Fundos de Pensão
Silêncio de Vaccari em CPI só reforça acusações de corrupção contra o petista, apontam deputados
O silêncio do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto durante oitiva na CPI dos Fundos de Pensão, nesta quarta-feira (3), foi considerado desrespeitoso por deputados do PSDB. Além de ser uma confissão de culpa do petista, acusado de operar esquema de pagamento de propinas em fundos previdenciários e estruturas do governo federal. O ex-tesoureiro cumpre prisão em Curitiba por envolvimento em atividades ilícitas investigadas pela Operação Lava Jato. Ele já foi condenado em primeira instância a mais de 15 anos de prisão por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e associação criminosa. Além disso, terá de pagar multa de R$ 4,3 milhões.
Vaccari foi convocado a prestar esclarecimentos na CPI após seu nome aparecer em depoimentos de pessoas envolvidas em suposta manipulação na gestão dessas instituições. Para o deputado Marcus Pestana (MG), sub-relator do colegiado e um dos autores da convocação do petista, o silêncio de Vaccari foi um profundo desrespeito com os aposentados e pensionistas dos Correios, Caixa, Banco do Brasil e Petrobras – empresas cujos fundos de previdência foram alvo das ações criminosas investigadas pela comissão. “Esse silêncio, além de tudo, revela a cumplicidade com o maior esquema de corrupção já montado no Brasil”, disse Pestana.
De acordo com o tucano, Vaccari demonstra total lealdade a uma “causa perdida”, que seria a perpetuação do PT no poder. Para ele, o ex-tesoureiro perdeu a oportunidade de tentar limpar sua honra. “É lamentável ver o sindicalista, que já deve ter tido boas intenções no início da carreira, participar dessa dilapidação do patrimônio dos trabalhadores para alimentar um projeto de poder. Esse silêncio é eloquente e revela a falência ética de um projeto”, criticou o deputado. A oposição chamou atenção para as reiteradas vezes em que Vaccari foi citado por delatores da Lava Jato, indicando sua efetiva participação nos desvios de recursos, como foi o caso da Petrobras, dos fundos de pensão e na Cooperativa Habitacional dos Bancários, a Bancoop, da qual foi diretor.
O deputado Rocha (AC) afirmou que Vaccari enterrou seu passado de lutas pelos trabalhadores ao se envolver nas irregularidades cometidas desde o início do governo Lula. “O senhor prejudicou o futuro dessas pessoas que aqui estão”, disse o tucano, ao citar os associados dos fundos de pensão, presentes à oitiva. O deputado lembrou ainda que Vaccari foi um dos mentores da arrecadação de propina para alimentar a campanha presidencial de Dilma Rousseff e lamentou que a legislação brasileira ainda seja “benevolente com corruptos”. “O povo brasileiro chegou ao limite. Não dá mais para sustentar uma organização criminosa que se entranhou em toda a estrutura pública”, apontou, ao dizer que Vaccari entra para a história do Brasil como um dos mentores da quadrilha.
TRÍPLEX DE LUXO
O deputado Samuel Moreira (SP) alertou para as acusações que pesam contra Vaccari em relação a negócios escusos envolvendo a Bancoop. A mulher do ex-presidente Lula, Marisa Letícia, comprou cotas da cooperativa para o condomínio Solaris, no Guarujá (SP), empreendimento assumido pela empreiteira OAS, investigada pela Lava Jato, após a falência da Bancoop. A cooperativa é investigada, pois pode ter sido usada para lavagem de dinheiro oriundo da Petrobras. Um esquema de offshores teria sido criado para enviar recursos ao exterior. O fato de Lula e o próprio Vaccari terem apartamentos em um dos prédios da cooperativa também levanta a suspeita de que ambos podem ter se beneficiado em detrimento de milhares de cooperados.
“É impressionante como o senhor se envolve na Bancoop. Todas as empresas que prestavam serviços eram de diretores da cooperativa. Aí o senhor Vaccari está no meio disso, como também está no meio do Petrolão. É por isso que deixo registrada minha indignação com esse silêncio aqui hoje”, apontou Moreira, ao ressaltar ainda as tratativas do ex-tesoureiro petista com diretores dos grandes fundos de pensão.
Também estava previsto para esta quarta-feira o depoimento de Lício da Costa Raimundo, diretor de investimentos da Fundação Petrobras de Seguridade Social (Petros). O executivo apresentou atestado médico, alegando problemas de saúde para não comparecer. A nova data para a oitiva ainda não foi definida.
(Reportagem: Djan Moreno/ Foto: Alexssandro Loyola/ Áudio: Hélio Ricardo)
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