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“Tchau, querida”, por Elizeu Dionizio

O turbilhão de emoções intensas e constantes que durou os três dias de votação na Câmara dos Deputados da abertura do processo de impeachment da presidente, com sessão de quase 43 horas, me fez refletir o quanto me doei para que o final da votação tivesse o resultado que teve. Aqui, traço linhas – nem sempre lineares – de meu mais pleno sentimento por participar do que a história vai apresentar ao mundo.

Tudo começou na sexta-feira… Não! Tudo começou há mais de 10 anos, quando o PT assumiu a presidência e institui um plano de poder, que passou por corrupções nunca vista neste país. No começo um mensalão, depois venda de Medidas Provisórias e por último e por anos o Petrolão.

Carregado deste conceitos, vou me ater na sexta-feira, dia 15 de abril. Acordei cedo, fui para a Câmara dos Deputados. Burburinhos nos bastidores. A toda hora nova informação. Oposição tem votos para aprovar impeachment. Logo depois, Governo usa toda a máquina pública e passa a frente e agora tem garantida que o impeachment não avança. Assim, foi o dia. Muita tensão enquanto os líderes falavam a favor e contra o impedimento da presidente Dilma Rousseff.

Lá no plenário, eu e vários amigos do PSDB e de outros partidos nos manifestávamos a favor do Brasil. Com a bandeira do Brasil nas costas demonstrávamos o quanto queríamos mudanças, o quanto o povo quer mudanças.

Sessão mais longa da história, uma das mais ricas politicamente para mim. Ouvi discursos bem elaborados, outros nem tanto, o dom da oratória predominou. Argumentos bons pelo impeachment pipocavam, o mesmo contra o impeachment. Parlamentares manifestavam a opinião da sociedade, um vulcão de ideias. Parecia um laboratório com cientistas malucos, cada um a defender o que acreditava.

Vai dia, vai noite, vem dia, vai noite. Madrugada de domingo. Quando, após ter ficado na sessão horas a fio, sou convidado a presidir aquele momento histórico. Coração bate mais forte, palavras fogem da boca. Mas, sabia, ali estava a oportunidade que Deus me ofereceu para mostrar que todo o esforço dispensado não foi em vão. Foram horas, tentativas infinitas de convencer todos a votarem pelo impeachment, seguindo a vontade do povo.

Sentado na Mesa Diretora, presidindo aquele momento que a história vai eternizar, vi os outros parlamentares, que como eu a minutos antes, argumentavam a favor ou contra o impeachment. O blá, blá, blá era grande, a emoção maior ainda. Deputados, conversavam, conversavam, tudo aos meus olhos. Podia ver um por um, sem que vissem que os observava. Vi quem conversava com quem, quais estavam entusiasmado, quais já cansados pediam cama. Quase quatro horas da manhã de domingo, acaba sessão.

Dali a pouco recomeçam os trabalhos. Duas da tarde do domingo, ânimos acirrados, a conversa, os argumentos mudam para bate-bocas, ofensas, agressões verbais e até físicas. Estão em todos os cantos do plenário. Separo um grupo, vejo parlamentar cuspir no outro, ouço palavrões. Vivi a intensidade do momento. Que bom momento!!

Começa a votação. Num estalo me vem à cabeça toda uma vida, como num flash. Reflito que a materialização de minha participação neste momento histórico foi possível graças à confiança do secretário de Estado de Fazenda de Mato Grosso do Sul e deputado federal, Márcio Monteiro, que abriu mão por mim de estar na capital federal naquele final de semana, e do governador Reinaldo Azambuja, um grande amigo, que viu em mim a possibilidade de representar a vontade de Mato Grosso do Sul na votação do impeachment.

O coração aperta. À mente pulsa a gratidão a minha Juju, linda esposa e mãe de minha duas amadas filhas, que abre mão de minha presença por saber o quanto é importante esta missão.

Tudo acontecendo e na minha cabeça impera o reconhecimento de que cheguei até ali graças aos meus pais, o pastor Antonio Dionizio, e a minha mãe, missionária Elizabetah. Sem os cuidados deles, a educação e muito amor não estaria naquele momento histórico.

Olho para os lados, pensamentos retornam ao plenário que fervilha. Ouço cada parlamentar usar o microfone. Nervosismo para todos. Embora acostumados a falar em público, ali era um momento mágico, quando 513 – que foram 511 – decidiriam o futuro de 180 milhões.

Para mim não era diferente. Sou chamado, coração palpita mais, voz embarga. Penso este é o momento para dar meu recado. Dou. Em segundos resumo minha vida política. Lembro a cassação do prefeito de Campo Grande, Alcides Bernal, e que esta é a segunda vez que participo de processo de afastamento de um gestor público.

Digo SIM, e para fechar Tchau, Querida!!

Como foram gostosas estas palavras!! As saboriei como um manjar dos deuses. Emoção intensa!!

Agora, ao olhar os três dias do final de semana faço estas reflexões e chego a conclusão que agi de forma correta ao querer tirar do poder um governo corrupto, que só lesa o povo e, ainda por cima, ter o prazer de dizer para o mundo: Tchau, querida!!

Vi que ali terminou uma etapa e recomeça outra: a de aprovarmos o impeachment no Senado Federal. Então, ao trabalho, que ele continua…

(*) Elizeu Dionizio é deputado federal pelo PSDB-MS. 

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22 abril, 2016 Últimas notícias 1 Commentário »

Uma resposta para “Artigo”

  1. rubens malta campos disse:

    Parabéns Elizeu .Deixou bonito o seu nome na história do Brasil.

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