Final melancólico


Tucanos votam contra relatório final da CPI do BNDES e defendem indiciamentos novamente

Tucanos votaram "não" ao relatório que sequer pede indiciamentos.

Tucanos votaram “não” ao relatório que sequer pede indiciamentos, apesar de provas consistentes; na avaliação de parlamentares do partido, comissão teve desfecho melancólico.

Os parlamentares do PSDB que integram a CPI do BNDES votaram contra o relatório final do deputado José Rocha (PR-BA) apreciado nesta quinta-feira (25) pela comissão. Os tucanos apontam que, apesar de consistente e de expor problemas do banco de fomento, o texto não indica importantes medidas que precisam ser adotadas, principalmente no que se refere à investigação de agentes que atuaram de forma prejudicial contra a instituição.

Mesmo com os votos contrários da oposição, o texto do relator foi aprovado. Os tucanos criticaram a ofensiva empreitada pela base governista para impedir as investigações durante todo curso da CPI e voltaram a defender o voto em separado apresentado pelo partido na quarta-feira (24). Nesse texto, os deputados do PSDB propõem o indiciamento do ex-presidente Lula, do presidente do BNDES, Luciano Coutinho, e de empresários, entre eles, José Carlos Bumlai, amigo do petista que foi preso pela Operação Lava Jato.

O líder da Oposição na Câmara e vice-presidente do colegiado, deputado Miguel Haddad (SP), destacou que o relatório de José Rocha foi, no geral, de boa qualidade, mas teve um desfecho ruim e, por isso, não podia contar com o apoio do partido. Segundo ele, mesmo a inclusão de duas sugestões de projetos de lei apresentados pelo sub-relator Alexandre Baldy (GO) não foi suficiente.

“É um final melancólico e que nos dá a única certeza que temos que aprofundar as apurações. Na verdade não permitiram que a gente trabalhasse. Não ouvimos os principais atores, as pessoas com mais suspeitas pesando contra elas”, lamentou Haddad, ao citar o ex-presidente da República, que, em sua avaliação, pode ter sido o maior responsável por tráfico de influência na instituição.

“A CPI, na verdade, foi amputada, não se permitiu que a Comissão ouvisse os principais suspeitos como é o caso de Lula e dos diretores da JBS”, denunciou o líder. O deputado explicou que o financiamento subsidiado para empresas direcionadas foi “a forma de o ex-presidente levar dinheiro barato, dinheiro do povo, e que inclusive aumentou a dívida pública brasileira”.

No voto em separado apresentado pelo PSDB, os deputados pedem a investigação de Lula por supostas práticas de crimes de advocacia administrativa, corrupção passiva, tráfico de influência e lavagem de dinheiro. Para Baldy, o indiciamento não significa que ninguém esteja querendo condenar o petista, mas sim que ele tenha a oportunidade de ser investigado e, se for o caso, fique comprovado que não cometeu as irregularidades que as evidências têm apontado. 

Baldy destacou que os recursos públicos do BNDES não vinham sendo aplicados com lisura, o qeu deu para ser constatado mesmo com a atuação da base governista para impedir que a comissão trabalhasse. “Nossa obrigação era investigar um dos maiores bancos de fomento do planeta e que usa dinheiro público. Mas nós infelizmente não conseguimos alcançar êxito pleno por falta de tempo e de estrutura”, apontou o deputado. Em sua avaliação, a CPI foi uma das mais importantes já instaladas na Câmara, dado o volume de recursos movimentados pelo BNDES.

Para Betinho Gomes (PE), houve  uma tentativa explicita de se dificultar o acesso às informações necessárias para que a CPI fizesse seu trabalho. Segundo ele, faltou apoio técnico e a bancada do governo não permitiu a aprovação de requerimentos importantes para a apuração. “Ainda assim podemos ver que órgãos de fiscalização estão comprovando problemas graves nos contratos do banco”, avaliou.

O deputado Caio Narcio (MG) disse que a sociedade esperava por um desfecho diferente. “Esperava que pudéssemos elucidar as dúvidas sobre como o BNDES estava funcionando e por que os contratos estavam sendo feitos para as chamadas ‘empresas campeãs’, em detrimento das outras, e o porquê de um monopólio que tanto prejudicou o mercado”.

Caio também criticou a obstrução das investigações promovida por deputados governistas. Conforme lembrou, uma das motivações da abertura do colegiado foi o veto da presidente Dilma a lei aprovada pelo Congresso que  permitia acesso a documentos do BNDES considerados sigilosos.  De acordo com ele, mesmo com o funcionamento da CPI, a transparência sobre os contratos do banco não existiu.  O tucano também alertou para envolvimento direto de Lula nos negócios do banco.

Painel mostra resultado da votação do relatório final.

Painel mostra resultado da votação do relatório final realizada na manhã desta quinta.

O deputado João Gualberto (BA) ressaltou que essa não foi a primeira vez que o governo do PT conseguiu transformar uma CPI em pizza. Apesar disso, os tucanos ressaltaram a contundência do voto em separado apresentado pelo PSDB.

No relatório aprovado, o deputado José Rocha recomenda mudanças na gestão do BNDES de modo a aumentar o controle sobre empréstimos e, no lugar de indiciamentos, propôs o envio dos documentos obtidos pela CPI ao Ministério Público Federal, ao Tribunal de Contas da União e à Controladoria Geral da União para providências. Ele também sugeriu que o Tribunal de Contas da União (TCU) e a Controladoria Geral da União (CGU) tenham acesso a informações bancárias hoje protegidas por sigilo.

Também serão remetidos aos órgãos os documentos obtidos durante as investigações sobre empréstimos do BNDES ao JBS, à construtora Odebrecht e às empresas do grupo EBX – de Eike Batista, assim como sobre empréstimos para empreendimentos em Cuba e na Venezuela. Apesar de concordar com essas medidas, os tucanos as consideraram insuficientes e mantiveram o voto em separado, no qual pedem os indiciamentos, votando contra o relatório de José Rocha.

(Reportagem: Djan Moreno, com informações da Assessoria da Liderança da Minoria/fotos: Alexssandro Loyola)

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25 fevereiro, 2016 Últimas notícias Sem commentários »

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