No que se refere à economia, por Fábio Sousa
O presidente da Mercedes no Brasil fez um alerta que deixou todos os líderes e economistas preocupados. Algo que muitos já dizem em rodas fechadas e de forma tímida em público, mas que todos já sabem: o Brasil está perdendo a sua capacidade de atrair investidores. Em tom professoral, o alemão Philipp Scheimer indagou: “Quem vai arriscar investir no Brasil?”. Somando ao anúncio de que as vendas caíram 40% e as demissões estão cada vez mais em um gráfico ascendente.
O alerta do presidente da Mercedes não é para menos. Estamos vivendo a pior crise econômica da era real. Fruto de ações extremamente equivocadas e mal-sucedidas do governo federal, que além de insistir nos erros e transferir a culpa para uma suposta crise econômica mundial, toma medidas que vão sufocar ainda mais a nossa já combalida economia. E argumentos não faltam.
Pelo quinto ano consecutivo, o Brasil perdeu posições no ranking global de competividade feito pelo IMD (International Institute for Management Development) e pela Fundação Dom Cabral. Agora atingimos a nossa pior classificação. O ranking é elaborado desde 1989 e agora ocupamos o 56º lugar. Segundo a pesquisa, em seis anos o índice de competividade do Brasil caiu cerca de 20%, distanciando significativamente o País das nações no topo do ranking. É bom lembrar que a lista é feita apenas com os 61 países de significância econômica.
As maiores perdas do País vieram no item “desempenho econômico”, onde recuamos oito posições. Perdemos no que se refere a emprego, economia doméstica e preços. Segundo o estudo, a desaceleração interna vivenciada pelo País influencia negativamente em nossa capacidade competitiva.
As más notícias não param por aí. A escola de negócios francesa Insead e a Adecco, consultoria de recursos humanos da Suíça, fizeram um ranking para aferir a competitividade dos trabalhadores em diferentes países. O estudo deu origem ao Índice de Competitividade do Talento Global. Entre as nações pesquisadas, ocupamos a 49º posição. O ranking leva em conta uma série de indicadores, como o ambiente regulatório para empresas e a escolaridade da população. A pesquisa apontou que a baixa produtividade e a dificuldade de inovar são também dois importantes fatores que explicam o porquê do capital humano brasileiro ser menos competitivo.
Com estas e outras informações, claro que estamos afastando os investidores do Brasil. Sem investimento não temos dinheiro circulando, o que leva à alta do dólar, crescimento da inflação, taxas de juros mais elevadas e um crescente endividamento da população que, claro, não terá condições de honrar seus compromissos. É um ciclo maligno. Não tendo dinheiro para pagar suas contas, aumenta a dívida. Não tendo dinheiro para pagar as dívidas, aumenta os juros. Não pagando, os bancos vão ficando sem dinheiro, dificultando os empréstimos e dependendo do governo, que por sua vez arrecada menos e gasta muito. O buraco é bem mais fundo.
Não é à toa que a publicação mais respeitada no quesito economia no mundo todo, o Financial Times, disse que: “a crise econômica no Brasil ainda irá se agravar antes de melhorar e grande parte dos problemas foi criada pelo próprio País”.
FT compara o Brasil ao Chile, Colômbia e Peru, “economias mais orientadas ao mercado” e que puderam tirar proveito do mesmo boom de commodities e crédito como o Brasil nos anos 2000, “mas sem a mesma ressaca”. O texto cita a possibilidade de a economia brasileira recuar neste e no próximo ano, “o pior desempenho desde 1931″; a queda na popularidade de Dilma, “a menor já registrada”; a desvalorização do real frente ao dólar e o aumento dos juros para conter a inflação.
A recessão econômica bateu em cheio no mercado de trabalho e a geração de empregos dos últimos anos deu lugar a demissões em massa. Nos cinco primeiros meses deste ano, 243.948 pessoas já foram dispensadas, segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Os analistas temem uma aceleração do nível de desemprego a partir de junho, o que resultaria no fechamento de um milhão de vagas com carteira assinada até dezembro. Há quem aposte que a taxa de desocupação ultrapassará os 10% em 2016. Para piorar, o rendimento médio real dos assalariados também está em queda.
O período de maior contratação ocorre entre maio e setembro porque as empresas começam a preparar a produção para as festas de fim de ano. Além disso, o ritmo de prestação de serviços e de vendas do comércio também aumenta, após os consumidores pagarem os tributos concentrados nos quatro primeiros meses do ano. Entretanto, o ritmo de admissões não aumentou e 115.599 assalariados com carteira assinada foram dispensados em maio. Com a expectativa de encolhimento de 2% do Produto Interno Bruto (PIB), de inflação em 9%, que corrói a renda dos trabalhadores, e com a expectativa de alta de juros, que torna mais caro o custo do dinheiro, os empresários não querem investir e fazer contratações. Todos os indicadores apontam que o desemprego aumentará e, para piorar, os com carteira assinada vão diminuir significativamente.
Ainda há o chamado Custo Brasil, um conjunto de dificuldades estruturais, burocráticas e econômicas, que encarecem o investimento no Brasil. Esse é também um dos fatores responsáveis que comprometem a competitividade e a eficiência da indústria nacional, dificultando o comércio exterior e, claro, uma recuperação econômica.
Segundo o último boletim Focus, do Banco Central, que semanalmente recolhe previsões de agentes do mercado financeiro e de consultores econômicos, espera-se que o PIB caia 1,5% em 2015. E essa taxa vem caindo há seis semanas. Há quatro semanas a queda era de 1,3%, ou seja, é maior agora. O que caiu mais foi a previsão para o PIB de 2016, que passou a 0,5%. Assim, se tais previsões se confirmarem, no final de 2016 a economia ainda estará num buraco, pois então o aumento de 0,5% não cobrirá a queda de 1,5% em 2015. O boletim tem mais notícias negativas, como a de que a inflação anual prevista para 2015, medida pelo IPCA, sobe há 11 semanas e chegou a 9% na última.
Para resolver esta problemática gigantesca, o governo vem com um ajuste fiscal. Quando uma pessoa está doente, internada na UTI, como é o caso da economia brasileira, se faz de tudo para recuperar a saúde. Usam de medicamentos à intervenção cirúrgica. O governo resolveu fazer uma eutanásia econômica. Uma eutanásia fiscal. Resolveu “reonerar” a folha de pagamento de 53 setores produtivos. Em certos casos em 150%, o que sem dúvida vai gerar aumento de preço, inflação, aumento no endividamento da população e o que é pior: desemprego, muito desemprego.
No entanto, quando cobrado, o governo federal remete a uma suposta crise econômica mundial. O problema que na maioria das grandes nações do mundo, à exceção do Brasil, Grécia e Venezuela, todas as demais já respiram aliviados. A China, Rússia e Índia crescem de vento em popa. A Europa, apesar da Grécia, voltou a crescer. A China cresce menos do que em outros anos, mas cresce. Os Estados Unidos continuam a ser os Estados Unidos pujante de outrora. Até os nossos vizinhos Chile e Argentina estão melhores, apesar de viverem momentos sombrios em suas economias. A Colômbia, Peru e o México vivem o melhor momento de suas economias. “A verdade é que chegamos aonde chegamos por pura incompetência”. É o que afirma em recente artigo o economista Roberto Macedo ao jornal Estado de São Paulo: “se a economia brasileira afundar mesmo, não será por culpa de suas forças produtivas. Será por conta de políticos que a levaram à crise, e também deles e de outras autoridades que em lugar de ajudar a resolvê-la contribuem para agravá-la”.
O Brasil vive uma de suas maiores crises políticas, econômicas e sociais de sua história. Sem dúvida é a maior crise econômica da era Real. Estamos vive
ndo uma crise ética sem precedentes. Vivemos hoje o maior escândalo político da humanidade. Mas a crise que mais preocupa, e que causa todas as outras, é a crise de autoridade. A presidenta não tem autoridade.
A falta de autoridade da presidenta traz outra crise que afeta e muito a nossa já combalida economia e a impede de se recuperar. A crise de credibilidade. Sem credibilidade não há investimento externo e nem interno. Sem investimento não há dinheiro na praça. Não havendo dinheiro, não há compra, não há venda, falta dinheiro no comércio, no setor produtivo, aumentando o desemprego e causando mais falta de dinheiro. Um ciclo vicioso. O próximo alvo da crise são os bancos. Faltando dinheiro nos bancos é caos total.
Precisamos retomar o crescimento com credibilidade. Precisamos de investimentos. Precisamos reduzir o tamanho da máquina estatal. Os gastos precisam ser redirecionados. Chega de cuidar da “companheirada” em detrimento da sociedade. Precisamos parar os desvios, a corrupção que além de desviar volumosos recursos públicos (agora deixamos de falar em milhões, agora são bilhões), leva o nosso País a cair no descrédito com investidores.
Precisamos investir em infraestrutura. Deixar a falácia de planos que nunca são executados e ilusões de trem bala ou “bi oceânicos”. Precisamos desonerar o setor produtivo e obrigá-los a reverter no preço final, no que chega ao consumidor. Precisamos de um novo pacto federativo em que o dinheiro chegue às prefeituras e aos estados. Precisamos urgentemente de uma nova forma de pensar a economia.
O povo quer e precisa ter liberdade de trabalhar, produzir, contribuir com a sociedade. O Estado precisa intervir menos na vida pessoal e cuidar das áreas que realmente importam como saúde, educação de qualidade, segurança pública, segurança jurídica.
O presidente Lula tinha muitos defeitos, mas há de se reconhecer nele uma qualidade. Ele não achava que sabia de tudo, que era o senhor da razão, como Dilma aparentemente acha ser. Pelo menos na economia, Lula reconhecia que precisava de ajuda e chamou o goiano Henrique Meirelles para comandar o Banco Central. Dilma, centralizadora, encaminha o Brasil para o fundo do poço de difícil retorno econômico. No que se refere à economia, Dilma, você deixa muito a desejar. Portanto, vá plantar mandiocas!
(*) Fábio Sousa, deputado federal pelo PSDB, jornalista, formado em Gestão Pública, Teologia e graduando em História e presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara Federal. Artigo publicado no “Diário da Manhã” em 9/7. (Foto: Alexssandro Loyola)
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