Sob suspeita

Tucanos questionam Eike sobre negócios e empréstimos que movimentaram bilhões de reais

Vice-presidente da comissão, Miguel Haddad lembrou trechos de delação premiada do lobista Fernando Baiano a respeito de negócios envolvendo empresas de Eike, inclusive com denúncia de pagamento de propina.

O empresário Eike Batista participou de oitiva em duas diferentes CPIs da Câmara nesta terça-feira (17): a que investiga irregularidades no BNDES, pela manhã, e a dos Fundos de Pensão, à tarde. Na comissão que tem os financiamentos do banco de fomento como foco, parlamentares do PSDB levantaram questionamentos quanto aos empréstimos bilionários concedidos pela instituição às empresas de Eike e também a respeito de possíveis prejuízos causados aos cofres públicos com a derrocada do seu grupo econômico.  

Vice-presidente do colegiado, o deputado Miguel Haddad (SP) lembrou que, em delação premiada no âmbito da Operação Lava Jato, o lobista Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, relatou negociações em favor da OSX, empresa de Eike. O objetivo seria viabilizar a aquisição de navios sonda, fabricados pela OSX, para a Sete Brasil. Segundo Baiano, teriam participado das negociações João Carlos Ferraz, ex-presidente da Sete Brasil; Luiz Carneiro, funcionário da OSX que depois entrou na Sete Brasil; o empresário José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Lula, e o próprio Lula.

PROPINA

Conforme  lembrou Haddad, Baiano teria dito ainda que as negociações envolviam a possível cobrança de propina de 5%, por parte da OSX, para viabilizar o negócio. Eike afirmou que esse negócio nunca foi concretizado e que sua empresa nunca operou com a Petrobras. Apesar de alegar conhecer Baiano e Bumlai, o empresário disse não ter realizado negócios com ambos e, mesmo se considerando amigo de Lula, negou que tenha sido beneficiado de alguma forma para receber financiamentos do BNDES. Os créditos cedidos pela instituição ao grupo OGX somaram R$ 10,4 bilhões, mas não chegaram a ser liberados em sua totalidade.

Como lembrou o deputado do PSDB, em algumas operações as empresas de Eike conseguiram empréstimos num prazo muito menor do que o mercado. Ele negou que o banco de fomento tenha sofrido prejuízos por causa dos empréstimos bilionários concedidos às suas empresas, mesmo após a derrocada do grupo, que naufragou por não ter conseguido cumpriu suas próprias expectativas na prospecção de petróleo. Todos os débitos, alegou, foram quitados. De acordo com ele, seu patrimônio chegou a somar US$ 34 bilhões e hoje estima que some meio bilhão após regularizar sua situação.

Também no colegiado, o deputado Caio Narcio (MG) quis saber se as doações do empresário para políticos cresceu após a liberação de empréstimo pelo BNDES. Eike garantiu que não e disse ainda ao tucano que a questão do empréstimo de um avião para o ex-governador do Rio de Janeiro Sergio Cabral gerou repercussão tão negativa que não se repetiu para nenhum outro político. Disse ainda que a mídia distorceu fatos a seu respeito e que não deve nada ao BNDES, como alguns meios de comunicação divulgaram.

De acordo com o deputado Alexandre Baldy (GO),  o depoimento de Eike contradiz o presidente do banco, Luciano Coutinho, que afirmou nunca ter procurado empresas para oferecer recursos. O tucano chamou atenção ainda para dois importantes pontos. Segundo ele, a CPI precisa identificar os casos de tráfico de influência no governo, especialmente no BNDES, e ainda propor novas regras para o banco, pois atualmente projetos de outros países, como Cuba, são priorizados, enquanto falta dinheiro para empreendedores e empreendimentos nacionais capazes de promover o desenvolvimento do Brasil.

MANTIDA CONVOCAÇÃO DE BUMLAI

Miguel Haddad classificou de “desespero” a tentativa dos deputados do PT de manobrarem para tentar anular a convocação de José Carlos Bumlai, amigo do presidente Lula, levando a decisão para o plenário da Câmara, na CPI do BNDES. Bumlai conseguiu R$101 milhões do BNDES mesmo com falência requerida, o que é proibido pelas normas do banco. “Alheios à crise que ameaça levar o país ao caos, a prioridade dos deputados petistas é uma só: blindar os chefões e os amigos dos chefões que assaltaram o Brasil”, condenou. 

Pela manhã, o presidente da CPI do BNDES, deputado Marcos Rotta (PMDB-AM), indeferiu a questão de ordem apresentada pelo deputado Carlos Zarattini (PT-SP) contra a convocação do empresário, aprovada na última quinta-feira. Haddad e Gualberto estão entre os que pediram a convocação de Bumlai, citado por delatores da Operação Lava Jato como tendo intermediado reuniões de Lula com empresários.

Para João Gualberto, ficou claro, pelo depoimento, a intenção do empresário de mostrar que recebeu convites escusos de integrantes dos esquemas de corrupção.

CONVITES ESCUSOS

À CPI dos Fundos de Pensão, o empresário voltou a negar o uso de influência de políticos para fazer negócio e reforçou que seus empreendimentos geraram um legado ao país, citando como exemplo o Porto do Açu, no Rio de Janeiro. Eike disse ainda que está regularizando sua situação financeira junto a credores e deve voltar a atuar no mercado nos próximos dias. “Perdi todo meu patrimônio, mas vou construí-lo todo de novo”, assegurou.

O deputado João Gualberto (BA) acredita que ficou claro, pelo depoimento, a intenção do empresário de mostrar que recebeu convites escusos de integrantes dos esquemas de corrupção, que inclusive atuavam na Petrobras, mas que não os aceitou. “Em outras palavras, ele deixou claro que as propostas imorais aconteceram e que ele atribui a falência de suas empresas à recusa em participar dessas negociatas”, afirmou o tucano. Durante a oitiva na CPI dos Fundos de Pensão, Eike chegou a dizer que “não entrou no jogo”, ao se referir a suposta proposta de Fernando Baiano para contratos com a Sete Brasil.

(Reportagem: Djan Moreno/ Fotos: Luis Macedo – Câmara dos Deputados e Alexssandro Loyola)