Debandada
Rompimento do PMDB com o governo agrava ainda mais situação de Dilma, avaliam tucanos
Na avaliação dos deputados do PSDB, a saída definitiva do governo do maior partido com representatividade no Congresso e que tem o vice-presidente da República agrava ainda mais a situação de Dilma. Durante reunião que durou menos de cinco minutos nesta terça-feira (29), o PMDB aprovou simbolicamente por aclamação uma moção na qual a legenda decreta o rompimento com o Planalto e pede aos ministros peemedebistas e outros ocupantes de postos na estrutura federal que entreguem os cargos.
Segundo os tucanos, trata-se de uma demonstração de que não há mais quem defenda a gestão corrupta da petista a não ser seu próprio partido e velhos aliados por pura identidade ideológica. Os parlamentars acreditam que outros partidos que ainda compõem a base de Dilma e ocupam cargos na Esplanada seguirão os passos do PMDB. Nesta quarta o Partido Progressista (PP) se reúne para decidir seu futuro.
Para o deputado Nilson Leitão (MT), o PMDB fez um serviço ao Brasil ao deixar o governo e apoiar o afastamento de Dilma. Segundo ele, o partido ouviu o voz das ruas. O tucano lembra que Michel Temer “sempre foi tratado como um personagem de segunda categoria aos olhos do PT, que nunca teve respeito ao vice-presidente”. Para ele, o rompimento do partido foi natural, diante dos malfeitos cometidos e do menosprezo a função do vice-presidente.
Cerca de metade dos deputados do partido já demonstravam descontentamento com o governo e votavam contrários a matérias de interesse do Planalto, boa parte deles defendendo publicamente o impeachment da presidente. “O que fizeram agora foi desembarcar desse governo que causou no Brasil sua maior crise ética, moral, econômica, e, acima de tudo, proferiu as maiores barbaridades e mentiras ditas pela presidente e pelo ex-presidente da República”, apontou Nilson Leitão.
De acordo com o deputado, a redistribuição dos cargos do PMDB para tentar cooptar apoio contra o impeachment já não surtirá efeito, pois é senso comum que a presidente cometeu irregularidades e tem que deixar o cargo. Segundo eles, os que querem um Brasil diferente não estão preocupados com cargos e não vão negociar com Dilma.
Antes mesmo da saída oficial do PMDB do governo, o então ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves, apresentou carta de demissão à Dilma, na segunda-feira (28). No texto, Alves, que era um dos sete ministros peemedebistas, deixou claro que o diálogo com o governo se exauriu. Já na moção aprovada por aclamação nesta terça-feira, a Executiva Nacional do partido destaca, entre outros pontos, que o rompimento com o governo se deu considerando escolhas erradas nas ações do governo, participação de integrantes do governo em escândalos de corrupção e o anseio da população por mudanças.
De acordo com o deputado Nilson Pinto (PA), a decisão por aclamação, que já era esperada, apenas mostra que o quadro do desgoverno Dilma é terminal. “Não há mais nada que possa salvá-lo. Nos próximos dias outros partidos seguirão essa mesma postura: deixarão a base e vão se unir a oposição”, avalia.
O deputado paraense acredita que até o dia do julgamento do impeachment na Câmara apenas PT e PCdoB ainda estarão ao lado da presidente. “Não acredito que ela junte a seu favor mais que 100 votos”. Nilson Pinto salienta que o impeachment de Dilma por crime de responsabilidade já é uma realidade, da qual o PMDB, como maior partido no Congresso Nacional, não pode se abster de apoiar – o que não poderia fazer mantendo a participação no governo.
O PMDB tem, atualmente, a maior bancada na Câmara, com 68 deputados. O apoio ao governo nunca havia sido unânime, mas as críticas a Dilma se intensificaram com o acirramento da crise econômica e a deflagração do processo de afastamento da presidente.
Durante a reunião que selou o rompimento do partido com o governo Dilma, o primeiro vice-presidente da sigla, senador Romero Jucá (RR), afirmou que “a partir de agora, o PMDB não autoriza ninguém a exercer cargo no governo federal em nome do partido”. “Se, individualmente, alguém quiser tomar uma posição, vai ter que avaliar o tipo de consequência, o tipo de postura perante a própria sociedade. Para bom entendedor, meia palavra basta. Aqui, nós demos hoje a palavra inteira”, afirmou.
(Reportagem: Djan Moreno/ fotos: Alexssandro Loyola)
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