Entrevista
Para Zylbersztajn, Petrobras vive situação ‘catastrófica’ não só pela corrupção, mas também por gestão desastrosa
Em entrevista ao portal do Instituto Teotonio Vilela, o ex-diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP) e ex-secretário de Energia de São Paulo David Zylbersztajn apontou não só a corrupção, mas a gestão desastrosa promovida pelos governos petistas, como fatores que levaram a maior empresa estatal do Brasil a uma situação catastrófica. “A empresa foi objeto de manipulação de todos os tipos, como por exemplo, o subsídio em relação ao preço dos combustíveis”, afirmou.
Segundo Zylbersztajn, também estão entre os erros de gestão na Petrobras os exageros na política de conteúdo nacional para fornecimento de equipamentos e decisões equivocadas nos investimentos, o que desestimulou a concorrência. “Como que alguém ia competir com a Petrobras, que comprava por 100 e vendia por 75 ou 80? Essa política tirou dinheiro do Tesouro, praticamente aniquilou o setor de etanol e transformou a Petrobras na empresa com a maior dívida corporativa do mundo.”
O ex-diretor da ANP explicou que a Petrobras tem hoje uma dívida equivalente a quase seis vezes o resultado operacional – em outras palavras, mesmo que a empresa só produzisse receita e não gastasse um real, demoraria seis anos para quitar seus débitos. “É mais do que o dobro do que se convencionou ser aceitável para uma empresa. A Petrobras tem que entrar no trilho”, disse. A missão de reequilibrar a estatal está nas mãos de Pedro Parente, que foi executivo de grandes empresas e ministro do governo Fernando Henrique Cardoso.
A saída para essa grave situação, na visão de Zylbersztajn, é um grande acordo com credores e a retomada de confiança na gestão e no futuro da Petrobras. “Os principais ativos de uma empresa de petróleo são suas reservas petrolíferas e a qualificação de seu pessoal. A Petrobras reúne as duas. Ou seja, potencial de recuperação a empresa tem, e os credores com certeza devem ter o maior interesse em fazer acordos para que ela se recupere”, assegurou.
PRÉ-SAL
Zylbersztajn ainda avaliou que o Brasil perdeu uma grande janela de oportunidades em relação ao pré-sal por escolhas erradas dos governos anteriores. “O pré-sal poderia ter sido muito melhor para o País se não tivessem mudado o sistema de concessão. Adotou-se o modelo de partilha que paralisou os leilões. Hoje, o fetiche que existia sobre o petróleo não existe mais. Todo mundo que puder achar uma alternativa ao petróleo vai usar”, afirmou o ex-diretor da ANP.
“Prova disso é que o setor que mais se desenvolve, gera empregos e investe no mundo é o de fontes renováveis. A tendência é o petróleo perder cada vez mais espaço na matriz energética mundial. Aquele ufanismo, aquela sujada de mãos não faz mais sentido nenhum no mundo atual.”
(Do Instituto Teotonio Vilela)
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