Propina
Tucanos criticam silêncio de lobista sobre contas secretas de Cunha no exterior
O lobista Fernando Antônio Falcão Soares, o Fernando Baiano, confirmou ter entregado R$ 4 milhões a um funcionário do presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), chamado Altair, no escritório dele, no Leblon (RJ). O recurso era entregue em dinheiro, pelo próprio
Baiano.
Durante depoimento no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, Fernando Baiano exigiu que não fosse feita nenhuma imagem dele, nem fotos, nem vídeos, obrigando o deslocamento da imprensa para uma sala onde se ouvia apenas o áudio do depoimento. Ele é apontado na operação Lava Jato como operador de recursos para o PMDB, num esquema de propinas da Petrobras.
Os deputados do PSDB Betinho Gomes (PE) e Nelson Marchezan Junior (RS), que integram o Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, se irritaram com a decisão do depoente de não responder perguntas indiretamente relacionadas às acusações de que o presidente da Câmara teria contas secretas no exterior e de que teria mentido ao negar a existência delas ao depor da CPI da Petrobras.
“Está clara a estratégia daqueles que defendem o deputado Eduardo Cunha e também da defesa de tentar cingir o fato apenas o depoimento na CPI da Petrobras”, criticou Betinho Gomes. Ele argumentou que existe definição do Supremo Tribunal Federal de que quando há assuntos conexos, é possível abordar temas que ajudem a formar opiniões.
Segundo esse entendimento, quando há fatos novos, nada impede que o relator possa agregar novas informações para formar juízo e melhor esclarecer o contexto. O tucano lembrou que o dono do laboratório Labogen, Leonardo Meireles, afirmou em depoimento na CPI da Petrobras que fez centenas de repasses a contas offshore, sediadas na Suíça, mas não sabia quem eram os beneficiários pois seria apenas um facilitador. “O senhor, como operador, conhecia os beneficiários?”, questionou Betinho, sem obter resposta.
Já o deputado Nelson Marchezan Júnior desistiu de prosseguir os questionamentos diante da resistência de Baiano em responder as perguntas. Ao indagar sobre o envolvimento de outros políticos no repasse de dinheiro a Eduardo Cunha, foi contestado pelo advogado de defesa de Cunha, Marcelo Nobre, de que as perguntas deveriam se ater a suspeita que pesa contra o presidente da Câmara, atendendo decisão do primeiro vice-presidente da Casa, Waldir Maranhão (PP-MA).
Fernando Baiano disse que conheceu Eduardo Cunha num café da manhã, em 2009. Em 2010, pediu auxílio a ele para cobrar uma dívida de R$ 16 milhões do empresário Júlio Camargo, hoje condenado por desvios em contratos de aluguel de navios-sonda da Petrobras.
O acordo era de que se conseguisse receberia 20% do valor da dívida negociada para R$ 10 milhões. Ao final da negociação com Cunha, teria concordado em pagar 50% do valor. Uma das formas encontradas para fazer pressão foi apresentar requerimentos de informação sobre os negócios do empresário com a Petrobras.
Baiano disse que foi à casa de Eduardo Cunha várias vezes, sendo recebido no escritório do parlamentar. Também confirmou ter sido recebido no gabinete do deputado, em Brasília.
Fernando Baiano responde a processo por crime de corrupção e lavagem de dinheiro. Em dezembro de 2014, ele foi preso e fez acordo de delação premiada, homologada pelo Supremo Tribunal Federal em setembro.
(Reportagem: Ana Maria Mejia/ Foto: Alexssandro Loyola)
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