Não vamos deixar chocar o ovo da jararaca, por José Anibal


As plateias de Dilma estão menores dia após dia (de sofrimento). Um pouco mais e ela estará falando para as paredes envidraçadas dos seus palácios. Mais isolada, mais “grandiloquente” na autorreferência e na busca de algum paralelo histórico, que logo se choca com sua desoladora realidade. Felizmente, ela não terá a chance de oferecer “meu reino por um cavalo”. Nem mesmo um quase réu que ela tentou salvar nomeando-o ministro.

Enquanto ocupar a cadeira que maculou, Dilma fez e faz muito mal ao Brasil e aos brasileiros. Mas ela é apenas o ovo da serpente. A autodenominada jararaca começou a operar antes dela. Jararacas, irmãs, sócias e similares “quebraram e pilharam o País”, nas palavras de Armínio Fraga.

Desnorteada, Dilma ainda clama pela falta de crime de responsabilidade para justificar o impeachment. Vá lá. Vamos dizer de outro modo: são irresponsabilidades criminosas que levam dois terços dos brasileiros a pedirem o seu impeachment. Estamos órfãos de governo e expostos a uma depressão econômica, política e moral que custa muito caro à população. A propósito, no desespero de quem vê o fim próximo, é absolutamente necessário impedir que novos crimes sejam cometidos, como o saque que começaram a fazer no FGTS e o crescimento incontrolável da dívida pública. E, embora o balcão de negócios tenha pouca eficácia no momento e a licenciosidade já nada possa assegurar, é dever da oposição monitorar todos os movimentos do que resta de governo para impedir novas ações criminosas. O impeachment virá e a Lava Jato vai continuar.

No jornal ‘O Globo’ de ontem (22/03/2016), dois cientistas políticos comentam o momento de baixa dos partidos. Ambos lamentam o enfraquecimento do PT. O primeiro, Carlos Ranulfo, da UFMG, diz: “Mas o enfraquecimento do PT significa também a perda da mais importante via de incorporação cidadã que o Brasil experimentou após a ditadura”. Não é verdade. A mencionada incorporação cidadã aconteceu com o Plano Real, o fim da inflação, a implementação da LOAS (Lei Orgânica de Assistência Social), votada no governo Itamar e implantada no governo FHC, dos Programas Bolsa Escola, Combate ao Trabalho Infantil, Vale Gás e a Lei de Responsabilidade Fiscal.

Não se faz política de combate à pobreza e à desigualdade com ações populistas e aventureiras, que ampliam benefícios sociais ao mesmo tempo em que a gestão incompetente e corrupta promove nova onda de empobrecimento, como estamos vendo hoje.

O segundo cientista político é Jairo Nicolau, da UFRJ. Ele pergunta: “A agenda de reformas sociais, o principal legado da era petista perderá força?”. O principal legado da era petista é a ruína generalizada e profunda que empobrece todos os brasileiros, especialmente os mais pobres. Chega de fantasia sobre a agenda reformista do PT. O petismo é avesso a reformas, conservador e oportunista para demonizar adversários. Entregará, como legado, a verdadeira e pior herança maldita de nossa história. Essa sim é a marca indelével que o lulopetismo deixará.

Irresponsavelmente, nunca consideraram que políticas de combate à pobreza e às desigualdades sociais são indissociáveis do crescimento econômico e da gestão competente dos recursos públicos. É por essa razão que os países desenvolvidos são os que mais investem em políticas sociais.

O Brasil carece de ação, recuperação. Não de reminiscências ideológicas vãs. No dia seguinte ao afastamento de Dilma, um desafio imediato se imporá às forças políticas e sociais que assumirão o governo. Recuperar e ampliar os programas sociais voltados para as populações mais pobres do Brasil, fortemente atingidas pelo réquiem do lulopetismo. Não poderá ser diferente. É o Brasil verdadeiramente solidário refazendo o caminho para o crescimento, com o Estado promovendo consistentes e duradouras políticas de justiça social.

(*) José Aníbal é presidente nacional do Instituto Teotônio Vilela e senador suplente pelo PSDB-SP. Foi deputado federal e presidente nacional do PSDB. Artigo publicado nesta quarta-feira, 23 de março de 2016, no Blog do Noblat, na versão on-line do jornal O Globo.

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23 março, 2016 Artigosblog Sem commentários »

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