Lula, o réu, por Luiz Carlos Hauly
A “viva alma mais honesta deste país” foi transformada em réu por tentativa de obstrução da justiça pelo juiz Ricardo Augusto Soares Leite, da 10ª Vara Federal de Brasília. A decisão foi anunciada um dia depois de a “viva alma mais honesta”, que assina Luís Inácio Lula da Silva, ter denunciado à Comissão de Direitos Humanos da ONU estar sendo “perseguido” por outro juiz, Sergio Moro. Titular da 13ª Vara Federal de Curitiba, Moro é responsável pelos processos da Operação Lava Jato, que desbaratou o maior esquema de corrupção da história brasileira. Segundo Lula, Moro tem agido em relação a ele “sem imparcialidade”.
A aceitação da denúncia contra Lula, e que se refere à tentativa de comprar o silêncio do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, condenado pela Lava Jato, é a primeira de uma série que deverá ser formalizada nas próximas semanas, tamanho o volume e gravidade das acusações que recaem sobre ele. A Lava Jato o investiga por corrupção, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica e organização criminosa; a Zelotes devido à suspeita de ter usado o filho caçula Luís Claudio como “laranja” no recebimento de propina decorrente da renovação de medidas provisórias em benefício de montadoras de veículos; o Ministério Público Federal de Brasília suspeita que tenha feito “tráfico internacional de influência” depois de colocar na presidência da República sua enteada Dilma em troca da carta branca para fazer do governo um instrumento de seus interesses políticos e pessoais. E está nas mãos do juiz Moro pedido de prisão preventiva de Lula por causa do tríplex no Guarujá, cujos indícios apontam ter sido um “pixuleco” que a OAS deu ao ex-presidente por seus favores.
A lista é longa, densa e tende a aumentar: a Lava Jato deve iniciar nos próximos dias investigação sobre os empréstimos do BNDES às empreiteiras amigas de Lula, as mesmas que o contrataram para fazer “palestras” e contribuíram financeiramente com o Instituto Lula. “Palestras” que renderam ao ex-presidente R$ 27 milhões e ao seu instituto o mesmo valor ou mais.
Esse é o resumo das investigações sobre Lula, aquele que prometia fazer da Presidência da República o quartel-general de uma cruzada pela moralidade da vida pública. Uma vez lá, fez exatamente o oposto, transformando a Presidência num inescrupuloso balcão de negócios bilionários para o PT, seus líderes e ele próprio – que não se esqueceu da família, contemplada com benesses e negócios faraônicos.
Lula não terá tempo hábil para realizar seu sonho de voltar à presidência: a contundência das denúncias indica que até 2018 ele terá sido condenado em segunda instância, o que inviabilizará sua candidatura com base na Lei da Ficha Limpa. Essa é, para ele, a melhor das hipóteses: a pior é que esteja preso. A prisão preventiva, cuja duração pode ser renovada a critério do juiz, é esperada para qualquer momento.
Eis o que explica a recurso do ex-presidente à ONU. Não tem efeito prático algum, já que o Judiciário – que ele ofendeu ao recorrer ao organismo internacional – é soberano, mas seu movimento faz suspeitar que esteja se preparando para seguir o mesmo caminho de outros líderes apanhados com a boca na botija, como o peruano Alberto Fujimori e o italiano Bettino Craxi: fazer-se de “perseguido” para obter asilo político.
Para o ex-presidente, isso não apenas o livrará da prisão (pelo menos temporariamente), como o dispensará de assistir ao enterro do partido que criou, engrandeceu, corrompeu e matou.
(*) Luiz Carlos Hauly é deputado federal pelo PSDB-PR. (foto: Alexssandro Loyola)
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