Venezuela não pode assumir o Mercosul, por Luiz Carlos Hauly
A Venezuela entrou no Mercosul pelas portas do fundo, em 2012, depois de uma maquiavélica manobra conjunta dos governos Dilma Roussef (Brasil), Cristina Kirchner (Argentina) e José Mujica (Uruguai). No primeiro ato, esses três países afastaram o Paraguai, já que o Governo de Assunção era frontalmente contrário a entrada da Venezuela no bloco desde 2006; no segundo ato, aproveitando o afastamento temporário do Paraguai, abriram as portas do Mercosul para receber a Venezuela bolivariana de Hugo Chaves, um país que há anos tem ignorado os princípios básicos da democracia.
Agora, pelo sistema rotativo de liderança do bloco, chegou a vez da Venezuela assumir a presidência do Mercosul. Se isto vier a acontecer, certamente será um desastre para toda região. Os governos de Michel Temer (Brasil), Maurício Macri (Argentina) e Horacio Cartes não querem nem ouvir falar nesta hipótese. O chanceler José Serra e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (como autoridade convidada) estiveram em Montevidéu tentando convencer o presidente do Uruguai, Tabaré Vásquez, a adiar, temporariamente, a transição da presidência para a Venezuela. Por enquanto, a situação continua indefinida.
Mesmo vivendo a pior crise da sua história, resultado do desgoverno que começou há 17 anos com Hugo Chávez, o presidente Nicolás Maduro insiste em assumir o Mercosul. Como um aloprado, Maduro parece ignorar o drama dos venezuelanos, que precisam cruzar a fronteira da Colômbia para comprar alimentos, enfrentam inflação recorde, sofrem blecautes sucessivos que se estendem por horas, semanas de trabalho de só dois dias, prisão de adversários políticos, além da perseguição oficial e violência de tropas bolivarianas contra um povo que a cada dia perde, mais e mais, o pouco que ainda resta da sua liberdade.
Criado em 1991 com o objetivo de abrir portas de negócios e expandir suas exportações para os Estados Unidos, Europa e Ásia, o Mercosul ainda não atingiu essas metas. Foi prejudicado nos últimos anos pela distorcida visão ideológica predominante nos governos de Lula/Dilma, Kirchner e Chávez/Maduro. Com Temer e Macri, o bloco pode romper essa barreira do atraso e do isolamento, mas precisa tomar cuidado para não capotar neste risco que significa a Venezuela assumir a presidência do Mercosul. O mínimo que os investidores exigem é segurança jurídica, um bom ambiente de negócio e o respeito às instituições e à democracia, e nada disto a Venezuela bolivariana pode oferecer.
Então, que o bom senso vença, pelo bem do futuro do Mercosul.
(*) Luiz Carlos Hauly é deputado federal (PSDB-PR) e 1º Vice-presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional. (foto: Alexssandro Loyola)
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