Atendimento insuficiente
Câncer de colo de útero ainda atinge milhares de mulheres no Brasil, lamenta Geraldo Resende
O Brasil tem 16 mil novos casos de ocorrência de câncer de colo de útero ao ano. Embora tecnicamente seja uma doença tratável, ela ainda é uma das principais causas de morte em mulheres no Brasil. Segundo o deputado Geraldo Resende (MS), é preciso buscar a melhoria do sistema. Para ele, há uma total incoerência entre o que existe para prevenção e tratamento e a frequência com que a doença é diagnosticada em estágio avançado e o elevado número de mortes.
Durante reunião de audiência pública nas comissões de Seguridade Social e Família e de Defesa dos Direitos da Mulher, o parlamentar questionou as razões de tantos números negativos. Médico com especialização em ginecologia e obstetrícia, Resende considera que o país tem situações díspares. “Ainda hoje, a maior incidência é observada nas mulheres mais simples”, afirma.
Hoje a legislação garante o rastreamento da doença – desde o diagnóstico até o tratamento completo. Há garantia do diagnóstico precoce, através do exame Papanicolau e da imunização em pré-adolescentes entre 9 e 13 anos. O câncer de colo uterino é a principal causa de morte de mulheres na região Norte, a segunda no Centro-Oeste, a terceira na região Sudeste e a quarta no Sul.
“Temos outros questionamentos quanto a adoção de medicamentos novos e eficientes que não estão disponíveis para mulheres com câncer invasivo”, afirma Geraldo Resende. O presidente da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, Jesus de Paula Carvalho, reiterou que a maioria das mulheres diagnosticadas com câncer de colo de útero chega ao pronto-socorro com queixas de sangramento. “Isso só ocorre dez anos depois de ter começado, o que demonstra que faltou fazer a prevenção e o exame”, afirmou.
A expectativa, segundo a responsável pela Divisão de Detecção Precoce e Apoio à Organização da Rede Inca, Maria Beatriz Kneipp Dias, é de redução nos números de ocorrência e morte. Segundo ela, 70% dos casos da doença são causados pelo vírus HPV 16 e HPV 18, que são os vírus combatidos na vacinação.
Um entrave no tratamento, segundo a presidente do Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos, Angélica Nogueira, é o número limitado de equipamentos, tanto para radioterapia, como braquiterapia. “Além das barreiras culturais, limitação de informação, acesso ao exame, o número de equipamentos é insuficiente”.
Ela ressalta que dos 270 equipamentos distribuídos no Brasil, nenhum está em Roraima. “No Instituto do Câncer de São Paulo há filas de espera de cinco meses para braquiterapia”, disse, ressaltando que o atraso nessa terapia provoca queda de 1% na sobrevida da paciente. “Daí a mulher já fragilizada pela doença é obrigada a fazer radioterapia numa cidade e braquiterapia em outra”.
Já para o presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, Gustavo Fernandes, o grande desafio é reduzir o diagnóstico tardio. “Essa doença oferece muitas oportunidades de cura – prevenção com vacinas, cirurgia, diagnóstico precoce e terapia curativa”, afirma. Ele ressalta que diante de tanta oportunidade de cura é vergonhoso que seja a terceira causa de morte no Brasil.
A diretora do Departamento de Atenção Especializada e Temática do Ministério da Saúde, Maria Inês Gadelha, afirma que segundo a pesquisa nacional de Saúde, a cobertura do exame de Papanicolau, que deve ser feito a cada três anos, alcança 74% das mulheres na faixa etária recomendada (entre 25 e 60 anos).
Em contrapartida, 45% das mulheres ouvidas não acham necessário fazer o exame e 25% disseram nunca terem sido orientadas. “Precisamos nos debruçar sobre esses números”, disse.
(Reportagem: Ana Maria Mejia/ Foto: Alexssandro Loyola)
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