada é o patamar mínimo de desenvolvimento de habilidades e competências que o estudante testado deveria ter adquirido.

Portanto, a média mínima esperada é o nível em qual se possa afirmar que o estudante aprendeu o básico para avançar até a próxima etapa de ensino. No caso em questão, o ensino de matemática nos anos iniciais da escolaridade obrigatória está sumariamente reprovado. O impacto deste fato se dá em toda a sociedade e explica, pelo menos em parte, as causas de nosso subdesenvolvimento e do nosso atraso tecnológico.

Os resultados alcançados pelos estudantes dos anos finais (9º ano) do ensino fundamental são ainda piores. A nota em matemática, considerando todas as redes, foi de apenas 257,3 pontos. Esta nota está inferior à média mínima esperada em 42,3 pontos.

No ensino médio, ainda em matemática, alunos que estavam finalizando o terceiro ano tiveram a nota média de 267,6 pontos. Ligeiramente superior ao constatado para os anos finais do ensino fundamental. A nota obtida é inferior ao mínimo esperado em assustadores 82,4 pontos. Pior, entre 2005 e 2013, a nota média regrediu em quase quatro pontos.

O desempenho médio de nossos estudantes está muito aquém do esperado nas duas disciplinas avaliadas pelo MEC e em todas as etapas testadas. Na prática, os avanços são mínimos ou mesmo inexistentes. O diagnóstico não parece impactar as salas de aulas. Nenhuma providência consistente é tomada. A inépcia é a tônica.

O desmonte da qualidade de ensino, no Brasil, começa em 1997 com o estabelecimento dos parâmetros curriculares. Neles, foi estabelecido o construtivismo como base da alfabetização e da transmissão do conhecimento. Isto se agravou com a formação dos professores alfabetizadores a partir do curso de Pedagogia, que hoje forma profissionais mais preocupados com o ativismo político do que com a transmissão do conhecimento com evidência científica.

Esta distorção tem se refletido nas salas de aula com alto grau de analfabetismo funcional e índices inaceitáveis de proficiência. O ensino baseado no método fônico é tratado no Brasil como “decoreba” e atrasado. Este é um exemplo de como a doutrinação ideológica faz mal ao País e as nossas crianças. Diante de tantos resultados negativos chegou a hora de reconhecer o problema e começar a resolvê-lo, mudando radicalmente a formação de nossos professores alfabetizadores, que são a base do processo educacional.

É inevitável concluir que nossos estudantes estão aprendendo muito pouco em uma disciplina central do desenvolvimento individual e da própria Nação. Entrementes, o que mais assusta é que os dados não causam comoção nacional; parece tudo muito normal. Até quando aceitaremos passivamente esta verdadeira tragédia nacional?

(*) Rogério Marinho é deputado federal pelo PSDB-RN. Artigo publicado no “Novo Jornal”. (foto: Alexssandro Loyola)

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19 setembro, 2016 Artigosblog Sem commentários »

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