À deriva


Ministro da Casa Civil assume que governo não tem planejamento para indústria naval brasileira

Antonio Augusto  Câmara dos Deputados

Pedida por Nelson Marchezan Junior, audiência foi presidida pelo também tucano Rodrigo de Castro.

Em audiência pública na Comissão de Minas e Energia, o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, assumiu que o governo não possui um planejamento para a indústria naval brasileira. Chamado pelo deputado Nelson Marchezan Junior (RS) para explicar os impactos da crise econômica no setor, o petista não conseguiu explicar o que será feito para impedir que mais postos de emprego sejam fechados na área, como tem ocorrido ao longo dos últimos meses.

“Não consegui ver um prognóstico mínimo sequer para o setor e para as empresas. Não há perspectiva alguma para os próximos meses”, lamentou o tucano no final da audiência. “Todos sairão daqui como entraram. Como o governo pode vir aqui para dizer que não sabe o que vai acontecer, dizer que algumas empresas vão quebrar e outras vão sobreviver. Isso não pode ser aceito”, criticou.

Marchezan questionou Mercadante sobre os recursos do Fundo de Marinha Mercante. O ministro informou que até a metade do ano foram desembolsados R$ 1,8 bilhão do fundo, o que permite a construção de estaleiros e embarcações mediante financiamento. A expectativa é chegar a cerca de R$ 4 bilhões até o fim do ano, equiparando-se a valores de 2014.

Mas, na avaliação do tucano, o problema de crédito é muito superior, pois a demanda da indústria naval é quase 100% da Petrobras, em crise por causa de irregularidades. Marchezan cobrou mais investimentos e lembrou que prefeituras em seu estado estão à espera de recursos já anunciados. Segundo ele, ao todo, 11 estados sofrem com o mesmo problema.

O tucano destacou números do Sindicato da Indústria Naval que mostram perda de 3 mil empregos só nos primeiros meses do ano. O setor empregava 82 mil pessoas, mas agora mantém apenas 69 mil. Mercadante admitiu que mais postos de trabalhos poderão ser fechados, mas atribuiu o fenômeno ao que chamou de  ciclos do petróleo e do capitalismo.

O deputado Samuel Moreira (SP) discordou da justificativa e manifestou preocupação com a possibilidade de não sobrevivência de estaleiros diante da crise. A situação é crítica para os cinco estaleiros que têm contratos com a Sete Brasil, empresa criada para gerenciar a construção das sondas a serem usadas pela Petrobras na exploração do pré-sal. A empresa deixou de pagar entre R$ 1,5 bilhão e R$ 2 bilhões a esses estaleiros.

Mercadante avaliou que empresas investigadas na Operação Lava Jato precisam se recuperar para que o crescimento do setor petrolífero e da indústria naval possa ser impulsionado. Marchezan, por sua vez, lamentou o fato de o ministro não dar nenhuma garantia sobre o futuro dos estaleiros e dos trabalhadores. “A indústria naval só terá fôlego depois disso? Essa recomposição só se dará depois da Operação Lava Jato?”, indagou.

O presidente da comissão, deputado Rodrigo de Castro (MG), contestou o otimismo demostrado pelo ministro diante do cenário atual e lembrou que o BNDES não liberou recursos já aprovados para a Sete Brasil, o que gerou uma série de prejuízos. Isso aconteceu em virtude das irregularidades em contratos da empresa, ou seja, devido à corrupção. Castro demonstrou preocupação com o destino de recursos provenientes de fundos de pensão e aplicados no setor e com os leilões e metas de produção.

“Infelizmente, a previsão é de que em 2015 teremos um cenário ainda pior para os empregos na indústria naval. Pela apresentação do próprio ministro, há uma previsão de que menos contratos sejam firmados nos próximos anos, além de haver uma diminuição dos recursos disponíveis para o financiamento dos projetos. Mesmo diante de tantas dificuldades, percebemos que o governo da presidente Dilma não tem um plano de trabalho para tentar salvar os milhares de empregos da indústria naval”, afirmou Rodrigo de Castro.

Vice-presidente do colegiado, o deputado Pedro Vilela (AL) também lamentou as perdas com irregularidades na gestão da Petrobras e na relação com a Sete Brasil e afirmou que seu estado foi um dos afetados com a redução de empregos. O tucano aproveitou para destacar que o setor sucroalcooleiro é outro que vive grave crise e defendeu uma discussão sobre o tema. 

(Reportagem: Djan Moreno/ Foto: Antonio Augusto / Câmara dos Deputados)

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5 agosto, 2015 Últimas notícias Sem commentários »

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