Dúvidas permanecem
Tucanos consideram vazias as respostas de Luciano Coutinho em audiência na CPI do BNDES
Deputados do PSDB que integram a CPI do BNDES consideraram evasivas as respostas do presidente da instituição, Luciano Coutinho, sobre as principais questões levantadas durante oitiva realizada pelo colegiado nesta quinta-feira (27). Na oitiva proposta pelo vice-presidente da comissão, deputado Miguel Haddad (SP), Coutinho evitou falar sobre situações relacionadas ao ex-presidente Lula, negou que os contratos do banco sofram influência política e disse que tem sido adotada cautela em relação a empresas investigadas pela Operação Lava Jato.
SAIU PELA TANGENTE
Coutinho se esquivou de responder pergunta feita por Haddad sobre conversa interceptada pela Polícia Federal entre o executivo Alexandrino Alencar, da Odebrecht, e o ex-presidente Lula. Segundo a PF, no diálogo ambos estariam “tratando dos polêmicos financiamentos do BNDES às empreiteiras brasileiras, incluindo a Odebrecht”.
Para Haddad, a conversa causa suspeições, inclusive pelo fato de Alexandrino ter sido preso pela Operação Lava Jato quatro dias depois do diálogo interceptado pela PF. Coutinho disse apenas que o Instituto Lula já havia se pronunciado oficialmente a respeito.
O tucano afirmou que será preciso pedir a convocação de Coutinho em um momento posterior, já que diversas questões não foram elucidadas na oitiva de hoje, no qual o presidente compareceu ao colegiado em resposta a um convite. “Com a ampliação das investigações teremos que convoca-lo para novos esclarecimentos. Algumas respostas ele tangenciou”, avisou Haddad. Para ele, a resposta para algumas questões surgirá naturalmente com o decorrer das investigações.
EMPRESAS INVESTIGADAS
m resposta ao tucano, o presidente informou que o banco não está sofrendo exposição a risco por ter financiado empresas investigadas pela Operação Lava Jato,e afirmou que o banco adotou procedimento de cautela em relação às empresas investigadas. Disse ainda que os contratos firmados têm sido honrados e que cada empresa tem sido analisada caso a caso para a possibilidade de novas operações, sendo que com algumas o banco não tem mais firmado contratos devido às condições financeira e econômica.
O deputado Antonio Carlos Mendes Thame (SP) sugeriu que o presidente entregue à CPI uma relação com o nome de todas as empresas envolvidas em irregularidade e que a instituição possua contratos. E também qeu diga quanto já foi pago a essas empresas e o que o banco fará se as firmas forem condenadas e se tornem inidôneas.
Mendes Thame chamou atenção ainda para as suspeitas da Polícia Federal de que o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT), tenha recebido vantagens indevidas do empresário Benedito de Oliveira, o Bené, ligado ao PT, e de empresas que obtiveram empréstimos BNDES. A instituição é subordinada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, que Pimentel comandou entre 2011 e 2014.
Na avaliação do deputado Alexandre Baldy (GO), as respostas de Coutinho foram evasivas e genéricas, o que indica que os fatos devem ser investigados detalhadamente. “Ele titubeou quanto à divulgação da agenda e da quebra de sigilo telefônico, mas não vai escapar dessas especulações a partir do primeiro indício de tráfico de influência”, afirmou. O tucano sugeriu que Coutinho disponibilize à CPI sua agenda desde que assumiu a presidência do BNDES. Já o deputado Caio Narcio (MG) disse que pedirá a quebra de sigilo telefônico de Coutinho.
Para o deputado Betinho Gomes (PE), as respostas de Coutinho às perguntas feitas por ele deixaram claro que o BNDES foi sócio de um superfaturamento na construção da refinaria Abreu e Lima. O banco concedeu financiamento de cerca de R$ 10 bilhões à obra, que apresenta sucessivos atrasos e inicialmente foi orçada em US$ 2,4 bilhões, mas vai chegar a algo próximo de US$ 20 bilhões. O tucano também defendeu que a CPI convoque o presidente do BNDES no decorrer dos trabalhos da CPI.
DOAÇÃO DE CAMPANHA
Betinho pediu ao presidente do banco de fomento para explicar denúncia publicada pela Revista Veja, na qual Luciano Coutinho é acusado de intermediar encontro entre o empreiteiro Ricardo Pessoa (UTC Engenharia) e o então tesoureiro da campanha de Dilma Rousseff, em 2010, Edinho Silva. O BNDES, segundo a reportagem, teria viabilizado empréstimo à empresa privada que integrava o consórcio que administra o aeroporto de Viracopos caso a UTC viabilizasse doações ao PT.
“Há exatos oito dias daquele pleito eleitoral houve uma reunião onde teria sido tratado este tema. Foi dada essa orientação a Ricardo Pessoa de que ele seria procurado pelo tesoureiro de Dilma?”, indagou o deputado de oposição, que chegou a mostrar na CPI recibos de doações eleitorais da empreiteira feitas a Dilma no segundo turno daquela eleição. O presidente do BNDES respondeu que esteve com Pessoa e demais empresários e que nunca tratou de dinheiro para a campanha de Dilma.
INVERSÃO DE PRIORIDADES
Por sua vez, o deputado João Gualberto (BA) ressaltou que é crescente a suspeita da sociedade sobre a importância de empréstimos para países latinos e africanos. O parlamentar lembrou que os empréstimos concedidos pelo banco para projetos nesses países são volumosos e com taxas vantajosas.
O tucano fez questionamentos sobre suposto tráfico de influência ou ingerência de Lula ou do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu sobre as operações do banco de fomento com essas nações. Coutinho negou ingerência. O parlamentar disse ainda que a sociedade não se conforma com o grande aporte de recursos para empreendimentos em outros países, enquanto obras nacionais estão à deriva.
“O que é prioridade para o senhor, as obras de infraestrutura nesses países ou no Brasil?”, quis saber Gualberto. “É difícil que alguém acredite que a infraestrutura aqui é prioridade, pois não há ninguém do governo para dizer quais são as obras brasileiras que foram concluídas”, apontou.
CONFLITO DE INTERESSES
O deputado Eduardo Cury (SP) quis saber se o presidente do BNDES se sentia confortável em ter o presidente da CUT, Vagner de Freitas, como integrante do Conselho de Administração do banco responsável por bilhões de reais de recursos públicos. Freitas participa do Conselho por indicação política. Há poucos dias, ele convocou a militância petista a ir armada às ruas contra os que desaprovam o governo Dilma. Coutinho disse ao deputado que considera normal e apropriada a participação de Freitas no conselho.
(Reportagem: Djan Moreno/ Foto: Alexssandro Loyola/ Áudio: Hélio Ricardo)
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