Investigação

Integrante do Conselho de Ética vê com cautela anúncio do PT de apoio a processo contra Cunha

Marchezan lembrou que o PSDB assumiu uma postura clara quanto à admissibilidade do processo por entender que Cunha não apresentou uma defesa consistente.

O deputado Nelson Marchezan Júnior (RS) avaliou de forma cautelosa o anúncio feito pelo PT nesta quarta-feira (2) de que seus três representantes no Conselho de Ética votarão a favor da continuidade do processo contra o presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Após novo adiamento, a comissão apreciará o relatório apresentado por Fausto Pinato (PRB-SP) pela admissibilidade do processo apenas na próxima terça-feira (8).

Como lembrou,até o início da tarde esperava-se que PT “negociaria a ética e a moral”, não permitindo o avanço do processo contra ele no conselho para tentar enterrar a abertura do processo de impeachment contra Dilma, que depende de iniciativa do presidente da Câmara.

Para o tucano,o voto dos três deputados petistas a favor da continuidade do processo é importante para que a investigação aconteça e o Conselho de Ética possa unir as provas necessárias referentes às acusações que pesam contra Cunha. Mas o deputado ressalta que há um grande jogo nos bastidores que envolve não só a permanência de Cunha no comando da Casa, como também o mandato da presidente da República.

A opinião pública, segundo ele, precisa ficar atenta.  “Precisamos saber qual foi a negociação feita, pois, obviamente não estão pensando no interesse da sociedade”. Marchezan reforça que o PSDB assumiu uma postura clara quanto à admissibilidade do processo por entender que Cunha não apresentou uma defesa consistente. Sendo assim, a investigação precisa acontecer. “Nós, do PSDB, já nos manifestamos de forma clara e transparente que queremos a investigação. Agora resta saber o que realmente eles querem”, ressaltou. 

AÇÃO JUDICIAL

Mais cedo, antes do Conselho de Ética se reunir, o deputado Betinho Gomes (PE), também integrante do PSDB no colegiado, avisou, em entrevista à rádio “Jornal do Commercio”, que o partido recorrerá da decisão da comissão, caso seja reprovado o parecer que pede a admissibilidade do processo de cassação de Cunha.

Na sessão da terça-feira (01), Betinho havia dito que o silêncio dos petistas em relação ao relatório era constrangedor. Na ocasião, o tucano chegou a fazer um apelo aos membros do PT para que apoiassem a admissibilidade, dizendo que a investigação do presidente da Câmara é um dos caminhos para o Brasil ser passado a limpo.

Na entrevista, Betinho alertou sobre a pressão que o Planalto estava exercendo sobre os petistas para que votassem a favor de Cunha e contra o relatório de Pinato. Betinho também chamou atenção para a realização de sessões do Congresso nos horários em que as reuniões do Conselho de Ética estavam marcadas. Para ele, pode se tratar de uma orquestração para protelar a decisão sobre o processo contra Cunha.

A REPRESENTAÇÃO

O texto apresentado por Fausto Pinato pede a admissibilidade das denúncias e o prosseguimento do processo contra o presidente, conforme solicitado pelo Psol e a Rede Sustentabilidade. Na representação que originou o processo os dois partidos acusam Cunha de corrupção e de ter mentido sobre a posse de contas bancárias fora do país, ao ser questionado sobre o assunto na CPI da Petrobras pelo deputado Delegado Waldir (GO).

Autoridades suíças enviaram à Procuradoria-Geral da República dados de contas mantidas secretamente no banco Julius Baer. De acordo com essas informações, Cunha e sua família possuem duas contas ainda abertas no país, sendo uma no nome de sua esposa, Cláudia Cordeiro Cruz. Além disso, o presidente da Câmara tinha outras duas contas, que foram fechadas logo depois do início da Operação Lava Jato. De acordo com as investigações, as contas receberam depósitos equivalentes a mais de R$ 23 milhões. 

(Reportagem: Djan Moreno com informações do site do PSDB-PE/ fotos: Alexssandro Loyola)