Sonho desfeito
Entregue com atraso, Ferrovia Norte Sul é palco de esquema de corrupção
Anápolis (GO), maio de 2014. Com três anos e meio de atraso em relação ao prazo de conclusão anunciado por Lula, a então presidente Dilma inaugurou um trecho de 855 quilômetros da Ferrovia Norte-Sul, ligando a cidade goiana a Palmas após investimentos de R$ 4,2 bilhões pelo PAC. Pouco mais de dois anos depois, a linha é palco de escândalo com a deflagração de uma operação da PF que investiga esquema de corrupção tendo ferrovias como pano de fundo. De acordo com o Ministério Público Federal, só os trechos executados da Norte-Sul trouxeram R$ 632 milhões de prejuízo aos cofres públicos.
Nesta quinta-feira (30), o deputado Giuseppe Vecci (GO) relembrou o dia em que acompanhou o lançamento do projeto de construção da Norte-Sul no município de Porongatu, no norte goiano, em 1988. “Lá se vão quase 30 anos construindo essa ferrovia e mesmo o trecho entre Palmas e Anápolis ainda não está em operação. “Os trilhos estão prontos, mas ainda falta muita coisa para criar condição comercial para operar”, ressaltou o parlamentar.
É nesse trecho que o MP contabiliza esse enorme prejuízo com o esquema corrupto. “É muito ruim para o país, que precisa de uma infraestrutura melhor para baratear a produção”, diz Giuseppe Vecci, lamentando que tudo isso complica ainda mais a economia brasileira.
Na manhã desta quinta, agentes federais munidos de 14 mandados de condução coercitiva e 44 mandados de busca e apreensão começaram a rastrear as informações com o objetivo de encontrar provas contra os acusados pelas falcatruas. A ação da Polícia Federal se estende pelos estados de Goiás, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Paraná, Bahia, Ceará e Distrito Federal.
O principal foco da nova etapa da Operação Recebedor, considerada um desdobramento da Lava Jato, é investigar um esquema de corrupção em contratos de construção das ferrovias Norte-Sul e Integração Leste-Oeste. Os contratos foram assinados entre a Valec, empresa estatal ligada ao Ministério dos Transportes, e as empreiteiras Odebrecht, Queiroz Galvão, Constran, OAS, Mendes Júnior, Camargo Corrêa entre outras.
A investigação começou a ser feita em fevereiro desse ano depois que a empreiteira Camargo Corrêa assinou acordo de leniência. Pelo acordo, a presidência da empresa se compromete a auxiliar nas investigações. E o principal alvo da ação é o ex-presidente da Valec José Francisco das Neves, conhecido como Juquinha. Ele teria recebido mais de R$ 800 mil em propina, paga a escritórios de advocacia e empresas de fachada indicadas por ele. Há suspeita de que apenas na gestão dele e do ex-presidente Luiz Raimundo Carneiro de Azevedo, o desvio de recursos alcançou R$ 23,1 milhões.
Segundo o deputado Giuseppe Vecci, essas falcatruas atrapalham ainda mais a possibilidade de se ter ferrovias de bom padrão para fazer o escoamento da produção. “É um longo caminho com a criação de entrepostos e percursos comerciais, mas que serão essenciais para o Brasil”, lamentou. Mesmo assim, o parlamentar diz que acredita nessa integração nacional, que cria a possibilidade de fazer o escoamento nos dois sentidos Norte-Sul e Sul-Norte, via Porto de Itaqui (MA).
Já as obras da Ferrovia de Integração Oeste-Leste, mesmo sem data para ser inaugurada, registraram um aumento de custo em R$ 2,2 bilhões. O orçamento inicial alcançava R$ 4,3 bilhões. A única promessa era de que até o primeiro trimestre de 2018 seria entregue um trecho total de 1 mil quilômetros da ferrovia, ligando as cidades de Barreiras, no oeste baiano, a Caitité e, finalmente a Ilhéus, no litoral da Bahia.
(reportagem: Ana Maria Mejia/foto: divulgação – Valec)
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