Silêncio ensurdecedor


Depoentes se calam e frustram primeiro dia de interrogatórios da CPI da Petrobras em Curitiba

globonewsNo primeiro dia de interrogatórios da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras em Curitiba, todos os cinco convocados optaram pelo direito de permanecer em silêncio. Entre eles, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu.  “Infelizmente não podemos fazer nada em relação a isso, já que os depoentes têm o direito ao silêncio para não se auto-incriminar, mas é frustrante”, disse o vice-presidente da CPI, deputado Antonio Imbassahy (BA). Ao todo, a comissão pretende ouvir 13 pessoas e fazer pelo menos uma acareação até quinta-feira (3).

Além de Dirceu, ficaram calados o ex-diretor da área Internacional da Petrobras Jorge Zelada e três empresários. Dois são executivos da empreiteira Andrade Gutierrez: Otávio Marques de Azevedo e Elton Negrão de Azevedo. O terceiro é João Antonio Bernardi Filho, representante no Brasil da empresa italiana Saipem.

PETISTA NADA FALA

O primeiro chamado a depor foi José Dirceu. Ele foi dispensado depois de recusar-se a responder todas as perguntas feitas a respeito de seu suposto envolvimento nas irregularidades na Petrobras. “Seguindo orientação de meus advogados, vou permanecer em silêncio”, afirmou, ao lado de seu advogado, Roberto Podval.

O presidente da CPI chegou a oferecer a Dirceu a oportunidade de depor em reunião secreta, mas ele respondeu usando a mesma expressão.

Apesar de repetir sempre a mesma resposta, os deputados insistiram em perguntar. “Como o senhor conseguiu ganhar quase R$ 30 milhões com sua empresa de consultoria, em um período em que o PIB brasileiro caiu quase 2%?”, perguntou o deputado Bruno Covas (SP). “O senhor é o líder dessa organização criminosa?”, questionou o deputado Delegado Waldir (GO). “O senhor participou de consultorias relativas à venda de ativos da Petrobras na África?”, quis saber Antonio Imbassahy.

“Por orientação de meus advogados, vou permanecer em silêncio”, respondeu Dirceu.

Depois de Dirceu, foi chamado o empresário João Antonio Bernardi Filho, que também invocou o direito de não responder as perguntas. Bernardi Filho foi denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF) por corrupção ativa e passiva e lavagem de dinheiro junto com o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque, a advogada Christina Maria da Silva Jorge e os empresários Antônio Carlos Briganti Bernardi e Júlio Gerin de Almeida Camargo.Ele repetiu essa resposta diversas vezes, mas não conteve o riso quando perguntado a respeito de um assalto do qual teria sido vítima, no Rio de Janeiro, supostamente ao levar R$ 100 mil de propina para Renato Duque.

Segundo a denúncia do Ministério Público, Bernardi Filho, representante da empresa italiana Saipem, controlava a offshore Hayley, com sede no Uruguai e conta bancária na Suíça, usada para a lavagem de dinheiro e o pagamento de propina para Duque.

De acordo com o MPF, Bernardi ofereceu vantagem indevida a Duque em troca do contrato de obra de instalação do gasoduto submarino de interligação dos campos de Lula e Cernambi, localizados na Bacia de Santos, com a Petrobras.

Jorge Zelada
O ex-diretor da área Internacional da Petrobras Jorge Zelada também ficou em silêncio. Ele foi o sucessor de Nestor Cerveró – também preso pela Operação Lava Jato – na diretoria da área Internacional da Petrobras e comandou o setor entre 2008 e 2012.

Zelada foi acusado de envolvimento em recebimento de propina pelo ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa e pelo ex-gerente da área de Serviços Pedro Barusco. Segundo Barusco, Zelada foi beneficiado à época em que era gerente geral de obras da Diretoria de Engenharia e Serviços. Mas Barusco não soube informar se Zelada continuou a receber vantagens indevidas no cargo de diretor da área Internacional.

“A CPI tem que se concentrar nas operações internacionais da Petrobras, já que ela adquire ativos no exterior sem licitação”, ressaltou o deputado Altineu Côrtes.

Andrade Gutierrez
Os dois executivos da empreiteira Andrade Gutierrez convocados pela CPI também ficaram calados. O primeiro foi o presidente da empresa, Otávio Marques de Azevedo. O segundo foi Elton Negrão de Azevedo, diretor da empreiteira.

O presidente da Andrade Gutierrez foi preso na 14ª etapa da Lava Jato. Ele admitiu em depoimento, um mês antes, ter sido procurado por Fernando Antônio Falcão Soares, conhecido como Fernando Baiano, para que a empreiteira fizesse doações de campanha ao PMDB.

Soares é apontado pela Polícia Federal como operador do PMDB no esquema de desvio de recursos e pagamento de propina na Petrobras. Ele e o partido negam.

Segundo depoimento de Azevedo à PF, Soares era representante da empresa italiana Acciona e propôs a ele parcerias em negócios, como ampliação do canal do Panamá, mas nada foi adiante.

“Conhece Fernando Baiano?”, perguntou o deputado Bruno Covas. “Vou permanecer calado”, respondeu o empresário.

À polícia, Azevedo negou que a Andrade Gutierrez tenha participado do esquema de cartel em obras da Petrobras. Segundo o ex-gerente de Serviços da Petrobras Pedro Barusco, a empreiteira pagou propina relativa a seis contratos da Petrobras, com valor total de R$ 4 bilhões.

AGENDA DE TERÇA

A CPIouve nesta terça-feira (1º) os depoimentos de seis pessoas: cinco executivos da construtora Odebrecht, acusada de formação de cartel e pagamento de propina, e um ex-funcionário da Petrobras.Os depoimentos ocorrerão em Curitiba (PR), na sede da Justiça Federal do Paraná, já que os convocados estão presos pela Operação Lava Jato.

 Entre os depoentes, está o presidente da empreiteira, Marcelo Odebrecht. Também serão ouvidos quatro executivos ligados à empresa: Márcio Faria da Silva, Rogério Santos de Araújo, César Ramos Rocha e Alexandrino de Salles Ramos de Alencar.

 Ao todo, a Polícia Federal prendeu oito executivos da Odebrecht, suspeita de pagar propinas de mais de R$ 500 milhões a diretores da Petrobras e agentes políticos em troca de contratos com a estatal. A empresa nega as acusações, e a expectativa na CPI é que os diretores da empreiteira optem pelo direito constitucional de permanecer calados.

O sexto convocado é Celso Araripe de Oliveira, ex-gerente de Projetos da Petrobras, acusado de receber propina de R$ 1,4 milhão da Odebrecht em troca da construção da sede da estatal em Vitória (ES).

(Da Agência Câmara, com alterações/Imagem: reprodução de TV)

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31 agosto, 2015 Últimas notícias Sem commentários »

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