Bolivarismo no BNDES, por José Aníbal
A divulgação de parte das informações sobre os empréstimos internacionais do BNDES trouxe à tona uma constatação miserável: credos políticos privados continuam ditando o rumo de decisões que deveriam ser de Estado. Usar a poupança dos brasileiros para fazer proselitismo ideológico – a juros mais baixos que os devidos pelo setor produtivo nacional – é indesculpável.
O Brasil entra num tempo de vacas magras. Quem produz sabe da penúria do crédito, da infraestrutura e da segurança jurídica. Sem falar da energia mais cara do mundo e do peso de impostos. Negar ao empreendedor nacional as mesmas condições dadas a cubanos e venezuelanos é perverso. Ele é quem gera riqueza e emprego de qualidade para milhões de brasileiros.
Nada menos que 70% dos 12 bilhões de dólares – ou 37 bilhões de reais – financiados ao exterior pelo BNDES entre 2007 e 2014 foram emprestados a juros abaixo de 5% ao ano. No mesmo período, o banco cobrava juros de até 6,5% dentro do Brasil, mais o acréscimo da taxa de risco do empreendimento – cláusula não cobrada de regimes dissolventes como Cuba e Venezuela.
Mas o BNDES, tangido pelo Planalto, fez pior do que isso. A principal instituição de fomento de que dispomos liberou bilhões de reais a custos abaixo dos de captação no mercado. Trocando em miúdos, o banco captou dinheiro caro para emprestar barato a países com problemas permanentes de credibilidade internacional e avessos ao ordenamento jurídico dos mercados.
Indagado a respeito, o BNDES não soube responder por que sua diretoria optou por financiamentos mais baratos fora do Brasil ao invés de fomentar a nossa infraestrutura. O episódio confirma o completo desprezo desse governo pelo contribuinte. O alívio desses regimes será levado a cabo com o suor e o sacrifício dos brasileiros, que engolem a contragosto um brutal ajuste fiscal.
Chama atenção o descolamento irremediável desse governo com a tradição de liderança e de altivez da nossa história diplomática. As relações internacionais do Brasil quase sempre foram marcadas por racionalidade e princípios. As transações do BNDES revelam o apequenamento de nossa inserção no tabuleiro internacional. O Brasil decidiu jogar a série C da política externa.
A generosidade sem contrapartidas com esses regimes falidos transmite uma ideia torta do que seriam nossos valores enquanto civilização. Como se a democracia não fosse um compromisso central da sociedade brasileira. Como se aqui se aceitasse de bom grado a destruição das instituições, a existência de presos políticos e a imprensa amordaçada. Pior do que fazer vista grossa é financiá-los.
Esses países amigos dos dirigentes do PT só andam para trás. O Brasil que respeita princípios e age internacionalmente com racionalidade os ajudaria a encontrar uma saída. O Brasil de Lula e Dilma Rousseff resolveu segui-los buraco adentro. E com o nosso dinheiro.
(*) José Aníbal é senador suplente pelo PSDB-SP. Foi deputado federal e presidente nacional do PSDB. Artigo publicado no “Blog do Noblat”.
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