Governança em xeque


Deputados questionam investimentos que ameaçam futuro dos pensionistas da Petros

20926384965_3d6948edb4_kOs deputados do PSDB que participam da CPI dos Fundos de Pensão consideram que o Fundo Petros fez investimentos polêmicos que resultaram num déficit de R$ 6,2 bilhões  apenas em 2014. Pior: a má gestão pode exigir que beneficiários sejam obrigados a pagar essa conta. “É uma preocupação porque todos os gestores vêm aqui e falam da boa governança, mas quando a gente observa a microeconomia, percebe os diques”, disse o deputado Marcus Pestana (MG), sub-relator na Comissão.

Ele questiona porque uma instituição que tem um patrimônio de R$ 70 bilhões, uma estrutura organizacional que tem rigorosos ritos de segurança, como reiterou o presidente do Fundo Petros, Henrique Jagër, decidiu investir em empresas já denunciadas pela operação Lava Jato, a exemplo da Sete Brasil. “São investimentos questionáveis e pode-se dizer até exóticos”, disse ele, citando ainda a Indústria Metal Vale (IMV); Usina Canabrava e Fundo Galileo Educacional, empresas que estavam em má situação financeira. O Fundo Galileo era responsável pelo comando das Universidades Gama Filho e UniverCidades, que faliram.

Marcus Pestana lembrou ainda que, segundo delação premiada, a Metal Barra Mansa, que pertence à Vale, teria envolvimento com o ex-deputado Pedro Correa e o doleiro Alberto Youssef. Jagër justifica que as decisões passam pelos comitês da Petros. No caso da Sete Brasil, empresa criada pela Petrobras em 2011 para construir sondas de perfuração, ele afirmou que a conjuntura era favorável: o Brasil havia descoberto a maior reserva de petróleo com o mercado em alta. E havia uma fila de três anos para alugar uma sonda de exploração e ainda deveria adaptá-la a esse tipo de exploração. “Ainda há essa perspectiva, pois está se tentando reformular essa empresa que em breve fornecerá sondas, inclusive para outros países, pois se criou uma expertise”, disse.

APOSENTADORIAS EM RISCO

Segundo o deputado Rocha (AC), está claro que existe uma casta de pessoas ligadas ao PT que ocupam cargos em Conselhos de empresas e Fundos de Pensão, a exemplo do próprio Henrique Jagër, filiado ao PT desde 2009. Ele também afirma que num determinado período, houve uma convergência dos fundos de pensão para investir em empresas suspeitas – falidas, em risco e que o bom senso não recomendaria o investimento, e que causaram prejuízo aos participantes.

Ainda de acordo com o parlamentar, uma das consequências é o risco real de que os aposentados tenham de contribuir para repor recursos e cobrir o déficit da Petros. O presidente Henrique Jagër admitiu a existência dessa possibilidade, embora tenha dito que há um plano de convergência para reverter o déficit existente.

Já o deputado Pedro Cunha Lima (PB) cobrou uma postura mais contundente por parte da diretoria do Petros diante da denúncia de que, em 2014, a Polícia Federal teria encontrado no computador do doleiro Alberto Youssef uma pasta contendo 12 arquivos relacionados a negociatas com o Fundo Petros. Ele também destacou a delação premiada de Carlos Alberto Pereira da Costa afirmando que houve pagamento de propina para funcionários da Petros. “Os depoimentos na Operação Lava Jato mostram que Youssef encontrou diversas vezes com João Vaccari Neto para tratar de esquemas nesse Fundo”, afirmou.

O presidente da CPI, deputado Efraim Filho (DEM-PB), disse que está convencido de que houve aparelhamento das estruturas e tráfico de influência. Ele cita o exemplo do investimento de R$ 3 bilhões na holding Itausa – que tem participações no Itaú Unibanco, na Duratex (empresa que produz painéis de madeira e louças sanitárias) e na Itautec, de tecnologia. A empresa foi comprada no último dia do ano de 2010, ainda sob a presidência de Wagner Pinheiro, acima do valor de mercado. “Essa CPI tem o dever de investigar se houve gestão fraudulenta ou risco de mercado e não consigo entender a ousadia dessa operação”, disse. 

A CPI requisitou cópias de todos os investimentos feitos pela Petros desde 2003.

(Reportagem: Ana Maria Mejia/Foto: Alexssandro Loyola)

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1 setembro, 2015 Últimas notícias Sem commentários »

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