Petista em xeque
Tucanos lamentam silêncio de empreiteiro que fez acusações contra campanha de Dilma
A postura do dono da empreiteira UTC, Ricardo Pessoa, de permanecer em silêncio na maior parte de seu depoimento nesta terça-feira (15) na CPI da Petrobras foi lamentada por parlamentares do PSDB. Em delação premiada no âmbito da operação Lava Jato, ele disse que doou R$ 7,5 milhões à campanha de Dilma por temer prejuízos em negócios com a Petrobras. Há suspeitas de que esse dinheiro tenha origem ilícita e seja fruto do petrolão.
O deputado Izalci (DF) chegou a apelar para o dever cívico do cidadão. “É bom que a população saiba que a campanha da presidente Dilma foi financiada com recursos de propina”, afirmou. Ele destacou que o depoimento de Pessoa representava a esperança dele e de milhões de brasileiros para que o Brasil possa mudar definitivamente.
Izalci lembrou que em depoimentos, já de posse da CPI, ele relatou três encontros com o atual ministro da Comunicação Social, Edinho Silva, à época tesoureiro da campanha do PT. Ele teria dito: “Você tem obras na Petrobras e tem aditivos importantes, então pode pagar muito mais”. Na negociação teriam sido cobrados R$ 10 milhões.
MAIS UMA OPORTUNIDADE
Na próxima sexta-feira, Ricardo Pessoa terá mais uma oportunidade de falar, dessa vez no âmbito da Justiça Eleitoral: o ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, assinou despacho permitindo que Ricardo Pessoa prestasse depoimento na ação em que o PSDB pede a cassação do mandato de Dilma por abuso de poder político e econômico.
Na CPI, o vice-presidente do colegiado, deputado Antonio Imbassahy (BA), leu palavras do próprio depoente antes do início do depoimento: “A cada contrato, um pagamento. Caso contrário, a empresa UTC seria prejudicada. Quem prejudicaria?”, questionou o tucano.
O deputado Delegado Waldir (GO) fez um questionamento incisivo se o empresário Ricardo Pessoa teria feito cópias de segurança das provas documentais que estão em poder dele. Ele se referiu ainda aos R$ 20 milhões que teriam sido entregues a Lula. “Provas suficientes para pedir o afastamento da presidente Dilma e levar, junto com José Dirceu, o ex-presidente Lula para a cadeia”.
Pessoa é sócio do grupo UTC e da Constran, que tinham contratos acima de R$ 14 bilhões com a Petrobras. Ele é acusado de pagar propina usando contratos de duas empresas de fornecimento de tubos e conexões, a Sanko Sider e a Sanko Serviços. Pessoa é apontado pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal (MPF) como o coordenador do cartel de empreiteiras que pagava propinas a diretores, políticos e partidos em troca de contratos. A presença dele na CPI foi requerida por dez deputados.
O principal motivo é que em depoimento ainda sigiloso ele teria mencionado as campanhas eleitorais da presidente Dilma em 2010 e 2014. O repasse ao PT, segundo a imprensa, seria de R$ 3,6 milhões. Pessoa teria citado mais 18 políticos como beneficiários de dinheiro desviado da Petrobras. Um deles, o deputado Júlio Delgado (PSB-MG), se afastou da Comissão.
POUCO FALOU
Ricardo Pessoa pouco falou. Disse ser um novo homem: aos 63 anos, perdeu 15 quilos e, ao optar em fazer a delação premiada, revelou episódios sobre o que viu e viveu. “Fatos que afetaram a minha família e as pessoas que mais amo”, afirmou.
Ele disse aos integrantes da CPI da Petrobras, que pagou propina na petrolífera estatal por medo de perder contratos e comprometer a empresa.
“Eu não achava justo que a trajetória vitoriosa da UTC fosse interrompida. Denunciar as vantagens indevidas poderia ser danoso à empresa. Cedi aos pedidos e paguei para manter o direito de a minha empresa existir”, alegou. Ele leu um documento em que fez um histórico exitoso das empresas do grupo que, segundo ele, desde 1974 trabalhava com óleo e gás. Segundo Pessoa, ele e mais dois diretores compraram o controle da UTC, em 1986.
Ele apelou o direito de direito de permanecer calado e também recusou prestar depoimento, mesmo em sessão reservada. A funcionária da UTC, Sandra Raphael Guimarães, também requereu o direito de permanecer em silêncio. Junto com Ricardo Pessoa, ela responde por lavagem de dinheiro e corrupção.
O deputado Bruno Covas (SP) lembrou a ela que foi denunciada pelo Ministério Público por lavagem de capitais junto com o Alberto Youssef e João Argolo e outros. O deputado Delegado Waldir insistiu para que ela respondesse aos questionamentos dele, mas ela ficou em silêncio.
O executivo da empresa italiana Saipem do Brasil, Roberto de Moraes Mendes, gestor dos oleodutos e gasodutos no Brasil, se disse surpreso com o envolvimento da empresa no escândalo da Petrobras. O deputado Bruno Covas destacou o cronograma de encontros entre João Antonio Bernardi Filho (preso pela operação LavaJato) e o ex-diretor da Petrobras Renato Duque.
Já o deputado Izalci questionou quem era o diretor comercial da empresa à época dos fatos que antecederam o escândalo da estatal. Mas Roberto Mendes disse que a função de Antonio Bernardi era dar apoio da exploração em terra e no mar, sua especialidade.
(Reportagem: Ana Maria Mejia/ Foto: Alexssandro Loyola)
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