CPI da Petrobras
Projetos improvisados abriram portas para a corrupção na Petrobras, alertam tucanos
Os deputados do PSDB que participaram da oitiva do ex-vice-presidente da Camargo Corrêa Eduardo Hermelino Leite chamaram atenção para a forma como os projetos da estatal eram mal elaborados exatamente para propiciar a corrupção. Ouvido pela CPI da Petrobras nesta terça-feira (26), o executivo confirmou a prática e, assim como em sua delação premiada, disse que o pagamento de propinas estava relacionado diretamente ao PT e o PP.
O deputado Bruno Covas (SP) quis saber se a “improvisação” foi o pano de fundo para os desvios que ocorreram na maior empresa brasileira. O depoente alegou que não poderia dar detalhes. Covas lembrou que, de acordo com os autos na Justiça Federal do Paraná, a Camargo Corrêa sinalizava a aceitação dos acertos para assinatura dos contratos. Esses acertos eram possíveis porque os projetos básicos eram muito ruins, o que gerava distorções significativas de preços durante a execução das obras. “Ou seja, pelos projetos serem ruins havia a necessidade de ‘ajustes’ na execução dos contratos permitindo as oportunidades de ‘acertos’”, destacou Covas.
O vice-presidente da CPI, deputado Antonio Imbassahy (BA), acredita que a manipulação dos projetos confirma que havia um comando político maior por trás do esquema. “Ficou claro que a organização tinha um comando político, pois os projetos eram apresentados pela diretoria sem que tivessem sequer uma conotação mínima de elaboração e isso era o que facilitava os aditivos e toda essa marmelada que aconteceu”, avaliou o tucano logo após o depoimento. Na avaliação de Imbassahy, as investigações levarão em breve a esse comando. Segundo ele, o petrolão tinha pelo menos um grande comandante ainda não revelado.
O deputado João Gualberto (BA) disse desconfiar de que Eduardo Leite não tenha falado somente a verdade. O tucano afirma não acreditar na declaração do executivo de que desconhecia um comandante da organização e de que não lembra quem o apresentou a João Vaccari Neto. Na avaliação do tucano, há uma possibilidade de o esquema ter ligação com o ex-presidente da Petrobras Sérgio Gabrielli e até mesmo com Lula e Dilma.
Pouco antes das colocações de Gualberto, o depoente chegou a chorar ao ser lembrado dos filhos. “O senhor chora quando falam em seu filho, mas não sabe o que é pobreza e nem o que o povo brasileiro sofre. O choro do senhor é muito pouco para aquele povo que não tem hospital de madrugada e não tem educação para seus filhos exatamente por causa de gente como vocês, governantes e empresários corruptos”, disse o tucano, ao cobrar explicações sobre um possível comando maior do esquema de corrupção.
Segundo Eduardo Leite, “a precisão de orçamento impede qualquer ilícito”. Mas não era o que ocorria na Petrobras. Segundo relatou à CPI, a propina era uma condição para que as empresas mantivessem contratos com a estatal. Caso contrário, eram submetidas a penalidades. “Um tratamento não adequado, ou sem a velocidade necessária”, disse o executivo em resposta a questionamento do deputado Delegado Waldir (GO).
Como informou Eduardo Leite, os ex-diretores da Petrobras Paulo Roberto Costa e Renato Duque trataram diretamente com ele sobre pagamento de propinas. Disse ainda ter conhecido o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, o ex-deputado José Janene, o doleiro Alberto Youssef e o executivo Júlio Camargo.
Ele afirmou que Vaccari propôs que a Camargo Corrêa quitasse débitos referentes ao pagamento de propinas na estatal por meio de doações oficiais ao partido. Ainda de acordo com o depoente, a Petrobras continua a pagar sobrepreço relativo ao valor de propina nos contratos feitos com as empresas acusadas de formação de cartel. Os valores relativos ao pagamento de propina eram de 2% sobre os contratos. Esse percentual seria acrescido nas propostas da Camargo Corrêa à Petrobras. Metade do montante era destinada à diretoria de Abastecimento, ocupada por Paulo Roberto Costa, e a outra metade para a diretoria de Serviços, ocupada por Renato Duque.
Segundo ele, a construtora pagou R$ 110 milhões em propina (R$ 47 milhões para Costa e R$ 63 milhões para Duque). O depoente apontou o PT como beneficiário do pagamento de propina à diretoria de Serviços da Petrobras em pelo menos três ocasiões. Ainda segundo ele, o esquema de corrupção na estatal não se limitava ao envolvimento de diretores e funcionários de alto nível da empresa. Ele confirmou que outros funcionários, de nível mais baixo na hierarquia, também participavam do esquema.
Na avaliação do deputado Izalci (DF), os projetos da Petrobras já eram pensados de forma a beneficiar o pagamento de propinas que, por vezes, alimentaram partidos políticos, como o PT. “A Petrobras aceitava propostas com valor até 20% acima. Na medida que os empresários sabiam com antecedência quais empresas iam participar, eles faziam um jogo e definiam o vencedor. Portanto, havia sempre um [prévio] superfaturamento, pois 20% em contratos de bilhões são muita coisa”, alertou. Para o tucano, os tentáculos da organização criminosa são ainda maiores e logo serão revelados.
(Reportagem: Djan Moreno/ Fotos: Luis Macedo / Câmara dos Deputados/ Áudio: Hélio Ricardo)
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