Silêncio que diz muito


Investigação da CPI dos Fundos de Pensão revelará o que empresário se recusou a responder, acredita tucano

PicMonkey CollageIntegrante da CPI dos Fundos de Pensão, o deputado Rocha (AC) alertou nesta quarta-feira (9) que tanto o colegiado quanto o Ministério Público e a Polícia Federal vão acabar desvendando tudo o que o empresário Adir Assad ainda insiste em esconder. Condenado por ser um dos operadores de propina no esquema desvendado pela Operação Lava Jato, ele compareceu hoje ao colegiado, mas permaneceu calado, sem responder a questionamentos dos parlamentares sobre o envolvimento em negócios que geraram prejuízos aos fundos de pensão.

“Ele tem relações estreitas com a alta cúpula petista. Não é a primeira vez que ele é citado em casos de corrupção. O fato é que teve a oportunidade de se defender e não o fez. As informações que temos são gravíssimas e o que não for possível ser levantado pela CPI, não tenho dúvida que o Ministério Público e a Polícia Federal vão cumprir”, apontou Rocha.

Diante do silêncio de Assad, o presidente da CPI, deputado Efraim Filho (DEM-PB), acatou sugestão do líder do PPS, deputado Rubens Bueno (PR), de colocar em votação na próxima sessão da comissão um pedido de quebra dos sigilos bancário, telefônico e fiscal do empresário. Segundo Efraim, o histórico da CPI mostra que quem opta pelo silêncio acaba sendo condenado pela prática comprovada de crimes.

Assad foi condenado em setembro de 2015 por lavagem de dinheiro e associação criminosa e está desde dezembro em prisão domiciliar. Junto com ele, foram condenados Renato Duque, ex-diretor de Serviços da Petrobras; Pedro Barusco, ex-gerente de Serviços da estatal; e o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto.

Segundo o Ministério Público, entre 2009 e 2012, Adir Assad usou diversas empresas de fachada para intermediar pagamento de R$ 40 milhões desviados da Petrobras para Duque e Barusco.

Barusco, em sua delação premiada, apontou pagamento de propina por estaleiros contratados pela empresa Sete Brasil, criada por iniciativa da Petrobras para construir 28 navios-plataforma para a perfuração do petróleo do pré-sal. A Sete Brasil é uma das empresas que receberam investimentos da Petros – que detém 17% de suas ações – e enfrenta dificuldades econômicas, tendo deixado de receber recursos do BNDES, fundamentais para sua sobrevivência.

Além das acusações que já pesavam contra Assad, a revista “IstoÉ” revelou que, na delação premiada do senador Delcídio do Amaral (PT-MS), ex-líder do governo Dilma, ele é apontado como operador participante de esquema de arrecadação de recursos para o caixa dois de campanhas presidenciais petistas.

Ainda assim, Rocha ressaltou que a CPI tem cumprido sua função. “O papel da CPI é importante pois, assim como a Lava Jato começou a desvendar os braços da quadrilha na Petrobras, aqui começamos a desvendar outro braço dessa mesma organização criminosa e que prejudicou os funcionários de Petrobras, Correios, Caixa e Banco do Brasil. Só temos que lamentar pois aqui ele tinha a oportunidade de se manifestar e se defender diante dos trabalhadores prejudicados, o que não fez”.

PREJUÍZO BILIONÁRIO
Mais cedo, a CPI colheu o depoimento do presidente do Petros, Henrique Jäger, que admitiu um prejuízo de R$ 16 bilhões no fundo de previdência. É praticamente o dobro do que havia sido constatado em março do ano passado (R$ 8,114 bilhões).

O deputado Marcus Pestana (MG) alertou para a crítica situação da Sete Brasil, da qual a Petros é acionista. Conforme lembrou, o fundo de pensão investiu 1,5 bilhão em sua formação e questionou se a empresa é, em parte, responsável pelo prejuízo. Jäguer admitiu que a situação da Sete é delicada, mas afirmou que o prejuízo é decorrente da queda no valor de ações da carteira de investimentos do fundo e de outros fatores, como a correção do passivo do fundo pela inflação e a perspectiva de aumento real dos salários. Segundo ele, apesar disso, há recursos para pagar as aposentadorias dos funcionários da Petrobras.

Pestana afirmou, porém, que a participação do Petros na composição da Sete Brasil expôs perigosamente o fundo de pensão. “É uma coisa escandalosa o nível de exposição que colocaram a Petros e que a Lava Jato depois desvendou que a Sete que era um antro de corrupção. Parece-me o caso mais grave em que não houve uma avaliação sobre os riscos por parte da Petros, tanto que a Previ teve outro comportamento e não entrou nessa”, disse.

Em resposta a outro questionamento de Pestana, Jäguer disse nunca ter percebido tentativa de influência do PT – partido ao qual é filiado – na Petros, desde que assumiu a presidência. Efraim Filho rebateu dizendo que a razão era porque João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do partido que fazia as negociatas na instituição, está preso.

(Reportagem: Djan Moreno/ Foto: Alexssandro Loyola)

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9 março, 2016 Últimas notícias Sem commentários »

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